CAPÍTULO 02

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    Ligações não são exatamente comuns, mas também não chegam a ser algo super raro também. Predestinações acontecem quando uma espécie de força invisível liga um alfa à um ômega, de modo com que os dois sejam dependentes mentalmente um do outro de uma forma tão poderosa quanto fisicamente, onde apenas um pode nutrir as necessidades sexuais do outro. Séculos atrás esse tipo de ligação era absurdamente venerada, mas hoje em dia se tornou algo normal para o cotidiano. 

     A ligação geralmente acontece entre jovens, no auge da sua libido e do desejo. O vínculo é absurdamente poderoso, mas pode se tornar quase nulo caso as duas pessoas não mantenham contato e tomem bastante supressores, mas ele nunca, NUNCA, vai desaparecer por completo.

    Eu sempre morri de medo disso. De ser ligado à uma pessoa que sequer conheço e que provavelmente iria achar que seria meu dono a partir dalí. Sei que alguns ômegas desejam isso desde sempre, mas é estranho pra caramba querer se entregar totalmente a uma pessoa que talvez nunca viram antes, que pode ser muito bem um sociopata, ou um alfa bruto e nojento que pode querer espanca-lo caso o ômega não aceite isso. Sempre soube que isso era uma espécie de sorteio do mero acaso em que todos participam, mas poucos são escolhidos, então tentei me tranquilizar e me agarrar ao fato de que jamais aconteceria comigo.

    MAS AGORA ESTÁ ACONTECENDO!!! Tem alguém na minha cabeça e eu simplesmente não sei o que fazer!!

    Assim que entro no banheiro, quase choro de alívio ao perceber que ele está completamente vazio, então corro em direção a uma das cabines com portas e me tranco de dentro dela. Sento em cima da tampa do vaso e tento me acalmar, inspirando e expirando fundo várias vezes — agradecendo internamente por o único cheiro presente no lugar ser o de detergente de pinho —. Os meus dedos estão trêmulos e os pelos da minha nuca estão eriçados, como se o hálito de alguém os estivesse tocando.

    Será que se eu simplesmente ignorar essa ligação ela vai sumir com o tempo?? A presença na minha mente está mais forte do que nunca, me fazendo morder o lábio e fechar os olhos com força, retirando os óculos antes que eles caiam do meu rosto.

    Longos segundos de passam e eu estou prestes a sair da cabine para ir embora, mas é quando ouço passos silenciosos de alguém se aproximando rapidamente. Travo no lugar, sem sequer respirar direito, esperando passar despercebido sem fazer nenhum som.

     — Eu sei que você tá aqui. — Uma voz masculina e levemente rouca diz mais perto do que eu imaginei que estaria, arrancando um gritinho de susto de mim, o que entrega a exata cabine onde estou. O alfa solta um grunhido e dá mais alguns passos até ficar de frente para a porta.

     — V-vai embora!! — Exclamo, tentando soar ameaçador, embora provavelmente só tenha soado assustado. Eu volto a sentar na tampa do vaso para ficar o mais longe possível da porta, e ao olhar por debaixo dela, consigo ver dois coturnos pretos lustrosos e enormes.

     — Qual é, só quero conversar. Você tá sentindo isso na sua cabeça também, não é? Nós estamos ligados!! — Ele diz com um voz repleta de entusiasmo, dando uma série de batidinhas rápidas na porta e pouco se importando por eu ser UM ômega, e não UMA ômega. O desconhecido coloca as mãos em cima da porta, que é alta pra caramba, de modo com que seus dedos longos e bronzeados entrem no meu campo de visão.

     — N-não quero falar com ninguém! Vai embora!! — continuo, tentando tirar o meu celular do bolso  para ligar para alguém, mas é aí que lembro que não tenho ninguém para ligar.

    — Por favor, só quero...

     — você não escutou o que ele disse? MEU predestinado não quer falar com você, cara. — Uma segunda voz masculina interrompe o alfa, enquanto passos apressados de outra pessoa entrando no banheiro ecoam pelo lugar. Uma segunda presença sobrenaturalmente forte toma conta da minha cabeça, me fazendo gemer baixinho com a súbita onda de náuseas que toma conta de mim, mas que vai embora tão rápido quanto chegou, deixando para trás apenas aquela sensação esquisita na minha cabeça.

    — Como assim SEU predestinado? Ele é o MEU predestinado. — O de coturnos rosna, virando para a direita e provavelmente ficando de frente para o outro alfa, que deu mais alguns passos para a frente e ficou cara a cara com ele, de modo com que um par de tênis esportivos de solado alto também entrassem no meu campo de visão. Eu tenho a vaga sensação de que já conheço essas duas vozes, mas simplesmente não consigo lembrar de onde.

     — P-por favor... Vão embora... — Soltou um grunhido e coloco os óculos de volta no rosto, sentindo meu corpo inteiro formigar sem parar e um zumbido ecoar pelos meus ouvidos. Fecho os olhos com força e tento me concentrar no que estão fazendo lá fora, mas minha cabeça simplesmente está entrando em curto circuito, me deixando zonzo e desorientado.

     Acho que demora alguns segundos para os meus neurônios voltarem ao normal e eu finalmente volte a controlar minha cabeça, me fazendo perceber pela primeira vez o som de socos sendo desferidos e xingamentos exclamados. Os dois alfas parecem estar brigando de forma brutal lá fora, rolando pelo chão do banheiro e se chocando contra a porta das outras cabines.

     — PAREM C-COM ISSO AGORA!! —Rosno, abrindo a porta da cabine e sentindo o meu coração à mil por hora, quase saindo pela boca. Minha cabeça está latejando sem parar, mas a presença esquisita na minha mente parece estar mais calma, como se estivesse se fundindo e entranhando de forma definitiva nos meus neurônios.

     Meu olhar recai sobre os dois rapazes enormes lutando no canto do banheiro. Eu fico completamente atônito ao perceber quem são: Tyler River e Kaic Torres. Os dois alfas mais populares desse maldito colégio. Eles param de brigar assim que percebem que eu já não estou mais trancado dentro da cabine e sim aqui fora, olhando para a esquerda e focando seus olhos diretamente em mim.

     — Puta que pariu... — Tyler exclama, arregalando levemente seus olhos acinzentados ao me encarar de cima à baixo. Ele foi o primeiro que estava me perseguindo, já que está vestido da cabeça aos pés de preto, com os coturnos escuros.

     — Ele é lindo. — Kaic completou a frase, ainda com às mãos ao redor do pescoço do outro, que estava preso debaixo do seu corpo.
   

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DOIS ALFAS E EU [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora