Eu já tive uma família. Um emprego. Alegria. Mas perdi tudo isso. Uma tragédia familiar, como a morte de um filho, é demais para qualquer um. Minha esposa não resistiu a esse golpe. E me deixou. Eu me culpo todos os dias. Eu deveria ter ficado ao lado dela. Dando apoio. Suporte. Mas não consegui. A morte. Sempre ela. Tocando tudo que eu amo. Tudo que é importante para mim.
- A morte realmente acaba tocando tudo...e isso é realmente triste. E desesperador, se você pensar demais. Mas você a tem enfrentado de frente. Isso é alguma coisa não é?
Uma voz feminina soa na minha cabeça. De onde ela veio?
Eu então percebo que estou mais uma vez em meu quarto. Eu não tive irmãos. Meus pais se foram. Também meu avô. Meu filho...meu filho também se foi. E minha esposa...me deixou. Por isso sozinho nesse quarto. A luz apagada...é dia, mas está escuro. Eu acho que deveria estar no trabalho. Ensinando aquelas crianças. Mas faltei de novo. Que péssimo professor eu sou. Vou acabar sendo demitido.
- Você carrega uma grande dor. E ainda assim consegue olhar para a vida com alegria.
Essa voz...sim. Eu reconheço agora. É Faye. A Lumineraphox. Uma linda raposa de pelagem branca e olhinhos azuis penetrantes. Eu a vejo parada na porta do meu quarto. É estranho vê-la aqui. Ela caminha até mim e então salta para meu colo, se aninhando. Eu coço suas orelhas e aliso seu pelo. Isso faz com que eu me sinta melhor.
- Você realmente era um humano. - Ela diz.
- Eu disse, não foi?
Faye fecha os olhos enquanto eu a acaricio. Um humano solitário, no momento mais escuro da sua vida acariciando uma criatura fantástica. Uma cena e tanto.
- Como você superou essa dor? Você a superou?
- Sim. Com o tempo. Com ajuda.
Eu olho para a escrivaninha, em canto do quarto. Tem um livro preto lá.
- Ajuda...ajuda é importante.
- É sim. Para mim foi fundamental. As vezes minha mente me traz de volta para cá. Mas construí alicerces poderosos. Eu aprendi a lidar com a dor. Ela não se vai totalmente. Mas tudo bem.
- Então...então como foi que você...você sabe...
- Que eu morri? Ah, não teve relação com isso. Foi um acaso. Algo estúpido. Um caminhão. Uma falta de atenção. E aí... Aí eu era um macaco.
- Entendo. De alguma forma isso soa melhor. Por um momento eu pensei que você...bem, em alguns momentos da minha vida eu também pensei em..
- Eu pensei nisso também. Mas como eu disse, eu tive ajuda. De Deus. De pessoas. Amigos. E de profissionais. E reaprendi a olhar a vida do jeito certo.
- Eu acho que também preciso de ajuda.
- Tudo bem. Eu estou aqui por você.
- Obrigada - ela diz, saindo do meu colo. - Vamos. Tenho algo para mostrar também.
Eu me levanto. É estranho. Acho que me adaptei a ter o corpo de um macaco. Ser um humano de novo, parecer tão alto.
-- Você pode mudar se quiser. Basta querer.
GePeTo aparece. De alguma forma ele parece mais amigável.
- O que é essa coisa? Ele se parece com você...bem, se parece como você deveria parecer.
Hum? Ela pode ver GePeTo. Isso é novo. Esse macaco flutuante que me segue por todos os lados é uma espécie de projeção da minha mente. Acho que faz sentido que Faye possa vê -lo, consideramos que estamos dentro da minha cabeça.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Hue: Um brasileiro renasce como um macaco em um mundo de fantasia(ISEKAI)
FantasyQuando Hue morreu, ele reencarnou em um mundo de fantasia. Mas não como um herói, e sim como um adorável macaquinho. Talvez esse inicio de história lembre um certo slime...Mas bem, é isso que brasileiros fazem. Pegam algo que os estrangeiros criaram...