Capítulo 6

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"E agora que sou adulta

Tenho medo de fantasmas

As lembranças parecem armas

E agora que eu sei

Eu gostaria que você tivesse me deixado imaginando."

Taylor Swift

Um trauma não é algo do qual a gente se livra depois que cresce. Pode passar todo o tempo do mundo, mas algumas feridas nunca param de sangrar, até mesmo depois de virarem cicatrizes.

As lembranças são como fantasmas me perseguindo ao longo desses anos. Eu nunca consegui superar as coisas que vivi em minha adolescência e provavelmente nunca irei. Estou marcada para sempre.

É engraçado como nunca nos damos conta de que estamos em queda livre, até ser tarde demais. Quando percebemos, já estamos esmagados no chão.

Como eu poderia imaginar que algo tão bom poderia se transformar em um pesadelo? Como, no auge da adolescência, prestes a completar quinze anos, eu teria suspeitado que viver um amor poderia arruinar a minha vida? Ora, os filmes me ensinaram exatamente o contrário. Eu achava que o amor era a única coisa que poderia me salvar.

Mas então me lembrei de O Morro dos Ventos Uivantes, meu eterno clássico favorito. O amor de Catherine e Heathcliff não era normal, beirava a obsessão e só causou danos a eles e a quem estava ao redor. Isso significava que nem todo amor era necessariamente bom e salvador. Porém, eu estava cega demais para refletir sobre isso. Estava cega pela minha paixão por Ivy.

Quarta-feira, Ivy teve uma sugestão ousada: me ensinar a dirigir numa estrada de terra nos limites da floresta de Smallville, onde ninguém nos veria. Ainda bem, porque eu nem tinha completado quinze anos. Isso poderia dar problema para ela. Mas aparentemente minha namorada estava tão apaixonada que também não enxergava os perigos iminentes.

Nos enfiamos em seu carro e fomos cantando no rádio no último volume músicas de rock 'n' roll. De Kiss a Led Zeppelin, começamos a bater o cabelo ao som de Master of Puppets e eu a fiz prometer que um dia me levaria num bar que tivesse apresentação de rock ou qualquer merda semelhante. Claro que Ivy me olhou com seu sorriso mais apaixonado e prometeu que sim. Eu desconfio que naquela época, se eu tivesse lhe pedido o céu e os oceanos, ela teria dado um jeito de consegui-los para mim.

— Ok, vamos lá, eu vou te ensinar agora.

Havíamos enfim chegado na tal estrada e trocamos de lugar. Eu estava no banco de motorista com as mãos trêmulas sobre o volante.

— Chave na ignição, dê partida no carro.

Obedeci.

— Temos os pedais de acelerar, de frear e da embreagem. E temos as marchas, que parecem difíceis, mas são fáceis. Você tem que dar a primeira marcha para poder sair com o carro.

Confesso que eu era ansiosa e ficava confusa fácil nas explicações quando me sentia nervosa. Eu não prestava muita atenção no que Ivy estava falando, mas era sem querer. Porém, tentei focar, principalmente quando ela tocou meu ombro, se inclinando.

— Respira fundo e relaxa, garota. Não é um bicho de sete cabeças, ok? E não tem ninguém aqui além da gente. Só ouvir o que eu estou te dizendo e vai conseguir. Coloque o pé sutilmente nos pedais da embreagem e do acelerador.

Obedeci seus comandos e de repente o carro começou a andar bem devagar; eu dei um gritinho de espanto e a encarei num misto de alegria enervante com um assombro inexplicável. Dirigir era uma descoberta e tanto. Uma das coisas "adultas" que eu sonhava em aprender.

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