Capítulo 13

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"Pensei ter encontrado um caminho

Pensei ter encontrado uma saída (encontrado)

Mas você nunca se vai (nunca se vai)

Então eu acho que tenho que ficar agora"

Billie Eilish

HARLEY

Eu não queria magoar Ivy, essa não era minha intenção, mas eu estava realmente passando por um período estranho, provavelmente algo que todos os adolescentes experimentam. Os hormônios me confundiam. À beira dos dezesseis, eu me sentia pressionada por causa do desempenho escolar - que tinha de ser excelente se eu quisesse ir à uma universidade boa, me sentia pressionada em casa por causa dos problemas de saúde cada vez mais constantes do meu irmão, que estavam gerando atritos entre os meus pais e me deixando com medo que eles viessem a se separar. E, para piorar, eu tinha que lidar com os destemperos de uma namorada com mais do que o dobro da minha idade, que parecia uma menina mimada que não sabia ouvir não.

Tudo isso me deixou extremamente confusa e sobrecarregada, portanto eu precisava de certo afastamento. Não por não querer, não amar ou desejar mais Ivy. Talvez justamente pelo contrário. Um tempo sozinha para me reorganizar e entender todas as minhas questões poderia fazer bem a nós como um casal, pensei nisso. Mas pelo visto nós não pensávamos igual. Prova disso foi a atitude extremamente estranha que ela teve de me seguir depois da escola e quase atropelar Eliza por puro ciúmes. Ela poderia negar, eu podia tentar acreditar em sua mentira, mas no fundo eu sabia que Ivy tentou atropelá-la e desistiu no último momento por alguma razão que não faço ideia.

Mas senti que peguei pesado e fiquei culpada. Isso sempre me ocorria, mesmo quando eu estava com a razão. Culpa. Ivy tinha a capacidade de despertar culpa em mim em qualquer situação - mais um sinal do quão tóxica ela era, e nossa relação também. O que eu poderia fazer? Era apenas uma adolescente idiota, imatura e apaixonada. Estava perdida, arruinada. E nem me dava conta disso ainda...

Tentei falar com Ivy logo depois de dizer não ao seu convite, mas ela não respondeu minhas mensagens nem atendeu minhas ligações. No dia seguinte foi igual. Na sexta-feira, eu não aguentei. Estávamos há quase três dias sem nos vermos nem nos falarmos. Ela tinha desaparecido, não indo nem mesmo à minha casa para visitar minha mãe. Eu estava com medo. Medo de perdê-la. Então tomei a iniciativa de ir à noite bater à sua porta. Meu pai estava viajando (isso acontecia com frequência aquela altura, um sinal claro do divórcio chegando...) e minha mãe, como sempre, atenta demais em meu irmão doente para se preocupar comigo.

Demorou uma eternidade até Ivy abrir a porta, e quando o fez, estava com uma taça de vinho em mãos, os cabelos ruivos presos num rabo de cavalo, usava moletom, mas ainda assim soava elegante, com suas unhas pintadas de preto. Seu rosto todo estava impassível e eu não enxerguei nada em seus olhos. Ela não parecia feliz, empolgada, excitada, apaixonada. Era como se minha presença ali não despertasse nada em Ivy e isso me deixou desnorteada.

— Será que eu posso entrar?

Ela apenas deu espaço para que eu o fizesse.

Segui para dentro, parei no meio da sala, esfreguei minhas mãos e notei que elas suavam.

Ivy estava ouvindo música clássica, tocava numa altura ambiente.

— O que você quer aqui, Harley? — perguntou, dando a volta pelo balcão de sua cozinha. Pelo cheiro gostoso, devia estar preparando macarrão. — Não deveria estar estudando ou fazendo qualquer outra coisa mais importante?

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