"Se ela é um assassino em série, então o que de pior
Que pode acontecer a uma garota que já está machucada?
Eu já estou machucada
Se ela é tão ruim quanto dizem, então acho que estou amaldiçoada
Olhando nos olhos dela, acho que ela já está machucado
Ela já está machucado."
Lana del Rey
HARLEY
Naquela quarta-feira de manhã, dia primeiro novembro, eu acordei devastada.
Estava tão machucada e dolorida que mal conseguia andar, tinha que mancar. Não conseguia me tocar embaixo para ver, e ainda por cima estava sangrando como se houvesse menstruado. Era terrível e humilhante em tantos níveis que eu não sabia expressar. Mas aguentei firme ao longo da noite, dormindo nos braços da minha agressora, que também era o amor da minha vida.
Levantei decidida a partir. Em todos os sentidos. Alguma coisa havia mudado em mim na noite anterior, e eu sabia que independente das justificativas, nada que Ivy dissesse poderia fazer o tempo voltar e impedi-la de me violentar daquela forma. Eu sabia que depois do que aconteceu, eu não seria mais a mesma, nem a nossa relação. E eu tinha medo do que essa mudança significava.
Eu não queria perdê-la. Francamente achava que ia morrer caso Ivy saísse da minha vida. Não tinha um Universo onde eu concebesse existir sem que ela fizesse parte dele, sem que eu girasse ao seu redor. Ainda assim, eu estava determinada a ir embora, a me posicionar, a mostrar que não gostei nem aceitei o horror que vivi na noite anterior. Eu precisava que Pamela entendesse a gravidade de suas ações, e talvez tentasse corrigir seus erros.
Quando Ivy me pediu para sentar no sofá, decidida a me contar quem ela era, tive esperanças que eu conseguiria o que tanto almejava.
Me assustei quando, do nada, ela arrancou a camisola, ficando nua na minha frente. Não entendi bem o que aquilo significava a principio e tive medo que tentasse alguma coisa sexual, mas estava claro que Ivy não tinha a menor intenção de me tocar novamente tão cedo.
Ela se virou de costas e eu pude ver claramente na luz do dia o caos que suas costas eram. Não havia uma parte sem cicatriz. E nenhuma delas era pequena, leve ou delicada. Eram todas terríveis, enormes, assustadoras, me fazendo imaginar os piores cenários para alguém conseguir adquiri-las.
— Meu Deus... — senti meus olhos marejarem só com minha imaginação.
Ivy voltou a vestir sua camisola e ficou ali, de pé, na minha frente.
— Essas cicatrizes que você viu foram das surras que eu tomei quando criança. A minha mãe era uma prostituta viciada em todas as drogas possíveis, e ela me surrava com um chicote de couro toda vez que eu me comportava mal. Na verdade, eu nem podia respirar perto dela que era considerado como um "mau comportamento". — sorriu com tristeza e deboche, tentando não vacilar, mas eu vi em seus olhos que as lembranças lhe assombravam. — Às vezes ela deixava que seus clientes me batessem também. Eles pagavam a mais só pelo prazer de surrar um "garotinho aviadado", como gostavam de dizer. Acho que me batiam para expurgar seus demônios, porque a vida deles devia ser mesmo uma merda... mas também faziam isso porque eram sádicos, homofóbicos e não entendiam o que eu era. Enfim.
Minha mãe morreu quando eu tinha uns oito anos, eu a encontrei morta em cima de uma poça de vômito. Overdose acidental. Fui enviada para o sistema logo em seguida, porque não tinha outra família. Nunca conheci meu pai, nem tenho registro dele nos meus documentos. Fiquei cinco anos vivendo numa casa pertencente a um casal insano. John tinha sessenta e dois anos, e eu aposto que ele abusou de todas as garotas que passaram por lá. Só não aconteceu comigo porque ele me enxergava igual aos outros: como um homem. Eu escapei dele, mas não de sua esposa. Beth era uma velha rechonchuda, de peitos enormes, as bochechas bem rosadas, tinha uma aparência amedrontadora. Você podia ver na cara dela que a mulher não tinha a menor vocação para ser mãe. Mas Beth enganava bem, especialmente quando recebia visitas da assistência social. Ela era ótima cozinheira e gentil quando queria. No começo, eu pensei que gostasse de mim. Ela me dava os maiores pedaços de frango, preparava coisas especiais para eu comer e lia histórias para mim antes de dormir. Duas semanas depois que cheguei à casa deles, os abusos começaram.
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All too Well
FanfictionPamela Isley é uma mulher misteriosa que se mudou para Smallville em busca de paz, fugindo de um passado truculento. Ela está conformada com seu destino solitário e vazio até virar amiga íntima de seus vizinhos, os Quinn. Quando conhece a filha dele...