Capítulo 15

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"Eu teria morrido pelos seus pecados

Em vez disso, eu morri por dentro

E você merece a prisão, mas não vai ser condenado

Você vai se esgueirar por caixas de entrada e passar pelo meio das grades."

Taylor Swift

Durante esses sete anos em que fui obrigada a me separar de Pamela Isley, minha vida mudou drasticamente. Meu pai infartou no terceiro ano e depois disso sua saúde não foi mais a mesma, obrigando-o a se aposentar cedo. Ele encontrou uma companheira que cuidou dele até seu falecimento, no fim do quarto ano.

Mamãe nunca mais voltou ao normal após a morte de Clark e, quando soube que eu, sua única filha restante, passou quase três anos ininterruptos tendo um caso com sua vizinha e melhor amiga da mesma idade que ela, entrou em surto. Literalmente.

Drew fez um escândalo no tribunal, precisou ser arrastada e ficou um tempo internada - isso antes mesmo que eu tentasse contra minha própria vida. Quando chegou a minha vez de surtar, a coisa degringolou de vez, porque ela não sabia como lidar com a situação. Ela, que perdeu o filho favorito ainda criança, o marido que tanto amou desde a adolescência e a melhor amiga que nunca teve realmente. Como Drew poderia lidar com uma filha suicida que foi abusada por uma "pedófila" debaixo de seus olhos? O peso da culpa certamente não permitiria. Então nos afastamos. Fiquei por conta própria.

Como eu imaginava, não fui à universidade. E nem foi por falta de dinheiro. Surpreendentemente meu pai deixou uma boa quantia guardada, além do valor da casa de Smallville que Drew e eu vendemos e dividimos quando decidimos nos mudar para Gotham - uma bem longe da outra, aliás. Fora isso, também herdei fundo de pensão, que inclusive está para acabar. Mas nunca fui burra nem preguiçosa, então desde que vim para Gotham aprendi a me virar e já tive vários empregos. Todos de merda, é claro. E nenhum duradouro, pois não sei criar vínculos nem raízes. Talvez isso seja mais uma das "dádivas" com as quais Pamela me presenteou ao me traumatizar. Ela fez com que eu ficasse igual a ela nesse sentido. Sem lar.

Mas antes de chegar no ponto que estou agora, tive mais uma reviravolta ainda na adolescência. Se eu achava que tinha chegado no fundo do poço com a morte do meu irmão e o divórcio terrível dos meus pais, eu mal podia imaginar o que viria a seguir. O show de horrores que Ivy me apresentaria num total descontrole com a chegada de Jules.

Foi então assim que nós nos conhecemos...

Eu a vi no restaurante no dia em que fui jantar com Ivy depois de um longo período sem fazermos nada em público. Podia ser uma adolescente, mas não era estúpida. Vi a forma como Ivy ficou abalada ao encarar aquela garota mais velha que eu, esquisita à primeira vista. Ela tinha cabelos curtos e repicados, usava roupas largas, moletom. Tinha um ar mesmo de mais velha, de alguém que tinha sofrido e soava misteriosa. Pesquei essas coisas apenas naquela noite.

Nos dias seguintes, comecei a perceber que estava sendo seguida quando ia à escola ou a outros lugares, mas para a minha surpresa quem estava em meu encalço não era Ivy, que aparentemente havia aprendido a respeitar minha privacidade e não estava mais surtando de ciúmes desde a morte de Clark. Minha nova "stalker" era Jules.

Achei tudo muito esquisito. Ela vivia nas esquinas, se escondia atrás de árvores, usava boné bem abaixado para esconder o rosto, ficava dentro de um carro filmado do lado de fora da escola e quando notou que eu a vi pela primeira vez, disparou com o carro e demorou dois dias a retornar, posicionando-se um pouco mais longe, mas inutilmente, pois eu reconhecia o carro. Sabia que ela estava lá. Mas Jules não vinha até a mim, seja lá pelo motivo que fosse.

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