Capítulo 12

202 17 6
                                    


"A outra mulher

Vai sempre chorar até dormir

A outra mulher

Nunca terá o seu amor para manter

E com o passar dos anos

A outra mulher

Vai passar a vida sozinha

Sozinha."

Lana del Rey

HARLEY

Quase uma década depois, e eu ainda estou recolhendo os cacos.

O tempo passou de uma maneira implacável: rápido e finalizador, pondo em perspectiva diante de mim o fato de que nunca serei normal e que estou amaldiçoada a viver assim pelo resto dos meus dias. Sozinha e devastada. Paralelamente, passou incrivelmente lento. Às vezes fico encarando o relógio e até os segundos não me parecem passar na velocidade correta. Como se uma fenda tivesse sido criada no tempo espaço no momento em que nós nos separamos.

Ruptura abrupta. Ferida que nunca se fecha. Dor pulsante o tempo todo, que mal é disfarçada com anestesiadas baratas. Álcool, tarja preta, cigarro, masturbação. Há tantas opções disponíveis no mercado porém nenhuma surte efeito. O baque foi grande. Daqueles que você não se recupera mesmo com anos de fisioterapia. Pode até conseguir se levantar e dar alguns passos, mas sem muletas você vai cair. Rápido.

Não há um dia que eu não sinta sua falta.

Dizem que o tempo ameniza as coisas, mas em meu caso estou convicta de que é bem o contrário. Quanto mais os dias passam, mais eu me vejo paralisada por causa do meu passado que me assombra, tendo a certeza de que nunca vou superar nem seguir em frente.

E por falar em repetições...

Aqui estou eu novamente no consultório do Dr. Nick correndo em círculos. Estamos juntos há sete anos, desde que eu tentei me suicidar, logo depois do mundo desmoronar sobre a minha cabeça.

Seu consultório não mudou quase nada neste tempo. É uma sala espaçosa onde você pode optar por ficar numa poltrona diante dele ou simplesmente se jogar num sofá vintage de dois lugares. Eu sempre opto pelo sofá. E ele fica estoico em sua cadeira giratória, perto de uma mesa onde gosta de deixar sua caderneta para, vez ou outra, anotar uns rabiscos. Dr. Nick é um homem beirando os cinquenta anos, de barba cheia e grisalha, assim como os cabelos. Tem olhos azuis gentis e curiosos. Usa óculos. Se veste sempre de social. Eu o considero um ótimo psiquiatra, ainda que suas técnicas não tenham sido suficientes até hoje para me "curar".

- Está se aproximando o dia. - comenta de repente, irrompendo o longo silêncio que se fez entre nós.

Engulo em seco e encaro minhas mãos flácidas em meu colo. Eu sei ao que ele se refere, mas não quero falar sobre isso. Porque simplesmente não sei o que dizer. Eu nunca sei, na verdade.

A terapia é uma coisa estranha. Você sabe que precisa falar, mas não sabe o quê. E quando menos espera, está vomitando uma verborragia quase delirante afim de tentar exprimir tantas emoções insanas que vem guardando a sete chaves dentro de si mesmo. E por mais estranho que pareça falar tantas coisas íntimas e loucas para um estranho, isso traz alívio e eventualmente algum benefício.

- Como se sente em relação a isso?

Eu o encaro.

- Em relação ao quê? - respondo meio ríspida, como se eu não soubesse.

All too WellOnde histórias criam vida. Descubra agora