Capítulo 8

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"Longas foram as noites

De quando meus dias giravam em torno e você

Contando meus passos

Rezando para o chão não desabar mais uma vez

E minha mãe me acusou de ter perdido minha cabeça

Mas eu jurei que estava bem

Você pintou meu céu de azul

E voltou para transformá-lo em chuva

E eu vivia no seu jogo de xadrez

Mas você mudava as regras todos os dias

Me perguntando qual versão sua

Eu pegaria no telefone."

Taylor Swift

HARLEY

Início de setembro e nós fomos ao cinema finalmente assistir Barbie.

Mesmo depois da estreia, no meio de julho, surpreendentemente havia muitas pessoas na sessão do único cinema de Smallville. Mulheres de todas as idades, mas principalmente jovens garotas como eu. Todas vestidas a caráter, pelo menos com uma peça cor de rosa.

Eu não achava que gostasse de rosa até me ver encantada pela cor e a variação de seus tons, por isso fiz minha mãe comprar uma saia rosa choque, que eu combinei com uma blusa rosa bebê. Coloquei meias da mesma cor com meu all star branco - a única coisa não rosa. Ivy riu de mim, me acusando de ser adorável e apesar dela detestar rosa e ser uma mulher mais velha e classuda, eu lhe obriguei a pintar as unhas da mesma cor que as minhas: "puro glamour", um rosa bem chamativo em contraste a cor pálida de nossas peles - especialmente a dela.

Ivy abandonou o visual de empresária rica de meia idade e botou um jeans claro, uma camisa branca e uma jaqueta cor de rosa que comprou apenas para o evento sem eu saber, me surpreendendo positivamente. Eu amava a sua disposição em querer sempre me agradar, mesmo com as menores coisas. Significava que ela se importava comigo, ou era assim que eu, uma garota tola de catorze anos, interpretava seus gestos.

Não querendo defendê-la nem nada depois de tantos anos onde pude repassar essa história toda na minha cabeça e chegar na conclusão óbvia de que fui abusada por uma pessoa doente, mas eu realmente acredito que Ivy me amava. Ao menos à sua maneira, nos seus termos, dentro da sua compreensão doentia do amor. E eu, que não sabia nada sobre romance e sexualidade, também a amei mais do que tudo no Universo. De uma forma que nunca mais fui capaz de amar ninguém.

Nós sentamos em poltronas na última fileira, bem no topo e por sorte ou destino, ninguém sentou naquela fileira nem na fileira abaixo da nossa. Nossa sessão não estava lotada, pois aquela altura a cidade toda já deveria ter visto o filme. Só estavam ali fãs que queriam rever a obra de arte da Greta Gerwig.

O filme não havia nem chegado aos vinte minutos e já tínhamos comido todo o balde gigantesco de pipoca que Ivy nos comprou. Inclusive ele era personalizado da Barbie, mais uma das tantas coisas com as quais fui presenteada por ela na época.

Como não tinha ninguém para nos observar, eu agarrei seu braço e fiquei deitada em seu ombro quase que o filme todo enquanto gargalhamos e às vezes choramos. O filme era incrível, lindo em todos os sentidos, um visual deslumbrante, uma trilha sonora muito boa e atuações memoráveis, e apesar da classificação ser de 12 anos e não conter violência ou coisas tão pesadas, a temática de Barbie mexeu comigo de um jeito estranho, tanto que chorei em diversas cenas e quando os créditos levantaram, eu estava tomada por um mal estar psíquico que não saberia descrever. Acho que foi a primeira vez na vida que o peso de ser mulher me atingiu. Eu refleti sobre coisas que até então não passavam na minha cabeça, ao menos não daquela forma.

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