03 - Shopping.

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— Vem comer, Lali. — Nicha chamou a irmã.

Lalisa se encontrava na sala tocando em seu piano uma de suas músicas favoritas: La campanella.

Músicas clássicas acalmavam a menina.
Passava horas tocando Morzat, Beethoven,
Paganini, Rimsky korsakov, Tchaikovsky,
Vivaldi e outros artistas.

— Lalisa?... Vem comer! — A irmã repetiu novamente e sentou ao seu lado.

A mais velha suspirou. Lalisa não podia ficar sem comer, ela não sabia diferenciar muito seus sentimentos e entendê-los então costumava ficar estressada, nervosa e agressiva quando estava com fome.

— Não está com fome? — Minnie insistiu.

Lalisa apenas finalizou sua música e levantou do banquinho acolchoado caminhando para a cozinha.

— Você é cheia de surpresas. —Nicha comentou mais para sí mesma e seguiu atrás da irmã mais nova em direção a cozinha.

Após se acomodar, Minnie serviu seu prato e o de sua irmã.

— Mamãe me mandou fazer algo bem gostoso para você, fiz seu prato favorito!

[ ... ]

Depois do almoço, Nicha resolveu que seria uma boa ideia sair um pouco de casa com Lisa.

Foram para um shopping. Era um dia de segunda às três da tarde, Nicha sabia que não iria estar lotado, por isso levou a irmá para lá.

— Fique do meu lado. — Sussurrou para a irmã mais nova , antes de entrar no shopping.

Tinha algumas pessoas andando e subindo as escadas rolantes. Não estava lotado mas estava longe de ter poucas pessoas. Minnie respirou fundo e andou ao lado da menor.

-Que tal a gente ir na Livraria? Sei que gosta de livros.

—  Sei que gosta de livros.

A Tailandesa mais velha sorriu com ternura.

As duas andaram juntas até a escada rolante e Lalisa parou alguns passos antes de colocar o pé na linha amarela que tinha no chão.

— O que foi, Lali?

— Amarelo Canário. — Apontou para a linha no chão.

— Você entende bem de cores, não é?

Mas a mais nova não se moveu. Preferiu apreciar a listra amarela no chão com bastante atenção.

Minnie então guiou sua irmã até o elevador, torcendo para que não estivesse lotado. E não estava tanto, tinha apenas três pessoas — um casal e seu bebê. A mais velha apertou o botão do terceiro andar e esperou a porta fechar.

Lalisa passou a mão por cima de todos os botões do elevador, ganhando olhares tortos do casal.

— Lalisa, não faça isso de novo, ok? — Falou mansa.

Lalisa estava mais interessada em olhar os números no painel que mudavam de um para o outro conforme o elevador subia.

Quando a porta se abriu, entraram mais cinco pessoas, o que já foi o bastante para Lisa agarrar o braço da irmã.

— Calma — Murmurou baixinho para a mais nova. — Eu estou aqui com você.

O bebê começou a chorar só deixando Lalisa ainda mais nervosa que reagiu colocando suas mãos nos ouvidos e apertou os olhos.

A mais velha deu graças a Deus quando a porta do elevador finalmente se abriu e puxou a irmã para fora.

— Lala, olha aqui para mim. Tá tudo bem agora!

Aos poucos, conseguiu convencê-la a abrir os olhos e se acalmar.

Entraram na loja e Lalisa logo abriu um grande sorriso ao ver um livro de seu interesse.

Não demorou para Lisa sair puxando a irmã pela mão e apontou para o livro enquanto sorria animada.

— "Psicologia das Cores"? — Minnie sorriu. — Você realmente gosta de cores.

A mais velha pegou o livro e levou até o caixa e o comprou. Sorria verdadeiramente ao ver a animação da irmã mais nova.

— Pronto, você conseguiu o que queria. Lembra o que a mamãe ensinou? O que falamos quando ganhamos algo?

— Me dá mais um. —Respondeu genuína.

Nicha riu e balançou a cabeça levando a irmã em silêncio para a praça de alimentação.

Manobal suspirou ao ver que ela estava
lotada.

— Tente manter a calma.

Sentaram em uma mesa, Minnie observou a garota ao seu lado ler atentamente seu novo livro.

Lalisa não estava confortável, muitas pessoas falando ao mesmo tempo e isso a incomodava.

Um grupo de amigos na mesa um pouco mais a frente, começaram a cantar uma música aleatória. Batucavam e cantavam alto.

Uma mulher deixou uma bandeia com um hambúrguer e batatinhas caírem no chão em frente da mesa das meninas.

Um menino fazia um escândalo no balcão do
Mcdonald's porque a mãe não comprou o lanche que vinha com a bonequinha da mulher-maravilha.

Lalisa não suportou, era informação demais para sua cabeça.

A garota então gritou. Começou a chorar. Nicha tentou a segurar para que não corresse, mas não foi tão rápida. Pelo menos conseguiu alcança-lá.

Lisa  se jogou no chão e arremessou seu livro na irmã. Ela esperneava e gritava sem parar.

Nicha manteve a calma, se a perdesse nunca conseguiria acalmar a irmã mais nova.

Já Lalisa puxava os próprios cabelos com uma mão e a outra batia em sua coxa.

Todos olhavam para as duas, alguns com um certo preconceito. Achavam ridícula uma garota tão grande se comportar como uma criança birrenta. Mas Nicha não se importava com isso, pelo menos não sentia vergonha.

Se a tailandesa não tirasse a mais nova dali, nunca conseguiria fazer sua crise passar.

A pegou no colo sem se importar com os socos em seu ombro ou os gritos estridentes e angustiados que faziam seus ouvidos zumbir.

Andou até o banheiro, e agradeceu à Deus por não ter ninguém no momento. Deixou a menor sentada no banco de mármore.

— Lalisa, calma...

Os gritos passaram, mas Lisa chorava sem parar e acertava socos na mais velha.

— Olha, você está nervosa porquê estava lotado e tinha muito barulho. Eu sei que isso é de mais pra você. — Se sentou ao lado da irmã. — Mas você não pode descontar isso nas outras pessoas, ok? — Abraçou o corpo trêmulo da mais nova. — Presta atenção, está tudo calmo agora! Do jeitinho que você gosta.

Em menos de vinte minutos, Lalisa já estava mais calma. Só precisava de um momento de silêncio.

— Desculpe, amor.  — Disse Minnie. —  Eu não sabia que hoje estava tão lotado. O que eles fazem aqui em plena às quatro da tarde de uma segunda-feira? Ninguém mais trabalha nesse país? — Bufou. — Vem, vamos voltar para casa.

Nicha só queria que sua irmã tivesse a vida mas normal possível. Queria que ela fosse a qualquer lugar sem que as pessoas olhassem torto para a menina.

Crayons | JenlisaOnde histórias criam vida. Descubra agora