O Sacrifício de Mariane

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Capítulo sete
O Sacrifício de Mariane

Abro meus olhos, ainda estou no chão, a biblioteca está vazia, encho meus pulmões com oxigênio como se eu tivesse ficado muito tempo sem ar. Ellan não voltou, a figura da assombração mortal aparece na minha cabeça, me levanto passando a mão no meu pescoço. Sinto como se estivessem me sufocando, mas não tem mais nada ali.

Me arrastando pelas paredes com as pernas bambas e visão turva, até chegar na porta e sair da biblioteca, nem me lembro o que fazia lá dentro, nem me lembro que horas são. Apenas andando pelos corredores com o apoio nas paredes, os funcionários me ignoravam quando eu passava e eu fingia que também não os via, até chegar no meu quarto e me trancar lá dentro. Escorreguei até o chão, o chão frio e me deitei, deixando as lágrimas de pavor e desespero vazarem dos meus olhos, não fazia a menor ideia do que havia acontecido, eu só sabia de uma coisa: aquilo foi real! Quem quer que seja aquela mulher, é real, foi tudo real, a possibilidade de eu estar morta era real.

Eu me acalmo um pouco e me levanto, secando as lágrimas do rosto e indo até o guarda roupa, abro a porta, o espelho pregado nela reflete minha imagem perfeita. “estou um caco” penso, não estou bonita porque a marca ainda está no meu pescoço, o que é só mais uma afirmação dizendo que tudo aquilo foi real e apenas isso.

Uma nova roupa está pendurada no cabide, parece até uma piada, mas tiro o vestido que estou a usar e visto o do cabide, um vestido preto longo, mangas longas até os pulsos e que tampam meu pescoço, não dá pra ver as marcas mais, mas eu sei que elas estão ali, o sentimento é frustante, me olho no espelho, parece que amadureci uns 20 anos, mas só estou apavorada com a situação. Solto meu cabelo, talvez assim disfarce meu pavor.

Saio do quarto, provavelmente é outro dia ou eles trocam as roupas do guarda roupa a qualquer momento para próxima vez que eu acordar.

Ando até pelos corredores, frustrada, mas sem demonstrar meu medo e frustração. Uma música suave toca, vindo do salão, provavelmente é a Vitrola antiga, é uma música mais leve, não que seja leve, mas ela me deixa leve, como se eu voasse pelo espaço.

Entro no salão, a música espalhada pelo ambiente se torna muito mais agradável, eu me vejo sozinha dançando em um local desconhecido após se atacado por um ser estranho. A Porta bate, minha ilusão acaba, dou um salto e olho atentamente para a porta. Mariane entra, ela me olha sorrindo, como se aprovasse minha dança.

— Você gostou?

Ela balança a cabeça, então lembro de que ela não vai me responder, relaxo a expressão por um tempo mas logo volto a sorrir.

— bom, eu gosto dessa música, e você? – ela afirma com a cabeça – ótimo, então dance comigo!

Puxo o corpo de Mariane junto ao meu, estamos muito perto uma da outra mas isso não me incomoda, segurando-a com uma mão em sua cintura e a outra segurando a mão dela, os olhos dela brilham com um qr ingênuo e fofo, contagia alegria. Ela sorri e pousa sua mão em meu ombro, eu visto preto e ela veste branco. Começamos a dançar, junto a música, o sorriso dela me encanta, ela não para de sorrir em nenhum momento e eu não tiro meus olhos dela, fiz questão de não errar um passo só para ver seu sorriso radiante. A música acaba, ainda estamos próximas, me deixo levar pelo momento, os olhos de Mariane são os mais lindos que já vi.

A porta se abre, Ellan entra junto com um criado, ele pega Mariane a força e a arrasta para fora do salão, a tirando de mim enquanto Ellan me envolve em seus braços frios. Consigo sentir a respiração calma de Ellan em minhas bochechas, não consigo entender o que acabou de acontecer, tudo o que eu quero é perguntar para onde ele a leva, tudo o que eu mais quero é correr até ela, estar perto dela, beijar ela. Ellan me aperta com mais força, leva um dos braços até meu pescoço e o segura firme, não me sufoca mas sua mão ainda está ali, sinto um nó na garganta e meu corpo inteiro gela.

— Me pergunto, se você gostaria de ver o que vai acontecer com Mariane...ou se você....gostaria de ir no lugar dela.

Ele me solta, saindo pela porta, não hesuto em seguir mesmo sen entender nada do que acontece, meus batimentos cardíacos aceleram e eu procuro respostas em lugares que sei não existirem.

Andamos por um tempo, ele para em frente a uma porta velha, com uma maçaneta redonda enferrujada.

—Já estava tudo pronto, eu não precisaria ter pego Mariane se ela já estivesse aqui...só teria que te buscar, mas ela insiste em dificultar tudo isso.

Ele suspira, ainda não digo nada, estou tentando entender o que acontece. Ele olha para mim e um sorriso bizarro surge em seu rosto, me fazendo estremecer.

— Querida, você aceita casar comigo?

Eu me assusto, eu não sei o que responder, o sorriso dele se fecha lentamente, seu olhar penetra no meu, não consigo se quer reagir.

—Relaxe, eu te amo tanto quanto você pode suportar! Mariane te espera aqui atrás.

As portas se abrem, ele me puxa e move meu rosto para eu olhar dentro do salão. Um altar, flores –algumas já secas –, bancos sujos e vazios, um padre, Mariane ajoelhada perante o altar, a aberração de mais cedo sentada no primeiro banco e um criado ao seu lado. Ellan me dá o braço, eu seguro e entro junto a ele, meu corpo treme por segundos mas não deixo transparecer meu medo, caminhamos até o altar, subimos e então o criado se levanta e anda até Mariane.

— Senhorita, você aceita casar com Ellan?

Não tem cerimônia? É só essa pergunta? Não tem cerimônia? Eu olho nos fundos dos olhos de Ellan.

— E se eu não aceitar?

—Ao invés de Mariane, você morre.

Ele fala isso exibindo um sorriso, olho para Mariane, ela me olha com pena, sorri e mexe os lábios, ela rasteja até mim e eu me abaixo e seguro em suas mãos, ninguém reage ou tebta impedir, só assistem e eu me sinto apresentando um circo. Ela me olha, sorrindo, e então mexe a boca tentando dizer algo. É quase impossível decifrar, nas quando entendo o que diz me levanto, olho para Ellan e digo:

— Eu aceito.

A olho de canto, seu olhar assustado se enche de lágrimas, seguro as minhas, não posso chorar agora. O criado pega uma espada que estava em cima do banco e corta a cabeça de Mariane, o sangue chega sujar o meu vestido e até ele. Mas as palavras de Mariane ainda soam em minha cabeça, sua boca dizia: “Eu sei que você vai me salvar.” Talvez ela tenha se iludido com algo irreal.

Me & The DevilOnde histórias criam vida. Descubra agora