Cicatriz

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Cicatriz
Capítulo dez

Estou olhando o teto, na esperança que Ellan não retorne, porém estou em seu quarto. Meu coração acelera com a ideia que Ellan pode entrar no quarto a qualquer momento, pior que isso, ainda estou aqui, despida, com a esperança que volte, esperando por “algo”. Torcendo que aconteça algo.

Que decepcionante da minha parte, querendo algo que eu sei que meu corpo quer por um momento, por diversão, por prazer momentâneo. Não posso negar que Ellan me gera aversão, mas também não nego que nesse momento eu quero sentir o calor do corpo dele. Suspiro, mordendo a bochecha interna, olhando para o meu vestido jogado no chão. Não penso muito antes de pegá-lo e sair dali, sentindo meu coração desacelerar enquanto vou até meu quarto, caminho a passos pesados, meu único desejo é que nenhum dos convidados de Ellan — que nem sequer gostam dele — não me vejam andando pelada pelo palácio.

Minha atenção é desviada de meus pensamentos após eu passar por um corredor, volto e espio. Ellan e a garota de cabelos ruivos, novamente juntos, ele novamente com aquele sorriso tosco nos lábios. Ele só sorriu para mim uma vez, mas por que sorri para ela com tanta facilidade? Eles tem algo?

Sinto meu rosto “queimar” e lágrimas encherem meus olhos. Me apressando para chegar ao meu quarto. A razão pela qual eu quero me trancar no quarto agora é outra, agora eu não estou fugindo por medo — ou vergonha — de transar com Ellan, mas sim porque quero chorar, porque quero admitir que estou com ciúmes dele. Nós não temos nada. Não é como se eu quisesse que nosso casamento fosse real, mas pelo visto, nem prioridade sexual dele eu sou.

Abri q porta do quarto, entro e me jogo na cama, o vestido com certeza caiu enquanto vinha aos tropeços para o quarto.

Ouço a porta se fechar, as lágrimas caem no travesseiro, minha visão embaça e sinto que chorar por ciúmes por algo que não me pertence é mais humilhante do que se tiras aquelas pessoas do salão tivessem me visto nua.

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Acordo algumas horas depois, não me lembro quando dormi, e sinceramente, prefiro não me lembrar mesmo.

Me sento na cama, olhando o quarto ao meu redor. O silêncio começou a soar tão alto que encho os pulmões de ar e grito o mais alto que consigo. Pela minha visão embaçada sei que meus olhos estão inchados, mesmo assim vou até o espelho para certeza. As cenas de Ellan de Ellan com a garota preenchem minha mente, e o fato que passaram-se horas e ele não veio nem ver me chateia. Pego um sapato que estava jogado ali e o arremesso contra o espelho, o som do estilhaçar do vidro soa como música para os meus ouvidos, enquanto olhos os cacos de vidro e penso “por que não?” Pegando um dos cacos de vidro, suspiro com a dor enquanto meu coração acelera pelo meu medo, levando o vidro até o outro braço e o pressionando contra minha pela, num movimento simples de o arrastar rápido e com força, vendo o sangue escorrer rapidamente.

Repito o ato mais três vezes, algumas lágrimas rolam pelo meu rosto por conta da dor, solto o caco e sinto o sangue escorrer pelo meu braço, seco as lágrimas e vou até o guarda-roupa, pegando um vestido rodado rosa pastel. Visto o vestido, o sangue o mancha um pouco — na barra, alça, cintura e na saia — mas mesmo assim não ligo. Abro a porta e saio do quarto, um criado aparece perto de mim assim que. Me viro, um olhar preocupado.

— senhora?

Ele parece jovem, do tipo adolescente, o que ele faz trabalhando aqui?

— sim? – respondo, soou como se eu tivesse engasgada.

— quer que te leve até a enfermaria? – ele diz apontando para o braço cortado.

— não, estou bem – digo sorrindo –, talvez um pano, isso séria ótimo, talvez.

Ele me olha assustado, mas concorda e tira um pano do bolso, ele o rasga fazendo ficar “maior”, pega meu braço e o enfaixa com delicadeza. Fico olhando todo o cuidado que ele tem comigo, e quando ele termina eu só sorrio e saio saltitando pelo corredor até chegar na sala de jantar. Abro as portas, a mesa já está posta, Ellan está no fim dela lendo um livro, um copo de água cheio até a metade.

Ele nem levanta o olhar para me ver, olho para baixo e o “curativo” já está encharcado de sangue, e agora me acho tola por tecnicamente ter me cortado por causa dele.

Entro com passos firmes, emburrada, pegando uma maçã da cesta de frutas, subo em cima em cima da mesa, meus pés descalço mal consegue achar lugar para eles. Ando até Ellan, pisando em uma comida ou outra, mas não é como se comer fosse meu forte.

Chego até ele, empurro seu prato para fora da mesa, o estilhaçar do prato no chão chama atenção de Ellan, ele olha pra mim com um certo tipo de desprezo, mas os olhos dele são magníficos demais para eu pensar em xinga-lo ali mesmo.

Me sento onde seu prato estava e mordo a maçã, sorrio e ele fecha o livro e me olha, sorri de volta e fica sério novamente. Isso me impressiona, mesmo sem mostrar os dentes, ele ficou fofo.

— Você pegou alguma blusa minha? Uma sumiu e você foi a única lá no meu quarto.

Uma acusação.

— não, mas pode ter sido a outra, vai que ele pegou? – mordo mais um pedaço da maçã, me perguntando se escondi bem o ciúme.

— Você tem razão, acho que foi ela mesmo que pegou. Ela ficou mais tempo lá.

Engulo a maçã e mordo de novo, a atenção dele foi para o meu braço, seus olhos se arregalaram, de uma forma que demonstrava mais curiosidade que pena. Suas palavras soaram alto na cabeça, então ela no quarto? Se eu tinha escondido bem o ciúme antes, dessa vez ele estaria estampado na cara.

— Você se cortou?

— É apenas tinta.

Ellan me olhou como se eu fosse patética, abriu a boca e a fechou, seja lá o que ele fosse dizer, ele se arrependeu. Me levanto e vou em direção a porta, jogo a maçã longe e abro a porta e vou andando pelos corredores que não reconheço.

Lembrando da ruiva testuda que estava com Ellan, tipo, o que aquela garota com trezentos metros de testa tem que eu não tenho? Tirando a testa, só a empatia, mas eu ainda sou melhor que ela, seja lá quem for ela.

— Oi.

Olho para ela, estamos a dois metros de distância. Meu sangue ferve, mas não quero transparecer a raiva sem sentido que sinto.

— Oi.

Digo de volta.

Me & The DevilOnde histórias criam vida. Descubra agora