Ryujin não era do tipo de pessoa que procurava por grandes significados por trás dos astros ou de acontecimentos da vida, era uma garota cética, para ela a vida era como era apenas porque era, existiam fatos e apenas eles, como seu pai, que era um bêbado violento e sua mãe, que tinha uma medida protetiva contra ele, não existia uma razão divina atrás das cicatrizes que ele deixou em sua pele, elas eram apenas uma lembrança amarga de escolhas equivocadas da vida, Ryujin era uma garota antissocial com poucos amigos - apenas um, para ser exata - e isso, ela sabia, era apenas resultado dos seus traumas.
Ela tentou por vezes acreditar no que ouvia dos mais velhos - era difícil não levar em conta o que eles diziam quando carregavam um ar de sabedoria e rugas que acentuavam a áurea do conhecimento - mas para ela, a ideia de um ser superior a fazendo passar por tudo o que ela passou como um teste de capacitação, era apenas absurdo.
Talvez ela fosse limitada demais e a religião estivesse além de sua compreensão.
Mas o fato é que ela não conseguia acreditar, mesmo que quisesse, mesmo que tentasse muito, Deus nunca encontrou abrigo em seu coração.
E quando Felix apareceu na sua casa com o cabelo mais laranja do que nunca falando sem parar sobre como o filho do pastor era estranho e engraçado e um rebelde sigiloso, Ryujin não pode evitar de torcer o nariz.
Não conhecia Yeonjun nem mesmo de nome.
Não frequentava a igreja e como gostava de reforçar, não prestava atenção as pessoas ao seu redor.
Felix disse que ele estudava no mesmo colégio que eles, e ficou surpreso por Ryujin não ter a mínima ideia de quem ele era, ele também disse que ter ele na banda seria bom para a popularidade, e depois falou sem parar sobre os discos de rock, de jazz e até mesmo do Beethoven que ele mantinha escondido dentro de uma caixa e cima do armário.
Ryujin admitia que grande parte do seu receio era causado por um ciúme infantil, a empolgação de Felix fez uma insegurança estranha crescer no peito da garota, temeu que o filho do pastor fosse mais divertido do que ela e que Felix preferisse passar seu tempo com ele, aos poucos ele esqueceria da amizade de Ryujin e ela perderia a única pessoa que amava.
Era irracional, bobo e fútil.
Ela sabia disso, mas não conseguia evitar.
Por isso passou dias encontrando desculpas para fugir dos encontros que Felix marcava para que seus dois amigos se conhecessem, o que não era difícil já que Yeonjun era um garoto ocupado, sempre ajudando o pai nos trabalhos da igreja, quando ela não conseguia achar uma desculpa razoável para não aparecer, era o garoto quem desmarcava.
Foram tantos desencontros que ela quase acreditou que o divino estava armando para que eles não se conhecessem.
Quase...
Não teve tempo para nutrir a fé no fim das contas.
Quando ela finalmente conheceu Yeonjun, não soube dizer exatamente qual foi sua impressão no garoto.
Sim, ele era bonito, Felix não exagerou nos elogios e diferente do que ela esperava, ele não parecia ser filho de um pastor, talvez Ryujin tivesse criado uma imagem estereotipada de como o garoto seria, de como se vestiria e de como se portaria, mas ele era mesmo diferente.
Foi numa das escapadas das aulas, Ryujin tentou sair mais cedo naquele dia, mas um dos zeladores a encontrou e a levou para o diretor, o homem de meia idade com uma calvície aparente ficou extremamente feliz em aplicar uma detenção de 3 horas para a garota, Ryujin era seu alvo favorito de punições, não existia piedade quando conseguia a pegar.
Depois de mais ou menos 1 hora do seu castigo os astros se alinharam a seu favor - se ela acreditasse nesse tipo de coisa, teria dito isso - Yeonjun apareceu na sala, com sua melhor cara de santo e com a postura perfeita - não que ela soubesse quem ele era - se curvou para o professor responsável e sorriu com os dentes perfeitos.
"Desculpe interromper Sr. Kim, estou procurando uma aluna, me disseram que ela estaria aqui, pode me ajudar?"
"Olá Choi, como você está rapaz?"
"Muito bem Sr. Kim, estou indo ajudar meu pai, na verdade, é por isso que preciso da sua ajuda... estou procurando Shin Ryujin, ela se voluntariou para ajudar nos preparativos para o acampamento de verão na igreja, vamos começar hoje, acho que sua filha via participar esse ano, não é?"
"Ah sim, sim... Ela quis se inscrever dessa vez, espero que não se envolva com delinquentes como a Sra. Shin lá."
"Não se preocupe Sr. Kim, Ryujin apenas vai ajudar na organização, infelizmente ela não poderá se juntar a nós no evento, não é mesmo Ryujin?"
Ryujin não estava entendendo nada.
Nunca viu aquele garoto em toda a sua vida, nunca se voluntariou a nada, principalmente para eventos religiosos.
Mas tinha a chance de escapar daquela tortura tediosa e o teatro do rapaz parecia estar convencendo o professor.
"Sim, infelizmente não poderei participar, mas quis ajudar na organização, sabe, apenas Deus tocando meu coração."
Talvez tenha exagerado, os dois franziram o rosto, o homem mais velho desconfiado e o garoto em desgosto com a mentira nada convincente.
"Enfim, soube que ela pegou detenção por tentar sair mais cedo... temo que seja culpa minha senhor, pedi que ela chegasse cedo na igreja, só não achei que ela fosse levar tão ao pé da letra..."
O professor riu, aparentemente o rapaz era encantador de velhos.
"Ryujin sempre teve o pensamento mais lento que o normal, não me surpreende para ser honesto."
O jovem cristão e Ryujin fizeram contato visual, pareciam ter pensado a mesma coisa, 'que imbecil!'
"Bem, se precisa tanto dela assim, leve-a!"
"Muito obrigado Sr. Kim! Te vejo na igreja domingo?"
"Claro, estou ansioso para ver o coral."
"Ah sim, não vamos decepcionar senhor! Vamos Ryujin?"
Não perdeu tempo em sair da sala, quase correu.
Deu de cara com Felix assim que alcançou o corredor.
"Ryujin!"
"Felix!"
"Como caralhos você pegou detenção dessa vez?"
"Me pegaram tentando fugir dessa prisão."
"Ah não, o sistema te castigou."
"Tipo isso, mas sofri uma intervenção divina."
"Amém."
O garoto cristão se aproximou.
"Sua intervenção divina não tem nada de divino."
Felix sorriu largo.
"Cara, não acredito que isso funcionou."
"Nem eu, nunca tinha feito isso antes."
"O que funcionou?"
"Bem que o Sr. Kim disse que você tem o pensamento lento."
"Hey?!"
"O nosso teatrinho funcionou, essa história de acampamento e tudo mais."
"Ah sim, acho que você deve ser o Yeonjun, não é?"
"Sim, e você é a Ryujin"
"Finalmente consegui fazer vocês se conhecerem, achei que isso não ia acontecer nunca!"
Ryujin queria não gostar de Yeonjun, queria ter achado ele um babaca moralista, queria poder dizer que não entendia o alarde de Felix em torno do rapaz, mas Ryujin era uma garota de fatos, e era fato que simpatizou com ele, e também que ele havia a salvado de longas e tediosas horas encarando a berruga do Sr. Kim, era fato que sentia que deveria dar a ele a chance de se conhecerem e quem sabe ouvir seus discos e de aceita-lo como parte da banda.
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The Rogue
FanficE quando eu encontrei a banda, eles perguntaram "você ainda tem um homem?"