Maneater

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Quando acordou nos lençóis brancos do hotel, Ryujin foi soterrada por uma onde de lembranças da noite passada.

Yeji dançando, Chan agarrando sua cintura, Yeji a olhando, uma garota qualquer a beijando, o desejo, Yeji derrubando sua bebida, conversa no bar, as coisas ficam mais nebulosas a partir desse ponto, mas ela se lembra do Whisky, uma chave de quarto, Yeji, se lembra vagamente de estar procurando por ela nos corredores, Yeji a esperando no quarto, Yeji em cima de si, Yeji rebolando, Yeji clamando por mais.

Não consegue lembrar de mais nada.

E rapidamente concluiu que era melhor assim, as poucas lembranças que restaram foram o suficiente para levar sua mente ao delírio.

Ouviu o barulho do chuveiro e avaliou suas opções, ela poderia continuar ali e tornar as memórias em algo real e concreto, ou poderia sair e fingir que tudo havia sido um delírio de sua mente.

Sua mente ainda levemente atordoada pela bebida.

Sua mente que sempre fora um tanto quanto traiçoeira para seu próprio bem.

O barulho do chuveiro cessou e Yeji saiu de lá para encontrar uma Ryujin sentada, os cabelos ainda bagunçados, ela por inteira estava uma bagunça, a roupa de cama cobrindo parcialmente o corpo nu, deu uma boa olhada nela e sorriu satisfeita, aquela mulher era sua.

"Ótimo, você finalmente acordou."

Ryujin a olhou, ainda pensando se deveria fugir dali fingindo que nada aconteceu, mas a vendo ali, com apenas uma toalha em volta do corpo, soube que não conseguiria apagar de sua mente e, principalmente, do seu corpo, o que acontecerá.

"Que horas são?"

"Quase meio dia."

Ela suspirou, não seria um problema explicar seu sumiço, mas seria difícil explicar seu sumiço juto de Yeji.

"O que a gente faz agora?"

Yeji arrancou a toalha, Ryujin odiava como ela sempre parecia calma e cínica demais em qualquer situação.

"A mesma coisa que temos feito até agora, Ryujin, nós vamos nos fingir de bobas, somos boas nisso."

Assistiu calada enquanto ela se secava.

"Sabe, você pode achar que não, mas Chan não é idiota, ele vai perceber seu sumiço."

Yeji riu suavemente, largando a toalha no chão e caminhando até a mesa de canto oposta de Ryujin, ela pegou uma revista esquecida ali e arremessou para a garota, revelando uma foto de Chan acompanhado por duas garotas na fachada do cassino.

"Ele é um idiota apenas por presumir que eu sou idiota, e você é tão idiota quanto ele se pensa que eu não tenho o controle disso tudo."

Yeji engatinhou no colchão até ficar a centímetros de Ryujin, carregava um olhar que fazia ela se sentir como uma presa encurralada.

"Agora, vá tomar um banho e se vestir, temos muitas coisas para fazer hoje."

Ryujin não sabia dizer ao certo o que a levou a seguir o roteiro mirabolante de Yeji, ela se sentia como um peão num tabuleiro em que não era capaz de enxergar a totalidade do que acontecia, era imprevisível, desafiador e perigoso.

Ela entrou num taxi com Yeji, usavam óculos escuros e bonés na tentativa de não serem reconhecidas, apenas até chegarem num café, que Ryujin descobriu ser frequentado por celebridades frequentemente, ela ficou confusa com a tentativa de descrição quando estavam indo para um lugar publico e conhecido por ser cercado por paparazzis.

"O que estamos fazendo aqui?"

"Criando uma narrativa, bobinha."

Yeji pediu dois cafés pretos e disse para Ryujin que ajudaria na ressaca, ela percebeu que Yeji não usava maquiagem, o que não era usual para ela, sustentava as olheiras causadas pela noite agitada e nem mesmo seu cabelo parecia fabuloso como sempre, até mesmo sua postura estava diferente, ela parecia com uma garota qualquer que tivera uma noite difícil, coisa que ela nunca parecia.

"Yeji, o que realmente estamos fazendo aqui?"

A garota assumiu uma faceta séria, como se estivesse prestes a discutir uma clausula de contrato.

"Sabe, eu não aguento mais Ryujin, eu tenho tentado tanto fingir que isso não tem acontecido, que isso não me afeta, mas não aguento mais fingir."

Seus olhos lacrimejaram e Ryujin se assustou, nunca viu Yeji chorar, nem ao menos sabia que ela capaz de chorar, um ato tão humano que não parecia pertencer a ela.

"Do que está falando?"

"Ora, do que mais eu poderia estar falando? Do meu namorado, seu amigo, Bang Chan."

"Mas que porra Yeji?"

Yeji revirou os olhos e se curvou próxima da garota para sussurrar.

"Ryujin pelo amor de deus, será que você pode parar de ser sonsa por apenas um segundo e me acompanhar aqui?"

Os cafés foram servidos e ela agradeceu ao garçom.

"Ah, você não viu? Hoje saiu mais uma dessas manchetes escandalosas dele com aquelas mulheres ordinárias, o que ele tem na cabeça? Ele acha que eu não vejo essas coisas? Ou que não me me sinto mal com isso?"

Ela sorveu do café, dando a deixa para Ryujin, ela teria rido da forma como a garota parecia desconcertada, ainda procurando se encontrar naquele teatro, mas deixaria para fazer isso mais tarde, quando terminassem aquilo.

"Yeji, não sei o que te dizer, ele sempre foi assim, não acho que algum dia será diferente."

Yeji parecia genuinamente triste, como se tivesse ouvido uma noticia de partir o coração.

"Eu sei, no fundo eu sei que ele não vai mudar, mas, não sei... pensei que poderia ser diferente comigo... eu amo tanto ele, amo de um jeito que nunca amei ninguém antes."

Ela voltou a tomar seu café e olhou para algo atrás de Ryujin, fechou o rosto imediatamente. 

"Argh! Esse cara atrás de você está nos fotografando, provavelmente nos filmando também, que péssima ideia essa sua de vir aqui, eu disse que era cheio desses parasitas com câmeras penduradas no rosto. Vem, vamos embora daqui."

Ryujin olhou para a mesa nas suas costas, encontrando um rosto bem conhecido, Soobin era um paparazzi que parecia dedicar sua vida a seguir os membros da The Rogue, Ryujin se levantou antes mesmo de Yeji.

"Eu odeio esse cara, vamos logo."

Ela liderou o caminho, parando um taxi assim que encontrou a saída. 

"Okay, o que foi isso?"

"Não se preocupe, está tudo indo como o planejado."

"Soobin era parte do planejado?"

"Será que você consegue ver que ainda estamos em publico e que não é inteligente falar sobre isso agora?"

"Será que você consegue ver que eu não estou nem aí?"

"Ah você está sim, a menos que tenha um plano melhor para que não sejamos pegas."

"Ah claro, sair juntas e ser fotografadas pelo nosso perseguidor parece uma ideia promissora."

Yeji a olhou impaciente.

"Não se preocupe, docinho, eu sei o que estou fazendo e faço questão de te explicar depois."

Ryujin odiou o apelido, o cinismo, a forma como se sentia perdida e idiota.

Sentiu que Yeji estava a fazendo de boba como fazia com Chan.

Mas Ryujin não era Chan e ela se asseguraria de que ela entendesse aquilo muito bem.

Ela abriu a porta do táxi e a puxou pelo braço a colocando dentro do carro.

"Você vai mesmo me explicar tudo, mas apenas quando eu quiser que me explique, agora se me da licença, essa brincadeira de criança foi divertida, mas os adultos tem coisas serias para resolver."

E com isso ela fechou a porta, dando as costas para a garota e toda a bagunça em que se colocou. 

The RogueOnde histórias criam vida. Descubra agora