Capítulo 11

36 5 1
                                    

Eva Dombor

Eu tinha uma grande porcentagem de persuasão pela sensação que era dormir ao lado de Denver. A forma que ele se acomodava sempre por perto de minhas costas, sua respiração quente tocando os fios do meu cabelo próximo ao pescoço, o braço que passava por baixo de minha cabeça cercava meu corpo por baixo e o que ficava por cima esquentava minha pele. Era umas das poucas coisas que faziam você acreditar que a vida poderia ser boa e aconchegante.

Mas quando eu acordei, ele não estava mais lá. Estava exausta demais para que percebesse o horário que ele abandonou a cama, ou se sequer havia fechado os olhos enquanto estava ao meu lado. Denver estava sempre preocupado com algo.

Vesti uma camisola abandonada em sua poltrona me perguntando a origem de seu paradeiro e me movimentei para fora do quarto. O sol não estava tão tímido quanto os últimos dias nublados da cidade amaldiçoada, parecia querer escapar de dentro de uma nuvem carregada.

A casa estava silenciosa pelo segundo andar, mas quando desci as escadas foi que a movimentação dos soldados de Denver chamaram minha atenção. A sala destruída pela noite passada estava lá, mas o corpo do avô de Denver não existia mais no cenário para poupar meu estômago.

Denver estava de costas enquanto um grupo de soldados estavam ao seu redor, mesmo de longe pude perceber o quão pesado aquele diálogo estava para ele. Seus ombros completamente carregados de tensão através do tecido branco da sua camisa.

Me aproximei devagar, pisando sobre a bagunça da sala.

— Aconteceu alguma coisa? — perguntei entrando entre os homens.

Todos os olhos me analisaram antes de sumirem pelo cômodo como se os olhos de Denver fossem os únicos que pudessem permanecer em mim por muito tempo.

Denver tocou-me gentilmente no ombro.

— Porque não vai até a mesa tomar seu café? — perguntou-me.

Balancei a cabeça tentando afastar suas palavras inúteis.

— Não respondeu minha pergunta. — insisti.

— Não aconteceu nada que eu não consiga resolver. Não se preocupe, Eva.

Não parecia ser algo simples o suficiente para ser resolvido com um estalar dos dedos poderosos de Denver. Eu estava ficando cansada de ser deixada para trás sempre que algum problema surgia, como se eu fosse inútil em resolvê-los também, como se eu não fosse nada além de um objeto bonito para enfeitar a casa de Denver.

— Porque não compartilha as coisas comigo? — questionei olhando para cima enquanto ele olhava distante demais para que eu pudesse decifrar sua intenção após minha pergunta.

— O que? — olhou-me finalmente.

— Sempre que tem um problema entre nós você quer resolver sozinho. Estou em sua casa, ao seu lado... Eu preciso saber o que acontece.

— Eu não quero te preocupar sobre nada, Evangeline. — disse — Não quero que tenha uma preocupação maior além de ficar bonita e saudável dentro da minha casa.

— Denver, — eu segurei algum tipo de risada sarcástica enquanto quase vertia de raiva - eu não sou nenhum troféu para ficar em exposição enquanto o mundo despenca ao meu redor.

— Tudo bem, você está certa.

Seus dedos seguraram nos meus enquanto nos guiava mais para dentro da casa. Reconheci de imediato o corredor que levava até a sala onde eu costumava dançar para Denver, os pedestais góticos que sustentavam algumas plantas que tentavam lutar por sua vida através da maldição da nossa terra, não passavam de pedaços quebrados ao chão.

SHADOW TOUCH Onde histórias criam vida. Descubra agora