Capítulo 3

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                          Eva Dombor

Eu não saberia distinguir qual era o sentimento mais forte dentro de mim. Não saberia quais palavras deveria usar diante de um homem que encontrei morto um dia atrás, um homem que enterrei com as próprias mãos. Era como um pesadelo vívido de forma muito cruel para qualquer ser humano existente.

As ondas frenéticas de dor por onde aquelas mãos cobertas de cicatrizes limpava não eram páreas para a dor em meu peito, para os batimentos altos do meu coração e para todas as incertezas.

— Como eu poderia acreditar em você? — soltei enquanto observava o homem dar voltas com as ataduras em meus pés limpos.

— Acredite no que quiser, — ele olhou para cima. Os fios úmidos de seu cabelo escuro escorregavam para as duas laterais de sua testa como asas negras de um anjo caído. — seu avô amarrado e amordaçado não seria o suficiente para pagar sua dívida.

O homem que tanto almejei o olhar naquela noite no anfiteatro estava vivo diante dos meus olhos ou eu estava morta em algum tipo de um inferno sofisticado com ele. O quarto era luxuoso apesar de parecer morto, camadas de frio espalhadas por todos os cantos, copos de cristais no pequeno bar, lençóis de seda e lareira de pedras gigantes, tapeçarias caras e cheiro de dinheiro.

— Não parece que dinheiro pagaria minha dívida. — acusei olhando ao redor. As cortinas pesadas cobriam janelas enormes que apenas vi de muito longe pelo lado de fora quando fugia para o anfiteatro de madrugada, eu não fazia ideia de qual horário do dia estávamos.

— Não quero dinheiro, — disse — quero entretenimento. Não tem muita coisa bonita para ver nessa cidade...

— Se quer ver algo bonito compre um quadro.

— Não seja ridícula, Evangeline. Nem o quadro mais caro do mundo seria páreo para tudo de bonito que vejo em você. — ele disse o tom de voz apertando minha pele em chamas — E acredite, já vi muitas mulheres bonitas nessa vida.

Era um elogio de origem duvidosa mas cheio de promessa mordaz.

Aquele homem era atraente de forma perigosa. Daqueles que só se percebe que está te afogando quando está longe demais da beirada. Minha atração não era inservível, mesmo quando o encontrei com uma faca cravada no coração estava com o peso da atratividade sobre meus ombros.

Ele tinha traços duros com postura letal. Um homem de porte grande, a forma gentil que trabalhava com suas mãos firmes quase causavam euforia em meu peito, e o jeito que queria me matar com palavras obscenas deixavam um gosto amargo em minha boca.

Eu tinha dezenas de perguntas das quais apenas ele poderia me responder.

— Quero que seja meu entretenimento diário. — ele cuidadosamente pousou meus pés enfaixados no chão — Eu percebi seu grande talento com a lira, e quero que dance para mim quando eu estiver entediado.

— Até quando?

— Até eu achar que sua dívida está paga. — ele inclinou a cabeça para o lado como se quisesse me observar de outro ângulo — Sou um ótimo negociante, Evangeline. Vamos negociar até que suas parcelas sejam agradáveis para ambos. — um sorriso traiçoeiro surgiu em seus lábios grossos expondo dentes brancos e felinos — Você pode ficar em minha casa, que por sinal não é nada ruim. Pode comer da minha comida em minha mesa, e ocupar um lugar em minha cama.

— Está procurando uma dançarina ou uma meretriz? — minha pergunta saiu com ódio e sarcasmo.

— Estou procurando você.

Pensei em todas as probabilidades oscilando em seus termos e todos eram perfeitamente bons para mim. Não era como se eu já não tivesse vendido algo muito maior por muito pouco.

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