Capítulo 7

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                          Eva Dombor

Faziam dois dias que eu não permitia-me sair do quarto, mas também faziam dois dias que Denver não me procurava. Algo em mim pareceu querer me quebrar por dentro em pensar na distância que aquela discussão no corredor causou entre nós, mas eu não estava errado em me posicionar sobre ele.

As refeições sempre eram entregues em meu quarto nos horários cabíveis, mas eu nunca deixei de me perguntar se Denver havia deixado meu lugar ao seu lado reservado naquela mesa ao canto da janela de vidro. Eu estava começando a pensar como uma mulher obcecada, mas isso era sobre aquela forma que Denver havia me tocado na última vez que trabalhei para ele, era sobre a sensação nova que havia despertado em mim, não era sobre questões do coração ou emoções complicadas.

Deixei a bandeja de café da manhã na mesa e abri o guarda roupa por uma última vez observando atentamente a camisa de Denver enganchada no último cabide, era como um lembrete extra de tudo que eu não podia ter. Deitei cabisbaixa na cama, torcendo para não deixar as lágrimas rolarem. Eu não merecia passar por todas essas coisas ruins, eu nunca fui uma pessoa ruim. Talvez a vida não fosse sobre fazer por merecer, infelizmente.

Uma batida fraca na porta alarmou minha atenção, era diferente das batidas fortes da governanta de Denver.

— Entre!

Malena atravessou a porta, novamente, com o sorriso que uma pessoa sem preocupações nenhuma teria.

— Você gostaria de sair para comprar algo? — perguntou com seus lábios pintados de vermelho movendo em certa velocidade.

— Eu não tenho dinheiro.

Afundei a cabeça no travesseiro, gritando de forma abafada no objeto fofo.

— Denver mandou uma quantia generosa para comprar vinte peças das mais caras.

— Qual o problema dele? — falei levantando a cabeça na direção dela — Ele acha que vai conseguir me comprar com todo esse dinheiro idiota.

— Ele só quer te agradar. — disse Malena sentando na ponta da minha cama.

— Se Denver quisesse realmente me agradar não estaria fazendo tanto suspense para entregar meu avô.

— Eu garanto que se Denver soubesse onde está seu avô, ele já teria mandado cinquenta homens para resgatá-lo.

— Então, meu avô realmente é um refém?

As lágrimas que tanto segurei escaparam pelas bordas dos meus olhos.

— Eu sinto muito em dizer que sim. Só um refém estaria desaparecido por todo esse tempo.

— Não... — solucei ignorando toda reação da minha fraqueza. Já estava cansada de tentar ser forte, eu queria cair um pouco para que alguém me reerguesse. E exaustivo se reerguer sozinha por todas as vezes que pesa nos ombros.

— Eva... — Malena se esticou mais no meu colchão, o corpo grande da mulher se envolvendo no meu enquanto seus braços me rondavam. Um cheiro bom me abraçou, tinha algo como aconchego materno — tudo vai ficar bem. Você só precisa confiar em quem te quer bem, e Denver está no topo da lista. Agora, vamos levantar e gastar o dinheiro daquele filho da puta?

Eu não queria rir, mas mesmo assim o fiz. Malena era muito flexível sobre tudo, até mesmo quando fazia-me sentir bem sem precisar humilhar Denver, por algum tipo de lealdade maior que ela tinha por ele. Era algo que talvez eu jamais conseguiria fazer.

Decidi acompanhar Malena até o centro da cidade, mesmo que minha vontade de sair da cama fosse mínimo, por sorte não esbarramos por Denver nos corredores da propriedade, talvez estivesse trabalhando com suas ocupações sujas. Eu escolhi um vestido preto com alças finas demais para parecerem apenas duas frações de linhas em meus ombros, o corte no busto era reto e a extensão ia até um pouco acima do meu joelho, meu corpo completamente espremido e moldado pelo tecido causava curvas das quais eu sabia que não tinha. Embora fôssemos para uma caminhada entre as lojas, Malena exigiu que eu colocasse salto alto, segundo ela uma mulher de santo alto é o centro mais bonito do universo, e ela não estava muito errada.

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