A SERVIDÃO DO RELÓGIO.

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Os dias parecem todos iguais, não há diferenças entre eles, o mesmo sofrimento diário na labuta que nunca termina, cansaço o tempo todo presente, lamúria de inúmeros lábios exibindo dentes e sorrisos raivosos. A semana é odiosa, o trabalho enfadonho como no antigo, porém, havia algo de interessante anteriormente, que me agradava eu sei, mas, deixei passar como tantas outras coisas. Não adianta arrependimento, tudo é dor. O começo é sempre calmo, não como eu gostaria que fosse de verdade, é uma calma traiçoeira, daquelas que sempre traz revelações ruins ao final. Eu que diversas vezes fechei os meus olhos para não ver a dor chegar.
O final de tarde é sempre pior, o cansaço já dominando os braços, fazendo o raciocínio fica lento, esquecido, enquanto a paciência também acena ao longe. A vontade é de jogar tudo para o ar, de fugir para longe.
O começo de semana é calmo, a maioria dos transeuntes não comparecem, estão com as provisões completas, somente aqueles mais desatentos que retornam para repor o estoque, ainda tímidos, desconfiados. A dinâmica não muda - poderia ser diferente - porém, existe qualquer dificuldade no comando que impede de realizar o que para mim é óbvio. Somos excessivamente levados ao limite do limite corporal e mental. No antigo trabalho haviam prioridades diferentes, nesse de agora, não se preocupam tanto com o cliente na fila. O que importa para quem manda no que lidera é completar balcões de auto serviços, o resto é detalhe. Confesso que estou muito cansado, não é só o físico, a dor no corpo, a coluna latejando, é também o psicológico sendo cruelmente agredido dia a dia, com palavras e atitudes que ferem mais do que as facas afiadas com as quais trabalho.
Me considero o menor entre eles, sempre superiores em tudo no que fazem na maioria das atividades exercidas. Dizendo que não têm ninguém igual a eles em seus afazeres. São maiorais, gigantes, não cometem erros, são intocáveis.
Às vezes, realmente tento me igualar, não para apontar o dedo e me comparar, mas, para oferecer o melhor de meu serviço para o cliente. Ainda sim, escuto nas entrelinhas críticas ao meu jeito de fazer e falar. Gosto do que faço, não amo, por favor, não confundam gostar com amor, são coisas totalmente diferentes. O que eu amo verdadeiramente está muito distante da profissão que exerço atualmente, não é o ideal, contudo, paga as contas e sobrevivo. No meu atual trabalho, por vezes tranquilo, em outros momentos odioso, tenho companheiros legais, pessoas boas, colegas, maravilhosas demais. Aprendi a conviver com as diferenças de cada um, isso é o que importa de verdade.
Talvez esse trabalho seja temporário, assim espero, de coração. Caso eu não consiga me desvencilhar dele para outro melhor, terei paciência, continuarei a fazer o que faço com o máximo de dedicação e profissionalismo, embora não seja a (profissão) do meu coração, vou exercê-la enfrentando os desafios com toda força possível. Quem sabe um dia eu consiga o que tanto almejo, pode ser que demore, não importa quanto, estarei esperando com toda a paciência que cabe a esse coração. A vida é cheia de desafios, de altos e baixos. Houve tempo que eu estava na parte alta da roda gigante, hoje, estou por baixo, não reclamo por isso. São experiências importantes para o crescimento como ser humano, agradeço por tudo, ainda que doa agradecer.

O DESAFIO DE SORRIR.Onde histórias criam vida. Descubra agora