LITERATURA A CONTA GOTAS.

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Última semana antes da primeira audiência judicial - em cinco anos - isso mesmo, cinco longos e intermináveis anos, que, pareceu-me uma eternidade. Do meu desligamento da empresa até a data dessa primeira audiência de instrução muitas coisas aconteceram. Só relembrando, a empresa em que trabalhei por quinze anos, companhia brasileira de alumínio, que tinha por dono o saudoso doutor Antônio Ermírio de Moraes, já falecido, é uma empresa metalúrgica no ramo do Alumínio. A maior do mundo no sistema integrado, onde se recebe a Bauxita, matéria prima, e passa por todos os processos até se transformar no produto final.
Ser desligado da empresa foi um tremendo choque para mim, eu havia passado por um procedimento cirúrgico um ano e três meses antes da demissão, enquanto ainda na empresa, fui realocado de setor e função para readaptação, por isso, eu não imaginava que seria demitido, porém, isso aconteceu e me pegou de surpresa, aliás, todos os meus conhecidos quando souberam ficaram de admirados e sem entender. Eu sabia que conseguir um novo emprego em uma fábrica seria praticamente impossível devido às minhas limitações. Naquele momento senti como se tivessem aberto um buraco debaixo de meus pés. Eu tive medo, angústia, incertezas, tudo escondido dentro de mim.
Durante quase dois anos fiquei sem trabalhar, vivendo dos valores recebidos da indenização - esse foi o pior erro da minha vida - nesse período fiz reformas na casa onde estou morando, casa essa que nem é minha de fato - outro erro imperdoável - percebendo que os meus recursos estavam acabando, a minha esposa começou a fazer pães, bolos e doces para vender; e deu certo por um tempo. Foi então que veio outra tempestade... Ele descobriu que tinha doença mista do tecido conjuntivo, fenômeno de Reno, enfim, isso a limitava muito. Foi então que tomei forças onde não tinha e resolvi me arriscar trabalhar no mercado, exercendo meu antigo ofício de açougueiro. Consegui uma colocação em um determinado mercado, mesmo limitado devido aos problemas de coluna, com dificuldade fui me adaptando. Por três anos trabalhei nesse primeiro mercado, surgiu a oportunidade de entrar em outro supermercado, esse cinco minutos de casa, não pensei duas vezes. Estou nesse novo emprego há quase um ano, as dificuldades que encontrei aqui foram tão ou mais desafiadoras do que no primeiro mercado. Sem ter muitas opções, tenho que suportar a rotina massacrante, é questão de sobrevivência, no entanto, recentemente, depois de realizar novos exames na coluna descobri que a minha doença, 'degenerativa', progrediu, tanto que, está afetando fortemente o meu desempenho.
Confesso, estou cansado de trabalhar com o público, em mercado, é muito estressante. Voltar em uma empresa com todos os agravantes que carrego é quase impossível. Aquela primeira empresa em que eu trabalhei, na qual tenho um processo trabalhista em andamento. Espero que dê resultados positivos nessa 'primeira audiência', embora, minhas esperanças para tal sejam pífias. Os meus dias são assim, corridos e cansativos, mesmo com toda essa loucura encontro tempo para escrever. Não é nada perto do que realmente eu quero, por isso tenho que aproveitar ao máximo no pouco tempo que tenho disponível para dar vida ao mundo que existe aqui dentro de mim. Talvez um dia, quem sabe, eu possa viver única e exclusivamente para a escrita e nada mais. Por enquanto, minha literatura é a conta gotas.

O DESAFIO DE SORRIR.Onde histórias criam vida. Descubra agora