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Jisung é um garoto complicado, dizia seus pais. Desde a infância, o seu sonho era se tornar cabeleireiro, pois sabia que era um lugar onde se sentiria realizado. Devido à sua família religiosa, ele não podia expressar esse desejo abertamente, mas em um momento, acabou compartilhando isso com um amigo.

A vizinha sempre visitava sua casa, e a mãe deles passavam horas conversando. Han não se importava com a presença da vizinha, pois ela sempre trazia seu filho, um garoto chamado Mingyu, para fazer companhia a ele. Com apenas nove anos e sendo mais velho que o menor, Jsiung sentia a responsabilidade de proteger o amigo. Em uma ocasião, quando estavam brincando no parquinho, um menino um pouco mais velho que Mingyu o empurrou, e Han, sempre impulsivo, deu um soco no rosto do garoto. Isso trouxe muitos problemas, mas ele se sentiu feliz por proteger seu amigo.

Quando Jisung tinha onze anos e Min nove, eles estavam se divertindo no quarto de Han, jogando videogames e comendo besteiras. O garotinho se tornou um bom amigo do bochechudo, e pareciam inseparáveis, alternando as visitas entre as casas.

— Jisung hyung, o que você quer ser quando crescer? — Perguntou o menino pequeno com o controle do jogo nas mãos.

Essa pergunta surpreendeu Han, pois ele já tinha receio de contar o que realmente queria fazer. Ele pensou cuidadosamente antes de responder, mas não queria mentir para um amigo tão próximo. Eles possuíam diferentes visões de mundo, mas sempre trocavam ideias e apoiavam um ao outro, mesmo que fossem ideias convencionais.

— Hm, não sei ao certo — disse, enquanto ainda apertava os botões do controle. — Talvez me tornar cabeleireiro.

Gyun soltou o controle e olhou para Seo incrédulo.

— Como assim? Isso é trabalho de mulher.

— Eu não acho isso. — O garoto bochechudo respondeu confiante, mas um pouco amedrontado.

— Certo, então. — Mingyu não parecia se importar, o que fez o mais velho suspirar aliviado. — Eu quero ser astronauta.

E assim a conversa se prolongou por mais alguns minutos, e sem demora, eles voltaram a jogar e comer besteiras. Era assim durante todas as férias de verão de Jisung: videogames e Mingyu. No entanto, este verão foi diferente. Han não recebeu seu amigo em casa, não comeu besteiras e não jogou videogame.

— Não quero saber, Jisung. Arrume-se, vamos para a igreja. — A senhora de cabelos longos e pretos disse.

Desde que Han contou ao seu amigo o que queria ser quando crescesse, nada na casa do mais velho estava normal. Todos os dias, o menino tinha que comparecer ao culto, rezar o tempo todo e copiar a Bíblia. Com apenas treze anos, ele não compreendia completamente como tudo estava acontecendo tão rapidamente, mas não estava gostando disso.

Em uma noite em que o garoto se recusou a ir para a igreja, ele chorou como se não houvesse amanhã. Seu pai, que já não estava suportando o choro do menino, ficou furioso e gritou no rosto dele pela primeira vez.

— Cale a boca, maldito! — Ele gritou alto. — É Satanás tentando fazer você não ir para a igreja. Você está possuído. — Depois dessas palavras, Jisung ficou em silêncio e começou a ter medo de si mesmo.

Jisung cresceu sob a desaprovação de sua família devido a uma profissão que já não era mais seu sonho. A comunidade local afastava seus filhos do convívio de Han Jisung, que havia se tornado o jovem problemático do bairro. O garoto, aos treze anos, aspirava ser cabeleireiro, mas ainda se deparava com os estereótipos enraizados de que homens gays que escolhiam essa profissão não conseguiam empregos estáveis e se entregavam a festas frívolas.

É possível que o garoto seja gay. Essa percepção o afligiu aos dezessete anos, mas ele resistia a essa ideia, pois cresceu em uma comunidade que tinha uma visão negativa sobre isso. Aceitar-se como tal não estava em seus planos, de forma alguma. Assim, ele passou sua infância e adolescência frequentando a igreja, participando da catequese e dedicando-se às orações. Tudo isso era para agradar sua mãe. Não que ele detestasse a igreja; pelo contrário, gostava de frequentá-la. No entanto, sua presença ali era mais uma obrigação do que uma escolha pessoal, uma medida tomada por medo. Medo de si mesmo.

Agora o menino de dezenove anos ainda mora com seus pais. Na verdade não tem muito o que fazer, ele não tem um emprego fixo e muito menos o estudos concluídos. Ainda participava de missas e era um grande ajudador dos adolescentes do bairro. Agora ele não era mais um menino estranho, agora ele mudou, ele é um anjo. E se sentia bem com isso, aliás, ele na verdade não queria mais sofrer.

Neste exato momento, o jovem de cabelos escuros e pele pálida saía da igreja. O padre havia acabado de proferir uma mensagem edificante, o que o deixou com uma sensação de satisfação. Ele não podia, de modo algum, expressar descontentamento, pois essa ideia jamais lhe passara pela mente. Seus pais não haviam comparecido à missa, encontrando-se em casa preparando o almoço dominical, uma rotina que mantinham inalterada. Era uma refeição, com todos os membros de sua família presentes. Jisung considerava isso algo desinteressante, pois sabia que seus parentes frequentemente o criticavam pelas costas. A única exceção a essa dinâmica era Felix, seu querido primo, que, infelizmente, raramente estava presente devido ao seu compromisso com os estudos.

No decorrer do trajeto para casa, Jisung  pensava, como era seu costume, sobre tudo aquilo que não podia dizer em voz alta. Ao chegar em casa e abrir a porta, deparou-se com seus tios e tias desfrutando de uma conversa regada a vinho, que ocupava o centro da mesa. Eles sorriram cordialmente para Han, e este retribuiu com um sorriso. Pouco depois, ele subiu para seu quarto, com a intenção de se trocar, mas conseguiu perceber uma leve batida na porta, que foi em seguida aberta por sua mãe.

— Olá, querido — ela saudou com sua voz serena e tranquila. — Como foi a missa?

— Foi excelente — expressou Han, sentando-se na beira da cama.

— Que bom — a senhora acariciou os cabelos do filho. — Hoje, alguns amigos da família virão nos visitar e ficarão por alguns dias, até encontrarem um lugar para ficar. Apenas peço que não nos decepcione, meu querido — ela ainda sorria.

— Claro, mãe — Jisung deitou no colo de sua mãe e sentiu um ímpeto de chorar, mas conteve-se, pois não queria demonstrar fraqueza.

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Encantados | MinsungOnde histórias criam vida. Descubra agora