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Acabou por descobrir que Minho havia retornado para buscar seus tecidos, que ele esquecera em casa. Agora, seguindo uma rota diferente, os dois estavam no mesmo carro, apenas conversando. A faculdade de Han Jisung é relativamente distante, pois mora em um local afastado, sempre dependendo de ônibus. Seu pai possui um carro, mas o utiliza para o trabalho, e mesmo que o rapaz quisesse ter um, não poderia, pois não sabia dirigir. Agora, o bochechudo havia comentado sobre a conversa que escutara mais cedo.

— ... E basicamente foi isso. Meu pai falava cada baboseira. — Jisung riu um pouco, ciente das opiniões de seu pai.

— E isso com você na mesa? — Minho perguntou, preocupado. Han assentiu e levou como se fosse uma brincadeira.

— Peço desculpas pelos meus pais. — Suspirou. — Deve ter sido constrangedor.

Como ele sabia como se sentia o rapaz? Jisung não quis contar como estava de acordo com aquela conversa, achando que estava sendo fresco demais, mas notou que até mesmo o de cabelos longos tinha percebido. Eles continuaram a viagem dando leves risadas e falando sobre a vida. Han se sentia bem com isso, em ter pelo menos um amigo que se importasse com o que ele falava. Na faculdade, não tinha, mas possuía colegas. Seungmin é um, sempre fez trabalhos e atividades com Han, mas não poderia ser considerado um amigo.

— Muito obrigado pela carona. — Sorriu, mostrando seus dentes.

— Que isso, quando precisar é só falar. — Minho sorriu e deu uma piscadela para Jisung.

Quando ainda era aula, Han se sentiu cansado e exausto, sem saber o motivo exato para isso. Suas aulas eram longas e chatas, mas relevava já que era seu futuro nas mãos. Era apenas um horário de um conteúdo de logística. Não vai dizer que não era importante, mas poderia perder só esse, e um bom sono seria necessário ali. Certo, ele achou que seria só esse. Acordou assustado com mãos em sua cabeça, com o rosto inchado ele olhou para quem era o dono das mãos que tocavam seus cabelos.

— Você é corajoso. — Seungmin sorriu.

— Foi só uma soneca e acordei no intervalo? — Coçou seus olhos, eles não estavam se acostumando com a luz.

Seungmin riu baixo e concordou com a cabeça.

— Que ótimo colega você é, nem mesmo para me acordar. —  Passou as mãos na nuca e observou a sala vazia.

— Você tinha que ver a cara da galera, achei que tinha morrido. — Novamente Seungmin riu naquela sala.

Estava irritado, aquela risada, as aulas perdidas e uma dor de cabeça constante. Ok, a culpa era dele, mas jurava que podia explodir só de ouvir a voz de Seungmin. Seu cansaço o deixava irritado e nada carinhoso, o que fazia sua personalidade amorosa e tímida sair, para entrar um ser horripilante e monstruoso. Naquele mesmo dia, descobriu um trabalho em dupla, que Seungmin se propôs a fazer com ele, não que ele não tenha se gabado antes. Como se alguém fosse o escolher. Era engraçado o estilo de vida de Seungmin na faculdade, ele simplesmente se achava o dono das mulheres e adorava jogar cartinhas; mesmo que ele nunca tenha dito que era o autor. E olha, elas riam timidamente, era hilário para Jisung.

Após passar o resto das aulas lutando para não dormir, Ji escutou o barulho irritante, mas consolador, do sinal para ir embora. O dia estava bom, um pouco nublado e friozinho. Se despedindo de Seungmin e seguindo caminhos contrários, andar até em casa era um desafio para Jisung. Ele almejava que Minho aparecesse como antes, mesmo que não dissesse em voz alta. Andando pelas ruas frias e com um casaco do pai; que ficava maior que o normal, pensou sobre o convite que Lee tinha fornecido. Realmente tinha que dar uma resposta logo, e ainda perguntar a Felix. A ideia de ir junto com Minho não é tão estranha, mas o efeito que seu corpo reagiu ao lembrar é diferente. Se arrepia, sua boca seca, as mãos ficam extremamente molhadas, e um sorriso de canto não desaparece. Só de lembrar dessas sensações faz pensar o quão sujo ele se sente, o quanto ele pode ser um pecador de merda. Isso já está o deixando com dor de cabeça.

Ao chegar em casa, o rapaz deparou-se com sua mãe costurando uma roupa no sofá. Notou que ela não estava se comunicando claramente com Zé, o que o deixou intrigado, embora qualquer coisa servisse como suposto "motivo". Ao passar por ela e subir as escadas, adentrou seu quarto desordenado. Exausto, Jisung jogou-se na cama, recordando-se do compromisso voluntário na igreja. Com aulas bíblicas para adolescentes do bairro, era hora de se preparar para estar presente. Com certa relutância, o jovem levantou-se, tomou seu banho e vestiu-se adequadamente. Ao se observar no espelho, deparou-se com um jovem repleto de medos, traumas e uma autoimagem desfavorável. Passou as mãos no rosto e lançou um olhar melancólico para sua própria reflexão.

Ao descer, percebeu que sua mãe já não estava no sofá; agora, era Lee que ocupava o lugar, absorto no celular, mantendo a mesma vestimenta de antes. Minho acabara de retornar da universidade. Ao passar por ele e tocar-lhe o ombro, Minho virou-se, oferecendo um sorriso amistoso.

— Está de saída? — inquiriu.

— Indo para a igreja — respondeu Han, demonstrando animação. Talvez a tristeza anterior tenha se dissipado com o sorriso de Minho.

Com um gesto afirmativo de Lee, o jovem que se retirava interpretou a questão como encerrada. Contudo, ao prestes a abrir a porta, ouviu a voz do moreno:

— Será que posso ir? — Minho levantou-se, ajustando a blusa amarrotada.

Surpreendido pelo questionamento, Jisung olhou-o, buscando algum indício de brincadeira, porém sem êxito. Com certo receio, assentiu com a cabeça. Minho, exibindo um sorriso afável, apoiou-se nos ombros do rapaz, dirigindo-se assim à igreja. O caminho não foi tão estranho; eles trocavam alguns assuntos e riam alto, algo que Jisung não fazia há algum tempo. Quando chegaram à igreja, que estava somente com o padre que logo foi cumprimentar. Após isso, com a assistência de Minho, organizou as cadeiras para a aula.

A ajuda de Han não era difícil; ele tinha que ensinar sobre Cristo para alguns jovens de sua igreja. Apesar de coroinhas e auxiliares serem mais qualificados, o padre se propôs a separar uma sala para que ele pudesse administrar aquilo. De certo modo, ajudou Han a se enturmar mais e esquecer aquela imagem de garoto rebelde que tinha recebido.

Agora, com a salinha organizada e as cadeiras dispostas em formato de círculo, Han e Minho se sentaram um na frente do outro, esperando os outros jovens chegarem.

— Pelo que me contou no caminho, parece que vem poucos adolescentes. — Comentou Minho.

— Estou com oito fixos, mas sempre dois ou um podem faltar. Eu gostaria de atingir mais pessoas, mas não sei como fazer isso. — Disse. — Aliás, não foi você que disse que não gostava de ir à igreja? — Lançou a pergunta, intrigado.

— Bom, eu gosto de ir à igreja, até o momento em que não falo nada de mim para alguém dentro dela. Eu acredito em um Deus amoroso, justo, mas que me vê do jeito que eu sou. — Soltou sua resposta.

Aquilo pegou Han de certo modo, já que tinha uma visão negativa do mundo em que Minho vivia. Ele não queria pensar muito nisso, uma vez que não o levaria a lugar algum, mas talvez tivesse que confrontar seus pensamentos uma hora.

Encantados | MinsungOnde histórias criam vida. Descubra agora