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O silêncio era opressivo dentro daquele carro. Minho, impaciente, conduzia o veículo enquanto Jisung e Felix permaneciam no banco traseiro. A noite que começara tão bem agora parecia distante, perdida em acontecimentos que marcariam a todos. Han ainda tinha lágrimas rolando pelo rosto, e Felix, com dedicação, as enxugava, tentando trazer um mínimo de conforto diante da situação angustiante.

Quando chegaram em casa, Minho permaneceu no carro, enquanto Felix se preparou rapidamente, segurando a mão de Jisung, que os seguiu. A casa não estava escura; pelo contrário, estava excessivamente iluminada. Enquanto caminhavam pelo gramado, Felix sussurrava palavras reconfortantes no ouvido do moreno, trazendo-lhe um senso de segurança. Ao se depararem com a porta, Han lembrou-se do conselho de sua mãe para se comunicar quando estivesse chegando. Jisung pegou o celular e olhou ao redor, avistando Lee ainda dentro do carro, falando ao telefone com alguém.

Com a ligação chamando várias vezes, Jisung resolveu que iria desistir. Assim, suspirou alto, sentindo uma mistura de frustração e cansaço. Ele olhou para o celular por mais um momento, desejando que a pessoa do outro lado atendesse, mas, sem sucesso, finalmente desligou e deixou o aparelho no bolso, resignado.

- Ela não me atende. - reclamou Jisung, deixando Felix suspirar em desânimo. - Vamos ter que dormir aqui fora com o Dex. -  ele apontou para o vizinho, indicando que o mesmo vivia deixando seu cachorro sair e entrar no seu quintal. A sensação de frustração aumentava, e a incerteza sobre como resolver a situação os deixava ainda mais ansiosos.

- Espere um segundo -, disse o loiro, aproximando-se da porta e notando uma pequena fresta. Felix sorriu para Jisung e abriu a porta com delicadeza, revelando um interior escuro e conhecido. O coração de Jisung acelerou enquanto ele seguia Felix, sua única âncora em meio à escuridão.

Ao entrar em casa, Jisung encontrou a televisão ligada em um canal qualquer e o sofá totalmente bagunçado. "O que está acontecendo?" perguntou a si mesmo em sua mente. Ele acendeu a luz da sala, revelando a verdadeira situação: roupas jogadas no chão, almofadas caídas pela sala e alguns porta-retratos virados para baixo. Ele ficou observando, junto a Felix, que também não estava compreendendo a bagunça. A sensação de inquietação aumentava à medida que eles examinavam cada detalhe, tentando entender o que poderia ter causado aquilo.

Com rapidez, Jisung subiu para o quarto de sua mãe, preocupado com a possibilidade de a casa ter sido invadida. Nesse momento, Felix não o seguiu, ficando lá embaixo, ainda com medo. Jisung bateu na porta do quarto de sua mãe, mas não obteve resposta. Ele bateu novamente e, então, ouviu a porta sendo destrancada. Sua mãe abriu a porta, escorada nela, e arregalou os olhos ao ver seu filho ali, esperando do outro lado.

- Han Jisung? O que aconteceu? - Sua voz era trêmula e ansiosa, refletindo a inquietação. Seus olhos se fixaram nos dele, procurando por respostas enquanto seu coração batia forte no peito.

- Eu voltei para casa, Mãe. O que houve lá embaixo? está tudo jogado no chão. - ele disse, mas foi pego de surpresa quando a porta foi aberta bruscamente, revelando um homem com o rosto avermelhado e os olhos sonolentos. Ele não estava com suas roupas de cima e o cabelo bagunçado, revelando o que estava acontecendo. A tensão no ar era palpável, e Jisung sentiu seu coração acelerar ao perceber a situação em que se encontrava.

- Quem é esse? Seu filho querido? - O homem chegou bem perto de Han, fazendo um carinho em suas bochechas, mas o garoto logo se desgrudou dele, olhando para sua mãe em busca de uma explicação. O clima tenso pairava no ar, enquanto todos aguardavam a resposta da mãe de Han, que parecia atordoada e sem saber o que dizer.

- Ei, para com isso, Joonho. - ela puxou o homem para dentro do quarto novamente, vendo-o rir e se jogar na cama. Jisung sentia um misto de repulsa e perplexidade, sem saber o que dizer ou como reagir àquela situação. - Jisung...

- Você está traindo o papai? - Ele perguntou baixo, com incredulidade evidente em sua voz. O choque e a confusão se misturavam em seus olhos enquanto aguardava a resposta, sem querer acreditar na possibilidade do que estava presenciando.

- Han, por favor, não conte isso a ninguém. A igreja, os vizinhos, eles...- Ela tentou terminar a frase, mas foi interrompida pela voz alta e firme do rapaz moreno ecoando pelo corredor. Seus olhos se encontraram em um momento de intensa emoção, carregado de significados não ditos, enquanto o peso da situação se fazia presente entre eles..

- Eles? Mãe! Você não está vendo o que está fazendo!? Eu sou seu filho, não a igreja, não os vizinhos. - disse, deixando as lágrimas rolarem livremente pelo seu rosto. - Porra! -  Ele xingou alto, surpreendendo até mesmo sua mãe com a intensidade da sua emoção. - Você me odeia? -  Jisung perguntou, ajoelhando-se ali mesmo, sem se importar com as consequências, apenas querendo entender a razão por trás da traição da sua mãe.

- Para de ser dramático, Jisung! - A mãe chegou perto do rapaz. - Você acha que sou o que? Eu estou em constante pecado, mas ninguém precisa ficar sabendo dos meus problemas.

- Mãe. -  ele fungou, lutando para conter as lágrimas. - Todo esse tempo, desde criança... Eu me marginalizei, achei que era um pecador de merda, só porque sentia atração por homens. Você sabe como me fez sentir todos esses anos? - Jisung se levantou, encarando a mãe nos olhos. - Eu nem mesmo me importava se Deus não gostava ou achava abominável, eu só não queria te decepcionar.

- Han Jisung, não me culpe por seus problemas. Desde a infância, você tem se comportado assim. E nem mesmo tente negar, você sabe muito bem que é um sujo. - Ela apontou o dedo na direção de seu próprio filho, que agora estava em prantos, chorando como uma criança, com o coração partido pela falta de compreensão e apoio da pessoa que mais deveria entendê-lo.

Ele enxugou as lágrimas com as costas das mãos, ergueu o rosto para encarar a mãe com determinação. Era uma atitude diferente da que ela esperava; antes, ele apenas teria baixado a cabeça e seguido a vida normalmente. Mas agora algo dentro dele mudara. Uma chama se acendeu em seus olhos, uma mistura de dor, raiva e determinação. Ele não podia mais se calar, não podia mais aceitar ser julgado e rejeitado por ser quem era.

- Sabe o que foi melhor? É que hoje eu tive a oportunidade de sentir como é beijar alguém que eu gosto. E adivinha? Eu gostei, e com certeza seu filho sujo irá fazer de novo. - disse, suas palavras cruas e firmes ecoando pelo cômodo, enquanto sua mãe não conseguia esconder a raiva que sentia. Com um impulso consciente, ela levantou o braço e deu um tapa forte no rosto de Han, que virou o rosto pela força do golpe. A sala ficou em silêncio, apenas o som do choro abafado de Jisung preenchendo o espaço.

Com passos apressados ecoando pelo corredor, Minho e Felix chegaram ao corredor, mas já era tarde demais. A senhora havia se trancado dentro do próprio quarto. Jisung permanecia desolado no chão, absorto em sua dor, mal percebendo quando Minho o ergueu nos braços e o levou de volta ao carro, onde Lee já estava no volante, dirigindo com pressa.

A atmosfera dentro do veículo era pesada, carregada com a tristeza e a incerteza do que viria a seguir. Felix, ao lado de Jisung, chorava e o abraçava com força, como se temesse perdê-lo a qualquer momento. O silêncio era interrompido apenas pelo som do motor rugindo e pelos soluços abafados de Jisung, enquanto o carro seguia em meio à noite, levando consigo uma família despedaçada pela revelação devastadora.

Encantados | MinsungOnde histórias criam vida. Descubra agora