Um pouco mais verdade que uma mentira

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Mitsuba estava com o celular na mão deitada no sofá da sala com a televisão e luz desligadas, pensando se era uma boa ideia mesmo colocar seu plano de descobrir se era adotada em prática.

Sua primeira ideia foi de falar com sua irmã, afinal ela provavelmente seria franca sobre o assunto, mas não sabia quando ela voltaria para casa, por isso escolheu recorrer por outros meios.

Ligou para o número de sua mãe, que atendeu com uma voz preocupada:

—Filha?

—Oi, mãe. —respondeu.

—Está tudo bem?

—Sim.

—Por que me ligou essa hora? Aconteceu alguma coisa?

—Não, só queria te perguntar umas coisas.

—Pode dizer. —respondeu ainda aflita.

—Por acaso eu sou adotada?

—Porque está me perguntando isso? —o tom da mulher mudou, estava visivelmente brava, o que era estranho, pois quase nada irritava-a.

—Porque... —ela engoliu seco tentando manter-se neutra mesmo blefando. —minha irmã disse que eu sou adotada.

—A Aoi? —perguntou desacreditada.

—É.

—Ela falou brincando. —afirmou furiosa, e em seguida foi possível escutar o som de algo de vidro quebrando do outro lado da ligação.

—Eu acho que não, —continuou a mentir, pois ficou curiosa com a reação estranha da outra, —ela parecia séria.

—Mitsuba, passa o telefone para a Aoi agora. —mandou de maneira dolorosamente áspera.

—Ela está trabalhando.

—Tá bom, —bufou, —esquece sobre isso, Mitsuba, tchau. —e antes mesmo da loira responder a ligação já tinha sido encerrada.

O ambiente naquela casa solitária ficou pesado, e a adolescente temia a consequência impensável de sua mentirinha.

Subiu para seu quarto, trajou o pijama e ficou vendo as horas passar acumulando borboletas no estômago, mas não no sentido bom, e sim no buraco negro que eletrizava a ponta de seus dedos em ansiedade.

Ligou o celular umas vezes abriu algumas outras o WhatsApp, vagou pelo grupo do Outro Lado e também pelo contato de Shinoa perguntando se não deveria falar o que aconteceu, mas escolheu ficar angustiada em um silêncio esmagador andando de um lado para o outro descalça em cima do tapete felpudo.

A garota ouviu o alarme do carro em sua garagem, e alguns minutos depois, a porta não principal da sala de estar sendo aberta abruptamente e fechada com intensidade, promovendo altos sons.

—Mitsuba! —a voz feminina ecoou por toda a casa.

Normalmente a casula sairia de seus aposentos irritada e pronta para brigar de volta, com a garganta ensaiada para dar gritos mais altos do que a outra loira conseguiria, porém dessa vez saiu de mansinho.

Da parte de cima da escada viu Aoi na sala com os punhos cerrados, mordendo os lábios, íris dilatadas e o olhar mais feroz que já observou em um ser humano. Nunca tinha visto ela tão furiosa, nem quando colocou fogo na cozinha, nem quando rasgou o vestido do baile da mais velha, nem mesmo quando destruiu o banco do carro recém comprado.

—Desde quando você sabe que é adotada? —gritou.

—Eu sou adotada? —sussurrou para si mesma.

—Fala alto! Agora você pode gritar, merda!

Piquenique do Outro Lado - {MikaYuu}Onde histórias criam vida. Descubra agora