Capítulo 3

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Minha lista de desejos, tudo que eu poderia escrever.
Minha lista de desejos, tudo bem ao meu lado.
Minha lista de desejos é só eu.
(Wish List – Canyon City)


Lembro que eu estava na aula de Astrofísica de Altas Energias, totalmente alheio às explicações do professor a minha frente. O quadro negro estava inteiramente preenchido com informações acerca da radiação síncrotron, mas as minhas anotações estavam escritas pela metade. Eu simplesmente não conseguia focar na aula que estava sendo ministrada a poucos metros de mim.

Em todos os meus três anos estudando naquela universidade, aquilo nunca havia acontecido comigo. Nunca perdi a concentração em alguma explicação, nem mesmo nas aulas mais entediantes como Álgebra Linear ou até mesmo Vetores e Geometria.

O que estava tirando a minha atenção naquele dia? Bom, um simples pedaço de papel amassado e com a tinta da caneta borrada por água. Um simples pedaço de papel que, por acidente, foi misturado com os outros papeis das minhas anotações. Um simples pedaço de papel com a sua letra preenchendo cada uma das linhas.

E eu ainda me lembro do que estava escrito no canto superior: Lista de Tarefas de Saturn M. Campbell.

Eu estava tão intrigado com a sua lista, Saturn. Cada item me fascinava de um jeito particular e único. E sim, eu passei minutos inteiros divagando sobre cada um deles. Como por exemplo o item número um que, para mim, não fazia o mínimo de sentido.

Primeiro item: comer morangos frescos. Ora, bastava ir ao mercado mais próximo do seu alojamento e comprar uma bandeja com alguns morangos. Era algo tão simples e rápido para ser feito. O detalhe que me chamou a atenção era que esse item não estava riscado, ou seja, não estava concluído.

Segundo item: patinar no gelo. Certo, se eu tivesse uma lista como a sua eu também escolheria patinar. Não porque eu gosto, até porque eu sou péssimo em tudo que envolve equilíbrio, mas porque parece ser divertido tentar se manter em pé na neve. Coisa que eu jamais faria na frente de alguém.

Terceiro item: esquecer Christopher. Então Christopher era o nome do seu ex-namorado, pensei comigo mesmo. Se não, era ex-qualquer-coisa-nesse-sentido. Lembro de fazer uma anotação mental para descobrir algo a mais sobre ele e o porquê você queria esquecê-lo.

Quarto item: me sentir bonita de novo. Lembro que, após ler esse item, eu apoiei o pedaço de papel amassado sobre a minha mesa, afastando-me dele. Aquela era uma lista pessoal demais, e lê-la parecia errado. Parecia errado porque eu estava lendo você, Saturn, lendo o seu íntimo. E conhecer as suas inseguranças antes mesmo de conhecer você era estranho. Era contra a ordem natural de qualquer relação social.

Lembro que voltei a minha atenção para fazer as anotações das informações relevantes que o professor dizia, mas o meu foco não durou mais que alguns breves minutos, porque vez ou outra os meus olhos ainda se voltavam, involuntariamente, para o pedaço de folha amassada. A sua folha amassada. Afinal, a minha curiosidade falava mais alto que qualquer outra coisa naquele momento.

Quinto item: ver Saturno em um telescópio. A minha mente deu um pequeno estalo. Eu tinha um telescópio em meu dormitório, mas você ao menos sabia disso até aquele momento. E não, eu não faria questão alguma de contar a você. Eu mal a conhecia.

Sexto item: nadar em um lago. Procurei em minha mente alguma lembrança minha, nadando em algum lago, mas não encontrei. Nunca havia feito aquilo antes.

Sétimo item: me permitir chorar. Parei de ler mais uma vez. Aquilo era profundo e um pouco... triste, para ser sincero. Quer dizer, não sei ao certo se você estava se referindo a lágrimas de alegria, mas, caso não, aquilo era triste. Você guardava muita coisa dentro de si e ao menos conseguia expor esses sentimentos. Assim como a mim.

Violetas em SaturnoOnde histórias criam vida. Descubra agora