Caramba, você é tão linda
E você não sabe disso?
Você não? Você não?
Eu acho que você sabe.
(Ur So Beautiful – Grace VanderWall)
Eu respiro profundamente, e sinto o ar frio encher o meu peito, lentamente. Seguro o celular entre os meus dedos para checar a hora. Falta apenas vinte e cinco minutos para acabar o horário de visitas. É chegada o tempo das últimas lembranças do terceiro dia.
Escuto a porta do 502 ser aberta, repentinamente. Viro o meu rosto em direção a entrada do quarto do hospital. Os meus olhos encontram uma pequena garotinha que está apoiada nas pontas do pé para alcançar a maçaneta.
– Oi. – É tudo o que ela diz para mim. Ela parece estar tão surpresa quanto a mim.
Aperto os meus olhos e, então, lembro-me que foi esta mesma garota que acenou para mim no corredor do hospital, a mais ou menos uma hora atrás.
– Oi. – Ergo as minhas mãos para o alto, acenando de volta. Ela está perdida por aqui? Será que eu devo chamar uma enfermeira?
Ajusto o óculos em meu rosto, observando-a atentamente. O seu olho é um azul claro intenso, ao contrário do meu, que é azul escuro, quase se aproximando do castanho. Ela tem bochechas grandes com pequenas sardas espalhadas pelo seu rosto. A garota deve ter mais ou menos oito anos, e ela está usando um vestido lilás.
Mas o que me chamou a atenção não foi o seu rosto ingênuo e angelical. O que me chamou a atenção foi o seu cabelo, ou melhor, a ausência dele. A sua cabeça está perfeitamente lisa, e ela ao menos possuí sobrancelhas, bom, pelo menos eu não as vejo daqui. Em seu pulso há uma pulseira amarela. E em sua outra mão há um pequeno acesso fechado, aguardando as futuras passagens de medicamento ou de soro. Há, também, um curativo na veia do seu braço.
A garotinha não está perdida. Ela é uma paciente do hospital, assim como Saturn.
– Eu sou a Violet. – Ela diz, quebrando o silêncio constrangedor do quarto 502. Violet lentamente solta a maçaneta e fecha a porta atrás de si mesma.
Lembro-me da lista de tarefas de Saturn. Lembro-me especialmente do décimo sétimo item: acompanhar o tratamento de Violet. Oh, então essa é a famosa Violet, uma antiga amiga de Saturn.
– Eu sou o Ocean. – Sorrio, tímido.
– Ora, eu sei quem é você. – Ela caminha até a cama onde Saturn está deitada e, então, com a ajuda de uma escada de 3 degraus que há por lá, sobe na cama, finalmente se sentando ao lado de Saturn. – Eu vejo você visitando ela todo dia. – Violet olha para mim. – E ela me falava bastante sobre você.
– Ah, é mesmo? – Arqueio as sobrancelhas, surpreso. O sorriso que espontaneamente alcança os meus lábios denuncia a felicidade que eu sinto ao saber que Saturn falava sobre mim para outras pessoas. Por um breve momento eu observo o corpo de Saturn repousado sobre a cama, imaginando como ela ficava quando falava sobre nós para a Violet. – E o que é que ela falava sobre mim?
– Ela falava tudo! Tudinho mesmo! – A garota rapidamente balança a cabeça para cima e para baixo, confirmando o que acabara de dizer. – Ela falava que você era muito, muito inteligente. E ela me falou que você sabe fazer vários tipos de conta, tipo um milhão mais mil e quarenta e dois! – Violet arregala os olhos, animada com a própria fala.
– Poxa, essa é uma conta muito difícil mesmo... – Ajusto o óculos em meu rosto enquanto finjo estar fazendo o cálculo nos dedos. – Mas acho que sei fazer.
– Uau. – Ela sussurra, baixinho, impressionada. Sorrio de lado com a sua reação. – Ah, e ela me contava tudo o que vocês faziam. Tipo o dia que você ensinou ela a andar de bicicleta. Achei muito legal que você cuidou dela quando ela caiu. – Violet balança a cabeça novamente. É adorável. – Ou então quando você explicou como os raios acontecem. Ah! E ela me contou que você disse que nós somos feitos de estrelas brilhantes.
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Violetas em Saturno
Romance🏅 Vencedor do Prêmio Watts 2023 | Romance ❝Desde pequeno eu admiro o universo e seus mistérios, mas foi você, com toda a sua pureza, que me mostrou a beleza em fazer parte dele.❞ Ocean Davis Cooper, um cético e solitário astrônomo, busca desesperad...