Capítulo 24

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Existe essa visão que eu tenho pensado
Poderíamos estar colhendo morangos e
Tomando banho lá fora.
(Isle of Strawberries – Edwin Raphael)


Lembro do exato momento em que você entrou no carro.

Você se sentou sobre o banco do passageiro e colocou a sua bolsa no chão. Lembro que você usava um vestido comprido branco, com pequenas flores amarelas e laranjas bordadas por todo o tecido. Algumas pulseiras cobriam o seu pulso esquerdo, como na festa em que a conheci. Você estava linda naquela tarde, Saturn. Absolutamente linda.

Você olhou para mim após fechar a porta ao seu lado e, então, sorriu timidamente ao perceber o jeito como eu a encarava. E eu não fiz questão alguma de esconder a minha admiração por você naquele dia. "Oi, garoto astrônomo." Você me cumprimentou.

Logo depois de prender o seu cinto, você se aproximou de mim, lentamente, pronta para me beijar. Mas, então, a minha irmã inclinou o corpo para frente, colocando o rosto dela entre os nossos. "Oi, Saturn!" Ela exclamou animada. Havia um grande e inocente sorriso no rosto dela.

"Ah." O ar escapou entre os seus lábios. Você apertou os olhos e os intercalou entre eu e Sea, rapidamente, parecendo estar confusa com tudo aquilo. "Oi, Serena." Você cumprimentou, brevemente. Lembro que, depois que minha irmã voltou a encostar no banco de trás, você inclinou a cabeça, esperando a minha explicação.

Conferi o retrovisor por um segundo, conferindo se Sea havia posto o fone de ouvido novamente. "Eu sei que eu disse que seria apenas nós dois..." Sussurrei baixinho, na esperança da minha irmã não ouvir aquela parte inicial. "Mas a minha mãe está cobrindo um plantão e o meu pai teve que correr de última hora para o hospital. Pelo visto deu alguma complicação em um parto. Como sempre." Murmurei.

Você apoiou a mão em minha perna e sorriu minimamente. "Está tudo bem, Ocean." Você falou. Sorri.

Ouvi Sea coçar a garganta propositalmente enquanto olhava seriamente em direção à sua mão. Eu já disse que ela morria de ciúmes de você, Saturn? "Nós vamos ou não?" Ela perguntou enquanto cruzava os braços, brava.

Eu ri e, então, liguei o carro para finalmente tirá-lo do estacionamento do alojamento.

Pelo canto dos olhos eu percebi que, quando já estávamos na rua, afastando-nos dos prédios e blocos da universidade, você começou a ler as placas do trânsito, confusa com a direção que eu estava seguindo. "Acho que agora é uma boa hora para eu perguntar onde é que estamos indo, garoto astrônomo." Você falou.

Eu ajustei o óculos em meu rosto, segurando o sorriso que insistia em alcançar os meus lábios. Fingi dar de ombros e continuei a olhar para as ruas a minha frente. "E eu acho que agora é uma boa hora para continuar a deixar essa informação em segredo, Saturn." Balancei a minha cabeça minimamente.

Você encostou a cabeça sobre o banco e respirou profundamente. "Isso é injusto." Você olhou para mim e sorriu.

Pelo canto do retrovisor, percebi que Sea retirou os fones de ouvido que estava usando. Ela olhou para mim e para você por um instante. "A Saturn não sabe onde estamos indo?" Ela perguntou, sorrindo de canto. Sea cruzou as pernas em cima do banco, deu de ombros e, então, ela mexeu brevemente em sua calça jeans nova. "Eu sei."

Você arregalou os olhos e, no mesmo instante, virou a cabeça para trás, completamente esperançosa em arrancar alguma mísera informação da minha irmã. "É mesmo, Serena?" Você me olhou por cima do ombro. "E onde exatamente estamos indo?" Você finalmente perguntou, apertando os olhos para ela.

Violetas em SaturnoOnde histórias criam vida. Descubra agora