Honra do Silêncio

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Rhiannon

Caminhar por esses corredores incertos consumia-me, enquanto a ansiedade me agarrava implacavelmente. Cada passo em direção à unidade de imigrantes era uma jornada tortuosa, cercada por pensamentos sombrios que dançavam em minha mente.

Minha ficha, o documento que contava minha história, havia sido rejeitada.

Quando entregamos os documentos para análise na guarda da fronteira, uma das fichas foi barrada, mais especificamente a minha.

Eu já imaginava que isso aconteceria; se não fosse a minha, seria a de Atticus, Seraphina ou até mesmo Tristan. O único documento intacto da família, que não passou por alterações ilegais, era o de Cedric; os demais eram fraudulentos.

Cada cidadão de Caleumoria possuía uma ficha, um resumo de sua história em poucas folhas. Elas registravam feitos, qualidades, defeitos e crimes. Também relatavam os reinos em que vivemos, escolas frequentadas e habilidades, incluindo não apenas poderes, mas também artes marciais.

O histórico familiar e a árvore genealógica também eram registrados. Embora a família não tivesse sido informada sobre o motivo específico das suspeitas levantadas pela minha ficha, sentia que aquela página, com as informações de minha família, alertou os guardas de que algo estava errado.

Esse era o verdadeiro motivo pelo qual estávamos nos mudando para Umbralia. Eu não estava fazendo isso por vontade própria.

Apesar de Umbralia ser um reino próspero, oferecendo muitas oportunidades para um futuro melhor, especialmente para as crianças, eu estava apenas seguindo as ordens de Tristan ao viajar para lá. Ele se mudava para se proteger, proteger-se quando as mentiras fossem reveladas e a verdade viesse à tona.

Tristan ignorou as advertências sussurradas pelo vento noturno e construiu seu castelo de enganos nas areias movediças da falsidade. Enquanto tecia teias de ilusões, o destino começou a traçar seu plano. As sombras da verdade espreitavam como espectros sedentos de justiça, prontas para emergir como um vulcão adormecido. E assim, a verdade, como um falcão astuto, pairaria majestosamente nos céus, clamando seu triunfo enquanto as falhas de Tristan eram expostas para todos verem.

Mas ele fugiu antes de enfrentar as consequências de seus atos, fugiu e obrigou os filhos a irem junto. Embora o assunto fosse proibido entre nós, Tristan sabia que os filhos tinham noção das coisas que ele havia feito e que não hesitariam em entregá-lo para enfrentar as consequências de seus pecados, seja pelas mãos das deusas ou pelos guardas do antigo lar.

Eu sabia de tudo, testemunhara cada ato atroz. No entanto, algo dentro de mim ainda tinha esperança de que as crianças tivessem sido poupadas, poupadas de ver a mulher cujo nome ocupava o campo de mãe em suas fichas morrer nas mãos do marido, implorando por misericórdia.

À frente de mim, meus arredores revelavam um cenário encantador e repleto de magia. O prédio ao qual eu e minha família nos dirigíamos possuía uma arquitetura que transcendia a imaginação, uma combinação de elementos élficos com toques de mistério. A estrutura, construída com pedras antigas enegrecidas pelo tempo, exalava uma aura de grandeza e história.

A fachada do prédio apresentava uma imponência discreta à primeira vista. As paredes de pedregulhos eram ricamente decoradas com entalhes retratando criaturas míticas, cenas de batalhas épicas e seres feéricos. Uma suave luminosidade solar irradiava até os vitrais coloridos das janelas que retratavam figuras etéreas e paisagens fantásticas, fazendo-me imaginar o interior do local banhado em brilho.

As árvores altas e frondosas ao fundo da construção estendiam seus galhos em direção ao céu, cobrindo a área com um dossel verdejante. Flores selvagens pontuavam a paisagem com aromas suaves que enchiam o ar, despertando uma sensação de tranquilidade e serenidade em mim.

Caminhando Em Direção Às SombrasOnde histórias criam vida. Descubra agora