"Shadows fall over my heart
I blackout the moon
I wait for you to come around
You got me dancing in the dark
I've closed my eyes
But I won't sleep tonight"
— The Score
Rhiannon
Se havia algo que aprendi com a vida que tive, era que, lá no fundo, todos desejamos acreditar que, em momentos difíceis, agiremos como heróis, corajosos e íntegros, sem nos preocuparmos com perdas pessoais ou qualquer outra coisa. Na minha cabeça, quando as coisas se tornassem sérias, eu depositava minha confiança numa coragem que acumulei ao longo do tempo, inspirada pela bravura genuína de meu próprio pai.
Meu verdadeiro pai.
No entanto, isso era o que eu gostava de pensar antes da eclosão da Grande Guerra, quando me vi confrontado por algo que nunca imaginei que alcançaria a mim ou a minha família. Assistir à morte de meu pai diante de seus atos corajosos foi um ponto de virada para mim, fazendo-me perceber que talvez não fosse tão forte quanto imaginava.
Desde o primeiro suspiro, a vida me ensinou o sabor amargo da solidão. Cresci sem o conforto de um lar, sem o toque acolhedor de uma mãe ou as brincadeiras ao redor de um pai. Não houve risadas em casa, apenas o eco dos silêncios entristecidos.
Fui forjada pela ausência, moldada pelos vazios que a guerra cruel deixou em minha história. Não escolhi a batalha que dilacerou minha família, não pedi para ser uma peça neste tabuleiro de conflitos que me arrancou a inocência.
Meu coração carrega as cicatrizes de uma dor que não deveria ser minha. Cresci entre ruínas, entre lembranças quebradas de um passado que jamais tive a chance de vivenciar por completo. Onde outros encontravam conforto nos braços dos entes queridos, eu buscava abrigo na solidão, nos cantos escuros da ausência.
A guerra roubou mais do que vidas, ela me privou do direito de conhecer o amor familiar. Cada aniversário, cada momento especial, foi marcado pela falta, pela sombra do que poderia ter sido, mas nunca foi.
A raiva ferve em mim, não contra indivíduos, mas contra o destino impiedoso que me negou a felicidade que vi nos olhos de outras crianças. A dor se entranha em cada fibra do meu ser, um fardo que carrego sem ter escolhido.
Às vezes, olho para o céu noturno e me pergunto se as estrelas testemunharam a tragédia que se abateu sobre mim. Seus brilhos distantes parecem distorcer-se, como se ecoassem minha própria alma dilacerada.
Sou uma vítima de uma guerra que não iniciei, uma sobrevivente entre destroços que não escolhi.
Então, depois de tudo isso, passei a enxergar a coragem como algo de quantidade limitada. Ao cuidarmos dela, deixando-a crescer ao longo do tempo, fortalecemos nosso interior, preparando-nos para os momentos cruciais. Contudo, algo pode vir e apagá-la, contra nossa vontade, algo suficientemente aterrorizante para nos fazer entender que a coragem não é eterna. E nada disso é culpa nossa. Não foi culpa minha. Ou, pelo menos, era o que eu gostava de acreditar.
No início de alguns calendários passados, meu pai foi convocado pelo nosso reino para lutar em uma guerra que detestava. Eu tinha dez anos. Jovem, sim, e politicamente ingênua, mas mesmo assim, a Grande Guerra me parecia equivocada. Sangue estava sendo derramado por razões incertas. Não via unidade de propósito, nenhum consenso em questões de filosofia, história ou lei. Os próprios fatos estavam envoltos em incerteza: era uma guerra contra um povo? Uma guerra de libertação ou simples agressão? Quem a começou, e quando, e por quê?
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Caminhando Em Direção Às Sombras
FantasyEm um reino antigo, onde clãs competem por território e poder, Rhiannon, filha de líderes de clãs distintos, vê sua vida virar ruínas quando sua família é brutalmente assassinada durante uma guerra que visava exterminar povos considerados uma ameaça...