Karma do Silêncio

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"So be careful how you talk to me

'Cause there's only one king

And there's only one crown

And there ain't enough room for us both on the throne

So it's 'bout to go down

So you better start running

Because I'm coming right now"

- Only One King, Jung Youth


Ponto de vista Valerius

Sentado no chão da varanda do andar de baixo da cabana caindo aos pedaços, a visão diante de mim era sombria e assombrosa. O casebre em que me encontrava era de madeira velha e desgastada, com telhas de ardósia prestes a desmoronar. As paredes estavam cobertas de musgo e líquen, evidências do tempo implacável e da falta de cuidados. A varanda rangia sob o meu peso, e o ar estava frio e úmido, carregando o cheiro de terra molhada e folhas em decomposição.

Esse lugar era nossa base, pois era o ponto de Infernus mais próximo da passagem que havíamos encontrado e ainda era habitável.

Draven estava sentado ao meu lado com um copo de plástico na mão, cheio de um líquido transparente que eu sabia que não era água. Ele observava o caminho ladeado por árvores altas e esqueléticas, suas cascas brancas e retorcidas como ossos de gigantes. Galhos nus se estendiam para o céu cinzento, como dedos implorando por redenção. A floresta era densa e envolta em névoa, tornando difícil ver além de algumas dezenas de metros. A tensão no ar era quase palpável, uma presença invisível que parecia observar cada movimento nosso.

Amanhã nosso destino seria selado. Era tudo ou nada. Vencer ou perder. Viver ou morrer. Mas independente dos resultados, pelo menos não estaríamos mais presos aqui, exilados.

Olhei para Draven, tentando ler seus pensamentos, mas ele estava de costas para mim. Sabia que, apesar de sua experiência com bebidas, uma careta residia em seu rosto. Asa, a responsável por estocar as bebidas, tinha um gosto peculiar e bebia mais que um troll em noite de lua cheia.

Com meus braços cruzados, apoiei meu ombro em um dos pilares de concreto que segurava aquela espelunca de pé, tentando permanecer em silêncio. Entendia que, às vezes, a única coisa que queríamos era um momento de paz, longe de tudo e todos, apenas um momento de silêncio para escutar nossos pensamentos e encarar nossos maiores demônios. Algo me dizia que Draven precisava desse tipo de silêncio.

Às vezes, a única bússola que nos orienta é o silêncio compartilhado conosco mesmos. Em meio ao tumulto incessante do mundo, encontramos refúgio na solidão, onde podemos despir as camadas externas e confrontar nossas vozes internas. É nesse diálogo íntimo que descobrimos a verdadeira natureza de nossos pensamentos e encaramos nossos demônios.

Olhando para Draven, meu amigo de longa data, era impossível não recordar os inúmeros desafios que enfrentamos juntos. Unidos por laços que nem o tempo, nem as adversidades conseguiram romper. A intimidade nasceu da superação conjunta de dificuldades, de enfrentar juntos tempestades que muitas vezes pareciam prestes a nos engolir.

Relembro os dias em que as lágrimas compartilhadas eram mais frequentes que as palavras. Cada cicatriz em nossas vidas era um testemunho de nossa resiliência mútua. Éramos cúmplices na trama complexa da vida, forjando uma amizade que transcendia o comum.

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⏰ Última atualização: Jun 15 ⏰

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