Capítulo 11 - Difícil lidar com a paixão e as coisas do coração

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Narrado por Charlotte

Expectativas são coisas que nunca tinham me feito sofrer. Talvez, porque eu sempre esperava o pior das situações, das pessoas, das coisas.

Mas, minha mãe dizia que o amor, a paixão e as coisas do coração, destoam de tudo e de todas as coisas, e de fato, me magoar com as expectativas altas que eu havia criado diante Evan, pareceu fora da realidade, parecia algo que eu não sofreria normalmente, parecia uma coisa nova.

E sim, eu tinha criado muita expectativa, baseada em nada. Nenhum cara tinha me olhado daquele jeito, me tocado daquele jeito, me feito sentir daquele jeito. Por muitas noites antes de dormir, imaginei como seria se ficássemos juntos, imaginei nós dois andando de mãos dadas, imaginei ele deitado na minha cama, imaginei conversas entre nós que nunca aconteceriam, imaginei 1001 coisas em uma realidade paralela onde ele me queria tanto quanto ele me queria naquela noite.

E como eu lidaria com a ideia de um relacionamento com uma versão de uma pessoa que pareceu só ter existido na minha cabeça?

Evan e eu nos vimos poucas vezes até o fim do verão. Evitei de olhá-lo quando ele ia nos visitar, evitei de ficar perto, cumprimentar e me despedir. Queria ele longe, queria que nunca tivesse que vê-lo, mas, infelizmente, vez ou outra me deparava com o seu rosto.

Seus olhos não se cruzavam mais com os meus, sentia que ele não me olhava mais, e as coisas esfriaram por completo. Ele estava feliz com a Camila, mais que nunca. E eu, estava tentando lidar com o fato de que eu fui iludida pelos meus próprios desejos.

Quando Evan me disse que estava bêbado, como justificativa, me fez sentir como se eu sequer fosse uma pessoa, como se fosse só um objeto para agradá-lo. Era exatamente como eu me sentia quando meu pai ficava extremamente bravo por eu simplesmente vazar um pouco do molde dele.

E era aí que me pegava; se doeu tanto, se eu fiquei tão triste, se me senti tão baixa, tão objetificada, tão usada, iludida e idiota... Por que eu queria que ele fizesse tudo de novo?

Tinha um pouco de receio de tocar meu próprio corpo, não sentia que eu tinha a permissão. Mas só de lembrar das mãos de Evan me tocando, dos seus lábios nos meus, seus olhos nos meus depois de me beijar e me deixar sem palavras, sua expressão enquanto ele ajoelhava na minha frente e tirava lentamente minha calcinha... Eu ficava em transe, em êxtase.

Quando o via, não conseguia mais tirar da mente aquele olhar fervendo sobre mim, ainda que ele tivesse esfriado.

O que tornava tudo mais difícil, e mais doloroso.

Enfim, o verão tinha que acabar em algum momento, e eu tive que me despedir das minhas amigas, vê-las tristes porque eu iria ficar, e elas iriam para longe. Mas, para ser sincera, estava feliz por estar onde estava. Triste por elas irem, mas feliz também por elas estarem felizes onde estavam.

Todas nós estávamos devidamente onde devíamos estar.

E o primeiro dia de aula veio. Tudo absurdamente diferente da escola, como eu imaginei. Mas, já me encantei pela primeira aula que tive, bem como, as seguintes naquela semana.

E as semanas foram passando. Não ligava de estar sem companhias, afinal, era a faculdade, eu só queria realmente estudar, não via a necessidade de ter companhias.

Até que fizeram o trote com os calouros. Que, basicamente envolvia uma festa a fantasia, que eu tinha certeza desde o começo que só os calouros estariam fantasiados. Todos os alunos de moda foram convidados e a presença, como dizia no convite, era "obrigatória", e a fantasia também.

E chegando lá, como eu imaginava, só os calouros estavam fantasiados como se fosse halloween. Todos os calouros tiveram que competir quem virava os 5 shots servidos para cada primeiro.

E enquanto eles se deterioravam bebendo aquela vodca barata em doses maiores do que aguentavam, trajando fantasias péssimas e mal-feitas, eu os observava do canto da cozinha, sem fantasia alguma, fingindo ser uma veterana.

— Algo me diz que você devia estar ali com eles. — disse um cara alto ao meu lado, me fazendo erguer a cabeça para olhá-lo.

— E por quê? — indaguei. — Por acaso sou caloura?

— Tenho certeza que é. — ele disse.

— Eu não. — sorri. — É meu segundo semestre.

— Que mentira. — ele riu. — Eu lembraria de você?

— Por que eu sou bonita? — perguntei.

— Porque você parece uma adolescente de 15 anos perdida. — ele riu.

— Nossa senhora... — disse, colocando a mão no peito. — Me senti ofendida.

— É brincadeira. — ele riu, estendendo a mão para me cumprimentar. — Mas não muito... E meu nome é Nate.

— Hm. — o cumprimentei. — Charlie.

— Bonito. É apelido para Charlotte?

— Isso. — disse, soltando sua mão. — A maioria do pessoal de moda é mulher. Devo subentender que você é gay?

— Meu deus, claro que não. — ele disse. — Sua preconceituosa!

— Se você se ofendeu, o preconceituoso é você... — disse. — Perguntei para saber se é seguro falar com você. Ou se você vai dar em cima de mim.

— Hm... — ele riu. — Você tá se achando demais para o meu gosto.

— Eu sei como os homens são. — respondi, rindo e bebendo um gole do meu copo. — Caem em cima de tudo que se mexa e seja mulher.

— É. Realmente. — ele disse. — Eu ia dar em cima de você, agora não vou mais.

— Ótimo! — exclamei, estendendo minha mão. — Assim podemos ser amigos!

Ele riu, apertando minha mão.

E assim eu fiz o meu primeiro amigo na faculdade. E através dele, conheci Troye, que era meu colega em duas cadeiras, e Anya, que assim como Nate, já estava alguns semestres à frente.

— Você fugiu do trote? Que feio... — disse Anya. — Vou mandar refazerem e só com você.

— O trote desse ano também foi uma merda, pelo amor de deus. — disse Nate. — Falta de criatividade da porra.

Enquanto conversávamos sobre a festa do fim de semana, sentados no batente do corredor externo do campus, senti meu coração gelar quando levantei o olhar e vi Evan passando, quase que como se estivesse em câmera lenta.

Ele me viu de longe, da mesma forma que eu o vi de longe, e passou por mim me olhando, desviando apenas quando estava na minha frente, me fazendo sentir seu perfume. O segui com o olhar, vendo-o virar-se já no fim do corredor, me fazendo corar por termos cruzado nossos olhares.

E como disse, sempre que o via, minha mente projetava de novo o seu rosto abaixo da linha do meu quadril, me olhando fixamente enquanto descia minha calcinha pelas minhas pernas. Eu me arrepiava inteira de lembrar dos seus dedos me tocando, da sua mão quente contra mim, da sua respiração no meu pescoço...

Suas mãos foram as primeiras a me tocarem em toda a minha vida, isso explicava a tamanha frenesi que eu sentia apenas com lembranças enquanto devaneava entre delírios de uma realidade paralela que nunca se consolidaria.

Meu ego estava ferido, meu orgulho e minha dignidade também. Mas eu o deixaria me possuir de novo, e de novo, e de novo. Eu derretia inteira pensando nele, morria por dentro um pouco mais a cada vez que via seus olhos escuros.

Ah, se ele soubesse... 

• The Other Woman • || Evan PetersOnde histórias criam vida. Descubra agora