I. Neil

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Neil sentia a adrenalina do jogo correndo por seu sangue, sentia seus pulmões queimando com o esforço de cruzar a quadra várias vezes durante seus ataques, sentia a alegria de estar fazendo o que mais amava. Kevin estava com a bola em sua posse, mas estava sendo marcado por dois jogadores do time adversário. Riko estava um pouco à frente dele, marcado por um jogador, Neil estava sozinho e à frente dos dois. Kevin sabia o que fazer, sabia para quem devia jogar, e o fez. Em um piscar de olhos Neil estava com a bola em sua raquete e corria como se não houvesse amanhã, como se suas pernas fossem feitas de aço e ele não sentisse o peso de uma partida inteira em seu corpo. Neil corria porque isso era o que ele sabia fazer de melhor. O juiz apitou o gol e logo em seguida apitou o fim do jogo. Neil e Kevin venceram mais uma.

"E são eles: os filhos de David Wymack, técnico muito bem sucedido na liga universitária, estão ganhando tudo mais uma vez. E que Deus abençoe quem acabe no caminho deles porque eles não pedem licença antes passar por cima de qualquer equipe que acha que pode detê-los", disse o narrador pelas caixas de som espalhadas no estádio.

Neil se virou para comemorar com Kevin e o movimento possibilitou que ele visse quando Riko deliberadamente esbarrou em Kevin e o fez cair de joelhos, usando sua mão direita para se apoiar no chão. Neil foi em direção aos dois e viu de perto o momento em que Riko quase pisou na mão de Kevin. Raiva pura aquece suas veias e ele acelerou seus passos, se preparando para começar a briga que Riko vinha procurando há tanto tempo — um sorriso quase despontou de seus lábios só com o pensamento. Neil passou por Kevin com um único olhar, um que Kevin conhecia bem o suficiente para saber que se não o parasse agora, depois seria tarde demais para consertar o resultado, então se levantou e segurou Neil pela raquete que passava por ele.

— Neil, não.

Neil parou por alguns segundos e o encarou, a pergunta explícita em seu olhar exasperado: você vai deixar ele se safar de novo? E Kevin se sentiu mal porque, sim, ele ia, ele sempre deixava. Ele temia Riko muito mais do que admitiria em voz alta. E as pessoas estavam vendo, ele tinha certeza de que Riko tinha se certificado de fazer parecer um acidente e Neil começando uma briga na frente de todo mundo com alguém que persegue com tanta força a imagem de bom moço, como Riko, não iria acabar bem para nenhum dos dois. A culpa iria pesar nas costas de Neil e Kevin, era assim que Tetsuji Moriyama sempre fazia acontecer: a culpa era de qualquer um, desde que não fosse de Riko.

— Não.

— Por que não, Kevin? Ele começou. Ele tá há meses me provocando querendo uma briga. Ele. Não eu, não você. Ele. E a gente não vai fazer nada? De novo? A gente vai deixar esse babaca pisar na gente como se a gente tivesse sangue de barata?

A voz de Neil estava áspera com a raiva, a vontade de acertar um golpe em Riko correndo fervente em seu corpo. A necessidade de descontar o que ele estava fazendo com Kevin há tanto tempo por inveja.

— Não é deixar ele pisar em nós, Neil, é autocuidado, é saber que se a gente bater de frente com ele a gente tá fora. É isso que você quer? Ser expulso do time e ter os Moriyama garantindo que você não consiga uma carreira em lugar nenhum? Você quer arriscar perder tudo por uma coisa besta dessas?

— Não é uma coisa besta, Kevin. É um idiota achando que pode fazer o que quer e ninguém faz nada para corrigir. Ninguém nessa porra de time se importa que ele é um filho da puta se ele continuar marcando e qualquer um marca mais que ele é tratado como errado e todo mundo finge que isso não acontece. Alguém tem que mostrar pra ele que o mundo gira, mas não por causa dele.

— Mas essa pessoa não tem que ser você, Neil! Você não tem que arriscar tudo por mim. Eu aguento e eu posso me virar.

Neil o encarou, os olhos azuis percorrendo o rosto de Kevin como se cada palavra fosse fruto de um pesadelo ou de uma alucinação. Como se ele não pudesse acreditar no que estava ouvindo. Neil estava frustrado, apesar de amar exy com cada pedaço da sua alma, momentos como aquele o faziam se questionar seriamente se ele realmente queria continuar como estava.

Tá na mira [ANDREIL - AFTG]Onde histórias criam vida. Descubra agora