a diferença entre condicional e incondicional

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Annabeth

     Annabeth atendeu o telefone mais rápido do que era considerado normal, quase como se esperasse notícias ruins. Era sua mãe explicando que iria jantar em casa e precisava da Loira lá. A garota desligou e começou a enfiar suas coisas na mochila, seu cabelo cacheado entrando no caminho e fazendo a experiência ser particularmente irritante.

"calma, onde é o incêndio?" - Questionou seu namorado brincando com sua pressa.

"não é hora para gracinhas." - Disse de maneira mais ríspida do que pretendia e saiu, deixando seu bom humor para trás. O sininho da porta anunciou isso com precisão. A loira odiava jantares em família. Odiava a melancolia que seu pai tinha quando estava perto de sua mãe, Odiava os comentários da sua madrasta, e principalmente odiava ser o bode expiatório de tudo isso. Porem ela sabia que se não aparecesse encontraria um destino pior. Ela tentava desesperadamente chamar um táxi mas sem sucesso.

Percy veio andando atras ela no cimento molhado, sua expressão um pouco confusa porem majoritariamente serena, Annie se perguntou se o havia magoado. - "hey, a onde você vai? nem se despediu."

"minha família ligou, querem que eu vá jantar em casa."

"ah, certo, eu te levo." - sorriu ele - "vou pedir a moto do Connor." - ela não tinha certeza se ela falava sério.

"não precisa!" - disse, novamente seu tom obedecendo suas emoções um pouco de mais. Naquele momento a última coisa que podia deixar acontecer era sua família descobrir Percy. Não agora que sua mãe estava orgulhosa.

"Tá meio tarde sabidinha. Eu deveria pelo menos te acompanhar no táxi."

"eu não preciso de um guarda costas cabeça de alga." - brincou, sua insegurança transparecendo.

"hum...Bem, é que eu ainda não conheci seus pais, então seria um bom momento para dar um oi."

Seu telefone vibrou novamente. Estava atrasada.

"não, Percy. Eles ainda não sabem da gente. E para ser sincera não posso deixar que saibam ou vai ser pior pra nós dois."

"como pode ser pior?"

"você sabe que minha família é complicada."

"mas...tipo, umas semanas atrás você queria jogar tudo pro alto. ou não se lembra de quando você foi para a minha casa?"

"Percy, é isso que você não estende. Sua mãe te amaria se você fizesse tudo de maneira errada, isso se chama amar alguém incondicionalmente. Meu amor é extremamente condicional. De tal modo que não posso arriscar desapontar minha mãe. Não agora."

"bom saber que eu sou desapontamento." - ele levantou a sobrancelha.

Um táxi finalmente passou.

"não é, argh, a gente conversa depois, tá?"

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       A casa tinha a mesma manta de silêncio estendida que sempre tinha. Não importava que crianças brincavam lá dentro. Uma morte, uma velhice exausta sempre pairava por lá. Sua família esperava ela no final da esquésito corredor, sentados em uma mesa longa com um espaço vazio.

       No Japão antigo, Annabeth se recordou, a pessoa mais importante sentava-se na ponta da mesa mais distante a porta, pois assim no caso de invasão teria mais tempo hábil para reagir. Obviamente seguindo essa lógica a menos importante se sentaria na ponta oposta. Essa era a cadeira que esperava Annabeth.

"está atrasada." - pontuou sua mãe. Ela usava um longo tubinhos cinza com a parte de cima de um power suit. Bastante reminescente dos 80. Atenas tinha um nariz marcado e olhos atentos. Seus cabelos castanhos deslisavam sobre seus ombros.

"hum rum." - concordou seu pai cortando nada com os talheres em um prato vazio. O rangido ressaltando seu desapontamento. O homem tinha um visual quase oposto, usando tweeds e cabelos loiros bagunçados com um corte rente a cabeça. Sua barba estava sempre por fazer. As únicas vezes que o via animado eram aquelas em que ele re-modelava lutas históricas.

"desculpa. Tive que tirar uma dúvida com um professor." - mentiu descaradamente. Ela sentou-se.

"falando em dúvidas. Eu vi seu boletim." - Annabeth se encolheu na cadeia, ela esfregava as meias no carpete em antecipação. - "um B? destoa completamente da suas notas. Eu liguei para Quiron..." - ela deu uma pausa. Sempre fazia isso quando ia dizer algo bom mas queria fazê-lo soar ruim.

"o que ele disse?"

"ele elogiou sua participação na aula. Principalmente elogiou seu trabalho com sua dupla, Percy Jackson. Tomei minha liberdade de pesquisa. Um completo marginal. Pedi para mudarem sua dupla para o próximo semestre..." - ela finalmente pegou um pedaço do porco no meio da mesa, a olhando com a expressão de "agora agradeça".

"obrigada mãe." - Annabeth ia chorar assim que entrasse no quarto.

"não acha um absurdo deixarem esse tipo de pessoa naquela academia? esse garoto nunca tirou uma nota acima de C- na vida! foi expulso de 6 escolas! deve ser lento como uma tábua." - sua mãe apenas se exaustava quando se tratava de ensinos. Nesse momento fofocava como uma perua, não como a gênio que era.

"não..."

"eu disse, Minerva! a qualidade de ensino decaiu muito desde que Sr. D. assumiu." - pontuou a madrasta.

"talvez..."

"hora, fazerem minha filha ter menos chances de entrar em Harvard por um atleta? isso é ridículo! o meu mérito é que Annabeth não tem esse tipo de retardo."

"não acho que Per..."

"não tem, de fato."

"Você tem que ter ordem com as crianças. Por exemplo, esse menino é filho de Poseidon. Já viu? Aquele galinha estúpido incurável."

"a gente não tem culpa de quem são os nossos progenitores." - se bem que do jeito que essa conversa ia era provável que o culpassem por isso também.

"Não, mas temos culpa do que fazemos com as oportunidades nos dadas. Por exemplo, você tem tudo necessário para ser exímia e tirou um B. O que fazemos com isso?" - era uma pergunta retórica.

"estou fazendo meu melhor."

"não, não está."

"posso ir para a cama?"

"não."

"estou cansada. Ganhei um debate de horas. O mesmo que você ganhou." - sussurrou com raiva.

"então vá. Mas iremos terminar essa conversa amanhã."

       Isso foi mais um monólogo. Pensou, mas não disse. Percy teria dito. Teria a defendido. Talvez se estivesse aqui ela teria tido a coragem de retrucar, mas não valeria a pena.

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     Ela se deitou na cama e encarou o buraco das arranhas querendo desesperadamente chorar, mas não conseguindo. Como um grito abafado.

    Annabeth não entendia porque tinha que ser assim. Por quê toda situação vinha com essa acidez inerente? Por quê tinha que se sentir tão mal?

    Ela pegou seu telefone fixo branco e enrolou nos dedos. Ela estava deitada em posição retorcida para dentro, sem pensar muito ligou para o dormitório de Percy. Ele provavelmente não estaria lá, porem queria deixar uma mensagem.

"Esse é o dormitório do Percy. É, só o meu. deixe seu recado após o biiip"

"você ia ter odiado. Seria egoísmo querer você aqui, mas eu quero. Então se não tiver com raiva por favor me tira daqui."

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