Cap 4

194 24 0
                                    

Um arrepio percorre minha espinha. Georg ameaça se mover, e eu coloco o braço em sua frente.
— Não.
— Ele está logo ali — Georg insiste.
— Ele não está sozinho. Consigo ver outros nas sombras — É a única vantagem que a cor diferente dos olhos me trouxe. Enxergar além do que se vê — E nós, não estamos sozinhos.
Olho ao redor e parece que somente nós percebemos. Encontro o rosto familiar de Gustav na multidão nos encarando, e aceno, de forma natural.
— Eles estão na cidade — Georg sussurra o óbvio, mas meu estômago embrulha.

*

Estamos de volta à cabana. Tiro o tecido que cobre meu rosto e eu posso jurar que consigo respirar melhor.
      — Manteremos o plano?
      — Não. É desperdício ir até Berk. Eles estão aqui, ir até lá é se afastar do alvo.
— Ainda bem, não estava afim de ver a Floresta Negra e nem o Rio Keres.
      — Acho que vai desejar não ter mudado o caminho — digo, analisando o mapa.
     — Deuses. Para onde vamos? — ele vê para onde aponto — O que é Velour?
     — Se fala "Valaor" – sorrio — É onde fica o clã. O forte está lá.
     — E o que tem lá?
     — Teremos que descobrir.
— Certo. Não gosto disso.
— Sinceramente, eu também não... — digo baixinho.
— Amanhã, assim que o sol nascer, iremos à praia e vamos procurar por algo onde ele estava.
      — E de lá seguimos pra Velour – ele diz o nome de forma debochada pra ver se acerta.
       — Isso aí – Georg se levanta e caminha até a porta.
       — Boa noite, Mary.
       — Boa noite, Georg.
Encosto a cabeça na porta e suspiro. Deveria fazer o coelho, mas estou completamente sem fome. Tomo um pouco de água e fervo um pouco de outra para poder tomar banho. Enquanto a água esquenta, volto pra mesa e observo o mapa. Começo a marcar os pontos. A Gruta, a praia. Velour. Mas, tenho um choque. Alguma coisa me diz que deveria marcar o castelo de Leigh. Rei Alastir. Afasto os pensamentos, mas ainda assim, marco o castelo.
Ouço a água borbulhar e tiro do fogo, colocando-a em um balde e levando para o banheiro. Tiro a roupa e as armas e parece que hoje o peso é dobro. Lembro da primeira vez que bainhei todas as espadas e adagas e mal sustentei de pé. Mas hoje, excepcionalmente, parece como antigamente.
      Eu faria qualquer coisa pra entrar com o corpo todo nesse balde. Me lavo e o pouco de água que resta, jogo no restante do corpo. Já não estava tão quente. Me seco com o pano e visto a camisola de tecido grosso. Penteio os cabelos e os tranço. Volto à cozinha e coloco mais lenha. A noite está fria apesar de não estar nevando.
       Deito e sinto meu corpo desmanchar. Relembro meu sonho de mais cedo. Quais eram as chances da flecha ter o brasão real? A realidade e o sonho parece se fundir e já não lembro mais se havia ou não. Estremeço com a possibilidade de Alastir tentar algo contra mim. Ele nunca gostou dos Florence. Adormeço logo.

*

Nas primeiras luzes que invadem a janela, acordo. O céu ainda está em tons escuro com alguns raios de sol que logo aparecerá. Visto toda a roupa novamente, embainhando todas as adagas e espadas. Prendo o arco no peito e coloco as flechas sobre o ombro. Ouço uma batida na porta.
— Georg?
— Sim.
Não me preocupo em enrolar o pano no rosto. Abro a porta ao reconhecer a mesma.
      — Bom dia — ele diz entrando — trouxe alguns pães e maçãs. Você tem água aí?
     — Tem um pouco. Podemos beber no caminho. O rio Frates vai nos acompanhar por um bom tempo.
      — Perfeito.
Envolvi meu rosto no pano e fomos ao celeiro e para pegarmos os cavalos. Prendi a bolsa com a comida e seguimos viagem.
— Vai querer passar no bosque? — Georg pergunta.
— Não sei, sinceramente. Podemos ir direto pra praia, ver onde eles estiveram e aí seguimos o rio Frates até Velour.
— Ok.
Ficamos em silêncio o resto do caminho.
Chegamos à praia depois de 5 minutos cavalgando. Há algumas crianças brincando, que recuam quando nos ver passar.
    – Não gosto que tenham medo de nós – digo baixinho.
    – Nem eu. Não é de nós que eles deveriam ter medo.
    No exato momento que Georg termina de falar, uma flecha passar por nós fazendo Fergus empinar.
— Cuidado! — grito e vamos em direção à gruta. Saltamos dos cavalos e pegamos os arcos.
— Saiam da água! — Georg grita às crianças que entram pra dentro da floresta — Porra. De onde veio isso?
— Georg, ali — ele acompanha meu olhar — entre as pedras e próximo à água.
Miro no braço. Atirar e depois perguntar. Um grito inumano vem da criatura. Georg acerta o outro na perna. Verificamos e vimos outra criatura correndo, se afastando de nós e indo em direção às crianças.
— Não — grito e lanço outra flecha, acertando-o nas costas. E então reconheço a sua forma. Wendigos. Reza a lenda que essas criaturas um dia foram humanos, e na fome, se alimentaram de outros homens. O canibalismo os tornou nisso.
— Wendigos? — Georg pergunta — Essas criaturas não aparecem há anos.
— Que merda tá acontecendo aqui? — pergunto. Georg me olha e seu olhar diz tudo.
— A Prisão do Vale. — ele diz e sinto meu coração parar.
A prisão do Vale é o lugar onde fica as piores criaturas. Wendigos, metamorfos, demônios, Bakus, Hidras, Mare e o verme de Midgard.
— Como...? Como eles saíram de lá? – pergunto e duvido muito que queira ouvir a resposta.
— Acho que estamos lidando com algo muito maior, Meridia — Georg diz e a maneira que ele diz meu nome me faz arrepiar.

VOTE E COMENTE <3

Pain Of Love - 1ª TEMPORADAOnde histórias criam vida. Descubra agora