Cap 11

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       Acordei com a luz do sol invadindo o quarto. Depois da festa ontem, eu e Bill ficamos em volta da fogueira até as pessoas começarem a irem pra suas casas. Eu e ele voltamos para o forte em silêncio, mas nada desconfortável.
       Levanto da cama ainda pensando sobre como eu posso pertencer a duas linhagens distintas. Eu nem sabia que minha mãe era uma Lanitaryn. Deuses. Vou em direção à sala de banho e me lavo, com cheiro de lavanda invadindo minhas narinas. Visto uma calça mais justa e uma túnica verde musgo. Amarro o cinto na cintura e coloco a bainha na minha coxa e finalizo fazendo uma trança em meu cabelo.
      Saio do quarto e vou em direção ao salão, um deles, no qual se reúnem pra comer. Ao adentrar a sala, Tom levanta a cabeça e me vê, fazendo com que Dante, Hannes, Xylia e Carmilla parassem de falar e me olhassem. Por último, Bill levantou o olhar até me ver, e posso jurar que havia brilhado mais ao notar minha presença. Meu coração bateu descompassado.
       — Bom dia – eu disse, me aproximando — posso comer com vocês?
        Tom se levantou e foi pra outra ponta da mesa, me deixando seu lugar ao lado de Tom.
       – Claro, ainda bem que você veio – foi Xylia que disse. Sorrio.
       Me sentei ao lado de Bill e ouço Dante pigarrear.
      — Então você é uma Florence Lanitaryn. – Dante diz.
      — Cuidado, garoto — ouço Hannes repreender. Bill me olha, como se dissesse que não havia necessidade de falar sobre. Mas assinto.
      — Sou. A linhagem dos meus pais é de caçadores. Minha mãe pelo visto é uma Lanitaryn.
      — Acho que é a primeira vez que vejo isso acontecer — Carmilla diz — você é muito poderosa, Meridia.
— Vocês deviam ouvir a voz dela — Bill diz — é como o som do vento na tarde de verão.
— Vai precisar mostrar isso um dia, Mary — Hannes diz.
Coro diante dos comentários. Vejo que todos comem pequenos pãezinhos, além de alguns bolinhos açucarados e sucos.
— O que foi? Não achou que haveria sangue por toda sala, né? — Tom diz, rindo e mostro o dedo do meio pra ele, fazendo todos rirem.
Penso em Georg e como ele gostaria de estar aqui. Sinto o peso da mão de Bill sobre a minha e meu corpo retesa.
– Está tudo bem? – ele pergunta e olha pra nossas mãos, afastando a sua da minha — desculpe.
— Queria ter notícias de Georg.
— Sinto muito por isso.
Um barulho invade a sala. Como se um vitral inteiro tivesse ido ao chão.
— O que foi isso? — pergunto. Bill silencia meus lábios com o dedo. Coloco a mão na bainha e sinto o frio da adaga, Bill olha o gesto e sorri. Olho para os outros vampiros à mesa e todos estão em alerta. E então, outro vidro se quebra, no salão em que estamos. Uma flecha. Uma flecha parou sobre a mesa. Reconheço o símbolo. O brasão real.
Diversas outras flechas surgem e nos encolhemos, cada um indo pra uma direção. Ao correr para o canto, uma passa pelo meu braço e uma dor alucinante me consome. Sinto a ardência de uma maneira estranha, como se não fosse uma flecha natural. Minhas pernas bambeiam e sinto meus olhos pesados.
— Cardo – Tom diz do outro lado — as flechas têm Cardos Roxos! – ele grita e então, eu apago.


*

Acordo e reconheço meu quarto. A claridade na janela parece queimar meus olhos.
— É melhor fechar, foi muito tempo no escuro — ouço alguém dizer.
— Meridia? — alguém chama pelo meu nome.
— Ela está apagada tem um dia inteiro – uma pessoa diz.
— O-o que aconteceu? — pergunto e mal reconheço minha voz. Tento me levantar uma dor aguda no braço me impede de força-lo. A flecha. — Onde está Bill?
Dante e Tom e entreolham. Tom se senta na cama e me olha de forma piedosa.
— Mary... – ele começa.
— O que aconteceu? Eram de Alastir? Georg está bem?
Bill entra no quarto com as mãos ensanguentadas e os lábios manchados de vermelho vivo. Fico surpresa ao ve-lo assim.
— Mary, deuses, ainda bem. — ele olha para o irmão — tem muito tempo que ela acordou?
– O que você fez? – digo, me recuando e ignoro a dor no braço.
— Mary... por favor. Você vai entender. — ele estende a mão e eu afasto mais ainda. Ele suspira e então o que ele diz a seguir faz meu mundo desabar. — eles estão com Georg.
Impossível. Ninguém consegue ir atrás de Georg. Mas e o sangue em suas mãos? O que explica isso?
— Conseguimos ficar com um deles. Ele nos contou tudo antes de... bem. Você sabe.
Sinto o sangue subir por meu corpo e a sensação de raiva toma conta de mim.
— Foi assim que voltou, Shäfer estava com ele e pelo que parece, ele também foi pego.
Sinto as lágrimas virem mas me recuso a chorar. Levanto da cama e percebo que ainda estou com a bainha, o que anoto mentalmente para perguntar sobre isso depois.
— Onde você vai? — Bill pergunta.
Não respondo, visto outra túnica e prendo o cabelo como eu consigo.
— Olha pra mim — ele me puxa pelo braço que não está ferido — você não vai a lugar nenhum.
— Solte-me. – rosno.
— Se você voltar, vai morrer. E certamente Georg também.
Olho pra ele e seus olhos que estavam fervorosos, se suavizam.
— Você não pode voltar. Pelo menos não agora. É muito arriscado não só pra você, mas para seu primo também. Eu prometo, nós vamos dar um jeito. — ele diz e seu polegar acaricia minha bochecha.
Olho para Dante e Tom que estavam apreensivos. Me sento novamente na cama. Olho para a ferida enfaixada no meu braço.
— Como...?
— Não era uma flecha comum.
— Ouvi Tom dizer alguma coisa antes de cair.
— São Cardos Roxos — Tom diz — uma flor da Castedônia, ao norte daqui. O cheiro é marcante.
— Mas, como isso me atingiu assim? Eu sou mortal.
— É o que queremos descobrir — Dante diz. — Você disse que seus pais eram da linhagem Florence. Sua mãe, Lanitaryn.
– Isso.
— Acontece que... seguindo a lógica – Dante diz e anda pelo quarto, nos fazendo acompanha-lo — os Lanitaryn tem o sangue abençoado pelos deuses. Afinal, suas vozes são como os anjos de Ophelia.
      — Eu sou mortal — digo.
      — Não disse que deixou de ser, querida – Dante diz — porém, sua linhagem Florence também foi abençoada por Neith com a adaga. E se não foi apenas isso? E se Neith deu aos Florence algo além da adaga?
      — Isso faz sentido — Bill diz.
      — Isso não só significaria que Meridia é humana, mas... — Dante deixa as palavras no ar e é Bill que completa:
— Uma meio-sangue. A escolhida de Ophelia e Neith.

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Pain Of Love - 1ª TEMPORADAOnde histórias criam vida. Descubra agora