Cap 5

168 23 0
                                    

Tiramos as flechas dos Wendigos. O cheiro de carne podre invade nossas narinas.
— argh, eu nunca me acostumo com esse cheiro de bosta — Georg diz e eu rio.
– Ai, cada coisa. Do nada esses bichos. – digo e monto em Fergus – Vamos, temos que continuar se não quisermos passar a noite em Andryes.
— Pelos Deuses, teu mapa não tem um lugar decente que a gente possa ao menos sobreviver? – Georg diz e eu rio alto.
— Anda logo, menino.
Seguimos viagem até o sol se pôr. Antes mesmo da escuridão tomar conta, nos posicionamos em Ta'haar. O único lugar que poderíamos ao menos descansar sem nos preocuparmos em sermos atacados durante a noite. Ta'haar fica logo depois de Vower. E Vower é um único vilarejo o qual nos mantém afastados de Andryes, ficando entre os dois lugares.
— Acho que nunca passei por aqui, é bonito — Georg diz e me assusto com sua voz, depois de muito tempo calado.
— Costumava ser mais bonito. Hoje em dia só tem algumas famílias que sobreviveram ao ataque do reino de Lanark.
— Lanark? Nosso reino? — Georg pergunta e olha pra mim, sem entender.
— É. Isso foi há um par de séculos atrás. O Rei Baldour e sua rainha mandaram ir atrás de todas as meninas do vilarejo, pra não procriar. E como os homens tem certa funcionalidade, mataram diversas menininhas.
— Deuses — Georg suspira e vejo-o estremecer.
— É terrível. Só parou quando o pai de Alastir assumiu. De lá pra cá, as coisas tinham melhorado até então — ficamos em silêncio — às vezes esqueço que sua família não era daqui.
      — Às vezes, eu também esqueço — Georg diz — O que acha desse ponto aqui? Pra acampar?
     — Por mim, está bom – respondo.
     Descemos do cavalo e estendemos alguns tecidos por conta da grana úmida. Georg foi atrás de lenha pra acendermos uma fogueira. Hesito em tirar o tecido do rosto, então só o afrouxo um pouco. Dou água para os cavalos e tiro a bolsa com comida.
     — Encontrei umas lenhas perto de uma das casas. O senhor da família cedeu algumas pra nós.
     — Ótimo.
    Georg posiciona as lenhas e acende a fogueira.
    — Temos maçãs, pães e maçãs. Ah, e mais pães — digo — O que vai querer?
    — Acho que a primeira opção, maçã.
    Jogo uma maçã pra ele que está encostado na árvore.
    — Você também pensa? – ele fala de repente.
    — Tem que ser mais específico, menino.
    — No que espera pela gente.
    – Não sei. Acho que às vezes. Quando vejo, já estou pensando.
     — Já matou um antes? — Georg pergunta e dá pra perceber a curiosidade em sua voz.
     — Vampiro? Não. Meu pai, sim. Dizem que precisa acertar o coração, ou, arrancar a cabeça.
    — Só isso? — ele pergunta e eu sorrio.
   — Não. Não é qualquer adaga ou espada.
    – Mas também não se sabe qual é – Georg completa e assinto.
Terminamos de comer e decidimos que seria melhor revezarmos. Ele dormiu, e fiquei de vigia. 3 horas depois, eu poderia dormir e ele ficaria vigiando.
Ouvia os barulhos dos bichos na floresta, mas em certo momento, o silêncio tomou conta, me deixando alerta. Apalpei a adaga em minha coxa, e fiquei com a flecha posicionada no arco. Ao longe, vejo um lobo de pequeno porte. Os olhos azuis cintilam na escuridão. Ouço o grito de algum bicho e o lobo se vai, carregando o animal na boca.
Os barulhos retomam e relaxo, mas deixando o arco ao meu lado. Coloco mais lenhas na fogueira e encosto na árvore. Vejo que Georg está tremendo pelo frio, então pego mais uma coberta em Fergus e o cubro. Passo as 2 horas seguintes brincando com o fogo e afiando as adagas, até dar a hora de acordar Georg. Acaricio seus cabelos e aos poucos, ele acorda.
— Cara, isso foi restaurador — ele diz.
— Têm lobos por aqui. Vi um de longe, caçou algum animal. Fique de olho e não nos deixe morrer — digo me enfiando nas cobertas.
— Sim, senhora — Georg diz e ri.
Mal consigo dormir. Fico deitada com a mão em minha adaga, que é o que me traz conforto. Cochilo por pouco tempo, até ver os primeiros raios do sol.
     — Bom dia – falo e não ouço nada em resposta, é quando percebo que estou sozinha — Georg?
   Vejo os cavalos, mas não vejo meu arco.
   — Georg! — grito.
   — Aqui! – ele responde e vem caminhando em minha direção — Precisei me aliviar...
   — Para, para. Não quero saber.
   — Pronta?
   — Vamos.
   Levantamos o acampamento, apagamos a fogueira e montamos nos cavalos. Seguimos viagem. Saímos de Ta'haar e passamos por Meyth. Depois de Meyth, Norfolk e Blackbridge, e aí, chegaremos em Velour. Norfolk, onde estamos, é um bosque de cerejeiras.
    — Esse é um dos meus lugares favoritos – digo, de repente.
    — Entendo o porquê. Qual é o próximo lugar depois daqui?
    — Andaremos até chegar no próximo vilarejo, em Blackbridge. Fica só mais alguns quilômetros daqui. Dormiremos por lá. Amanhã, chegamos em Velour.
— Estive Blackbridge há alguns anos — Georg diz.
— Mesmo?
— Sério. Em uma das festas do vilarejo, conheci uma garota. Ela era de Blackbridge.
— E você pretende se encontrar com ela?
— Talvez. Da primeira e única vez que estive aqui, descobri que ela era comprometida. Quer dizer, você entendeu. Queriam juntar as famílias, e ela já foi dada ao homem quando eles tinham pouco mais de 10 anos.
— Uh. Sinto muito.
— Tudo bem. Ficaria feliz se eu ao menos não a visse por aqui.
Georg ficou em silêncio o resto do caminho, e eu, observava as cerejeiras e sentia a luz do sol passar por entre elas. A vontade de tirar o tecido em meu rosto é quase que dominante, mas mantenho. Estamos próximos demais de Blackbridge, facilmente alguém poderia me ver. Apesar, de que duvido muito que alguém saberia quem eu sou. Como se lendo meus pensamentos, Georg pergunta:
— Vai tirar isso aí?
— Não. Quer dizer, não sei.
— Acho que vai chamar menos atenção sem isso.
— Certo. — tiro o tecido e parece que respiro melhor sem isso. Que alívio.
— Queria que não tivesse que usar isso sempre — Georg diz.
– Eu também— suspiro — Chegamos – dou uma segurada em Fergus para olharmos rapidamente antes de entrarmos na cidade. Ainda está claro, temos algumas horas antes de anoitecer.


VOTE E COMENTE <3

Pain Of Love - 1ª TEMPORADAOnde histórias criam vida. Descubra agora