Cap 6

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Continuamos cavalgando até encontrar uma taberna que aluga quartos pra hóspedes. Espero que não seja muito caro, temos algumas poucas moedas de prata. Descemos dos cavalos e Georg entra na frente, enquanto fico com os cavalos do lado de fora. Pelo pouco que dá pra ver do lugar, dá pra ver que não é muito iluminado, e o cheiro de cerveja chega aqui fora. Georg voltar poucos momentos depois.
— E aí? — pergunto.
— Só tem um quarto, mas a boa notícia é que tem duas camas. E ela quer 6 moedas de prata, por nós dois. Tem água e comida.
— Perfeito. E os cavalos?
— Tem um celeiro ali atrás, com água e comida também — Georg diz.
Ele me leva até o celeiro onde deixamos os cavalos. Faço carinho em Fergus e saio. Georg vem logo atrás.
— O cheiro de cerveja é tão ruim quanto parece daqui de fora? — pergunto.
— Na verdade não.
— Que bom, eu já não estava...
— É pior — Georg conclui, antes de terminar a frase. Suspiro.
Ao entrar na taberna, sinto meu corpo queimar diante dos olhares, me deixando apreensiva. O lugar tem no mínimo uns 10 homens, e a única mulher que vejo fica atrás do bar, suponha que seja ela que tenha falado com Georg.
— Essa é a minha – ele pigarreia — prima — Georg diz.
— Certo — a mulher morena, na casa dos 20 e tantos nos olha como se não acreditasse — temos duas camas lá em cima. A comida fica aqui embaixo, já levo a água. Dois baldes?
— Sim, por favor — digo.
Ela nos guia até os quartos. Percebo que além do nosso, tem mais 3. A mulher abre a porta e o quarto é simples, com uma cômoda, duas camas velhas, chão de madeira que range sob nossos pés.
    — Meu nome é Pearl. Já trago a água pra vocês. O banheiro fica logo ali — ela aponta.
   — Obrigada, Pearl.
   — Faz tempo que não vejo algum Florence por aqui – Pearl diz e meu corpo paralisa — Tá tudo bem, alguns parentes seus viviam por aqui.
   Penso em meu avô. E as lembranças vêm como um choque.
    — Clark Florence – Pearl diz me fazendo ter certeza.
   — Meu avô.
— Era um bom homem — ela diz e algo em seu olhar me faz pensar se eu deixei de saber alguma coisa — Vou deixar vocês à vontade, vou pegar água e já volto.
Pearl sai deixando eu e Georg no quarto.
– Até que não é tão ruim – digo.
— Não mesmo – Georg se joga na cama fazendo levantar poeira — Put4 merda.
Rio enquanto ele abana a poeira. Pearl volta com as águas.
— Você pode ficar lá embaixo, enquanto ela... qual seu nome? Perdão, nem perguntei pra nenhum de vocês.
— Pode me chamar de Mary, e esse é Georg.
— Ótimo, Georg pode ficar lá embaixo, se quiser.
– Tudo bem. Quando acabar, desce então – Georg diz e fecha a porta atrás de si.
   Me banho rapidamente. Visto a calça, fecho a bainha com a adaga em minha coxa e coloco uma túnica. Tranço o cabelo e desço à taberna.
Procuro por Georg entre os homens e avisto o mesmo no bar, vou em direção à ele.
— Acabei — digo e ele passa por mim. Mas antes, ele analisa a bainha e olha especificamente para um ponto atrás de mim.
Um aviso. Viro para a mesa de bar e disfarço, olhando até o ponto que ele indicou. Dois rapazes no canto estavam me encarando. Desço a mão até sentir a adaga, o material gelado me traz certo conforto.
— De onde vocês vêm? — Pearl pergunta se debruçando e me passando um copo de água.
— Ah... — faço uma pausa, em dúvida se dizia ou não. Mas penso em meu avô, que esteve aqui — viemos de Lanark.
— E pra onde vão? — antes mesmo que eu pudesse responder à pergunta, alguém pede uma cerveja em uma das mesas. Nesse momento, alguém ocupa a cadeira ao meu lado. Bebo um gole d'água e olho para ele. É um dos homens que Georg apontou. Sua aparência é de uma beleza inumana e estranhamente familiar. Acredito que não tenha visto alguém tão bonito quanto ele. Ele está com uma touca e suas tranças longas estão soltas. Não deve ser mais velho que eu.
— Que rostinho bonito por aqui...  — o rapaz diz — qual seu nome, princesa?
Inspiro fundo, e quando olho pra ele, ele sorri e vejo seus caninos. Um vampiro. Meu corpo estremece. O que eles estão fazendo nessa região?
— M-mary. E o seu?
— Pode me chamar de Tom. Posso te pagar uma bebida?
— Claro — olho em volta e procuro por Georg. Por que ele está demorando tanto?
   — O que vai querer?
   — Whisky – digo.
   — Pearl – ele chama a mulher que se encaminha pra trás do bar. Posso jurar que vejo seu corpo estremecer.
   — O que vão querer? – Pearl pergunta.
   — Um whisky pra Mary, por favor.
  Pearl assente e volta momentos depois com a bebida.
   — Obrigada — olho pra Pearl e algo em seu olhar me traz calafrios. Que merda está acontecendo aqui?
   — Você não é daqui, Mary – Tom afirma e sua voz me tira do transe. Olho pra ele, e vejo que ele me observa de canto de olho.
   — Não. Sou de Lanark. Você já deve ter ouvido falar ou conhecido — digo e dou um gole do whisky. E então, eu sinto o gosto. Papoula. A flor que na lenda dos vampiros, diz ser a única coisa imune à eles. Pearl sabe. Ela tentou me avisar.
    — Na verdade, não — ele diz, dando de ombros — É longe daqui?
   Ele não estaria mentindo, estaria?
   — Não muito. Fica ao sul.
   — Hm. O que tem lá? — vejo certo interesse em seu olhar. E ele leva à bebida boca.
   — Praias. Grutas — continuo olhando pra ele — o Castelo de Leigh.
   Sua reação é inesperada. Não sei ao certo o que eu esperava, mas ele para o corpo em seus lábios, e olha pra mim.
     — Castelo de Leigh? Alastir ainda está lá? — seus olhos parecem brasas diante da pergunta.
     – Ãh... sim. Como sabe se nunca esteve lá?
     — Nos mantemos bem longe de pessoas como ele — ele diz, com a voz áspera.
   Nós? Ele pertence ao clã Kaulitz?
    — Que tipo de pessoa? – insisto.
    — Que seriam capazes de qualquer coisa por poder – Tom faz uma pausa, bebendo sua cerveja — existem três tipos de pessoas no mundo Mary. As boas, as ruins e as com desvio de caráter. As duas primeiras, nunca enganam. Elas são o que são e acabou. Mas a terceira... a terceira é a pior e é a que se deve temer. Você nunca sabe o que esperar dela.
    Pisco, tentando captar o que ele quis dizer.
     — Então, Alastir...? — começo.
     — Eu não disse nada. Tire suas próprias conclusões. O homem é a criatura que ele tanto teme.
    Engulo em seco. Nunca gostei de Alastir. Muitas pessoas em Lanark, também não. Ouvir isso de uma pessoa desconhecida e longe do reino é de arrepiar.
    — De onde você é, Tom?
    — Sou de Velour.
    — Velour? Onde fica o clã Kaulitz?
    — Você é inteligente. É pra lá que vão?  – ele sorri e meu coração acelera.
    — Mary? — ouço a voz de Georg. Ele se aproxima e desvia o olhar de mim, pra Tom. 
    — Georg, esse é Tom. Tom, esse é Georg, também de Lanark – Tom analisava Georg, que cumprimentou com um aceno — Tom estava falando que é de Velour, Georg. Ele poderia nos levar até lá.
   — Poderia? E por qual motivo eu faria isso? Nem sei o que diabos querem fazer lá– Tom diz e termina sua bebida, virando-se pra mim e Georg.
   — Porque tem crianças morrendo em Lanark — digo, e Tom ainda dá de ombros.
    — Eu não posso fazer na...
    —  Eu sei o que você é – digo baixinho — E é por isso precisa nos levar até Velour. Amanhã.
   — E isso é uma ordem, princesa?
   — Na verdade, é um pedido de ajuda — dessa vez, parece que consegui ter atenção de Tom — Matamos dois wendigos em Lanark — vejo Tom engolir em seco.
     — Wendigos? Mas eles não estão presos? Não há relatos de um desses há décadas. A não ser que...
   Antes mesmo que Tom pudesse concluir, é Georg que diz com uma voz assombrosa:
      — A prisão foi aberta.

 

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Pain Of Love - 1ª TEMPORADAOnde histórias criam vida. Descubra agora