Susto

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  Xiang

   Meu coração começa bater de maneira descompassada, sinto ele querendo pular para fora do peito. Não sei o que é isso, mas eu quero que pare. Sinto seus lábios macios contra os meus e estamos tão perto que consigo sentir o cheiro do seu perfume misturado com o cheiro da bebida. Sua mão pressiona meu corpo para mais perto do seu, ele pede passagem com a lingua, fico tão surpreso com tudo que eu não tenho reação, não tento travar os dentes ou morde-lo, eu só aceito sua lingua na minha. Ele era gentil. Eu nunca pensei que o beijo de um homem pudesse ser gentil, mas o dele era. E por algum motivo seu beijo não me dava nojo.
     Sinto que passamos um ano nisso, até que ele me solta e cai no sono como se nada tivesse acontecido. Saí de cima dele, ainda com coração acelerado e com os pensamentos a mil. Que porra ele fez? Meu único pensamento foi, eu preciso ir embora daqui. Não consigo pensar direito, eu preciso ir para casa. Preciso me acalmar. Eu  nunca beijei um homem, eu não sou gay...eu não sou gay. Eu só fiquei surpreso com o que aconteceu, ele me pegou de surpresa, por isso eu não reagi. É isso, sim, é isso.
        Saio do apartamento de Cimu e vou direto para o elevador, eu só quero chegar em casa e dormir, não quero pensar em nada disso, vou deixar para me preocupar com isso amanhã quando ele vier trabalhar.
       Saio do prédio e como vim com carro de Cimu, terei que voltar para casa a pé, mas antes decido passar na farmácia e comprar uns remédios, pois é quase certeza que aquele imbecil vai acordar com ressaca.
      Encontro uma farmácia a dois quarteirões dali. Compro uns remédios para dor de cabeça e uns outros que a farmacêutica recomendou. Porém em vez de sair de lá feliz com a chance de finalmente me livrar de Cimu, saio com a noticia de que estou preso aquele velho.
      A farmacêutica me disse que dependendo do grau de embriaguez é bom que alguém fique de olho na pessoa nas primeiras horas de sono, pois o corpo ainda tem que processar o álcool mesmo depois da pessoa já ter parado de beber.
      Foda-se! Vou deixar o remédio lá e voltar pra casa.
      Volto para o apartamento de Cimu, deixo tudo que comprei em cima da mesa e agora é só ir embora e deixar que amanhã ele se vira. E se ele morrer? Para de pensar isso, ele não vai morrer. E se morrer a culpa vai ter sido toda dele.
       Vou em direção a porta do apartamento, mas não consigo simplesmente ir, se acontecer algo eu provavelmente vou me culpar. Filho da puta! Nem dormindo consegue me deixar em paz.
      Depois de meia hora parado em frente a porta, aceito que eu teria que dormir aqui. Como não estava com sono, descido andar pela casa e futricar nas coisas. Primeiro voltei a mexer nas fotos que tinham sobre o hacker, pelo jeito ele gostava bastante de tirar fotos e emoldurar, tinha uma foto do que parecia ser seus pais, havia outra dele na formatura da faculdade, ele estava abraçado com uma garota e um cara e no cantinho da foto tinha dois nome Shaofeng e Li Luo.

       — Então você é a famosa Li Luo? A dona do beijo que eu ganhei — olho bem para foto — você é bem bonita, entendo porque ele gosta de você.

       Continuo olhando as fotos até que encontro uma que me chama atenção. Era uma foto minha jogando Galaga. Em que momento ele tirou isso que eu não tinha visto? Fico feliz dele ter uma foto minha. Não tenho nenhuma foto dele ou com ele, preciso arrumar uma. Devolvi a foto para o lugar e decidi que já era hora de dormir, como Cimu não tinha quarto de hospedes, decidi dormir no sofá, porém antes coloquei o celular para despertar a cada 10 minutos para olha-lo.

Cimu

    Acordo no susto.

     — Meu Deus a hora!

     Olho no celular e vejo que já são 7 horas e eu tinha que estar no trabalho as 6, ou seja, eu me fudi amigos e amigas, Estevão Ferrera. Levanto rapidamente e vou em direção ao armário, e é nesse momento que eu sinto a dor da merda de ontem, minha cabeça começa a doer, sinto como se ela fosse explodir. Eu nunca fui forte para bebida, desde da época da faculdade eu só ficava no suco de laranja.
      Apesar da dor eu ainda tenho que trabalhar, coloco meu uniforme, passo perfume e quando vou pegar meu sapatos, escuto um barulho na cozinha. Paro ainda com o sapato na mão e fico em silencio para tentar ouvir melhor. Escuto alguém mechendo nos pratos e copos. Era só o que me faltava agora, além de dor de cabeça vou ser assaltado. Parece que quando você está atrasado, tudo coopera para você continuar atrasado.
      Peguei uma pistola que guardava na gaveta de cuecas e fui em direção a cozinha, quem quer que estivesse lá vai sair com pelo menos 3 furos no corpo. Ando devagar e encostando na parede, olho de relance para cozinha e vejo um cara de costas.

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