O Cavaleiro Esguio

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    O moço foi atraído pelo aspecto sombrio das ruínas da antiga capela, tal como uma mariposa é atraída pelo fogo de tochas. O tempo que havia fitado a pequena construção na beira da estrada foi incerto. O avistamento era tão triste quanto o que ali ocorrera. Racéq sabia bem a história. As paredes de pedra que restaram, assim como o teto e uma grande cruz de ferro sobre ele; tudo estava coberto de ervas daninhas e folhagem.

Continuou ali por mais uns minutos, ereto em sua postura esbelta, suor amargo escorria por toda sua pele vermelha, especialmente em seu nariz torto, desaguando em sua barba rala. O saio de lã encharcado já grudava em seu corpo esguio.

Seu transe fora quebrado com o rasgar do berro de um corvo que perturbou o silêncio da estrada solitária. Pousou sobre a cruz com as asas arqueadas. A ave se erguia inquieta.

O sol deitou-se por trás das árvores, fazendo a escuridão crescer por entre elas. Se continuasse ali, estaria engolido pelo escuro em questão de minutos; e, embora tivesse sua formosa espada ao seu alcance, não confiava vagar pelo escuro em estradas tão sombrias e distantes. Principalmente com a ira de muitos sobre suas costas.

Mesmo com a urgência, suas pernas já o traíam. Elas ardiam por causa do percurso. Deveria parar um pouco, tinha andado um longo caminho desde Belarrocha.

Caminhou até as pedras caídas e desgastadas da construção à sua frente e sentou-se. Dali exalava o forte cheiro úmido de musgos e mofo. Estendeu suas pernas, pôs de lado sua espada e o pouco que trazia consigo: apenas um saco marrom sujo, de onde estavam um odre de pele de cabra ainda cheio de água, um saquinho com poucas moedas e um pedaço de pão seco enrolado em um lenço branco.

Foi tudo que conseguiu recolher de maneira apressada, temendo ser linchado no pátio da vila.

Esticou seu longo pescoço para aliviar a tensão, enquanto a brisa suave, que soprava naquele fim de tarde, sacudia levemente a coluna única de cabelo bagunçado. Esta separava as laterais raspadas da cabeça do rapaz.

Pensou em tirar as botas para aliviar a pressão da caminhada em seus pés, mas logo desistiu. Estava sem ânimo de se esforçar para colocá-las novamente. Puxando o saco para perto, enfiou a mão suada para pegar o último pedaço de pão, pois sua fome havia se manifestado novamente. Derramou na palma da mão o alimento e as migalhas que sobraram; estava mal cozido com grãos pobres, além de já estar duro. E se tivesse fome de novo? Torceu os lábios com dúvida.

O vento soprou de novo, agora mais forte, e levantou o odor agradável que vinha do lenço. Racéq aproximou-o do nariz e respirou fundo a essência fresca e suave de flores do campo; o mofo das pedras úmidas desaparecera de suas narinas.

O semblante de Briana veio em sua mente; a moça pálida e alta que amaciava seu coração rígido. Dar o lenço foi a única ação que ela fez na despedida curta e fria. Não esqueceria de seus olhos encharcados e vermelhos.

Afastou o lenço quando as lembranças vieram e com elas um aperto no peito. Sem olhar, jogou o pano perfumado sobre a cabeça, para trás, em direção à escuridão do interior da capela. Com o ronco da barriga rugindo, mordeu com remorso o último pedaço de pão que tinha e decidiu seguir viagem. Por sorte encontraria alguma vila e usaria o restante de suas moedas.

Levantou-se sem demora para não dar espaço à preguiça. Apanhou Dama, sua espada, e fitou o olhar na estrada de terra que cortava o morro e seguia pelas árvores à frente. Virou-se mais uma vez e olhou a cruz de ferro acima. Instintivamente, o rapaz ajoelhou-se e pensou em rezar por todos que tinha deixado para trás: por Briana, pelos aldeões furiosos que o julgaram, pela menina assustada que defendera, até pela alma do desgraçado miserável que um dia obedecera e principalmente Dagobert, o amigo que não vi há meses.

Paredes Invisíveis (Coletânea)Onde histórias criam vida. Descubra agora