11.

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Durante aquelas duas semanas, Kurt pensou que já conhecia muito bem o pequeno mundo particular mantido sob a influência de Mackenzie. Mas, entrar para o bando de verdade, acabou lhe mostrando que, o que tinha sido compartilhado com ele antes era só uma ponta insignificante de algo com raízes muito mais profundas.

Quando saíram para conseguir um carro novo e chegaram a um ferro-velho empoeirado à beira da Rota 66, no limite do deserto, Kurt pensou que Mac estivesse lhe pregando mais uma peça. Algum tipo de teste, onde lhe daria outra lata-velha de merda para dirigir e ter que se provar merecedor de novo.

Mas, assim que pararam o trailer na porta e entraram a pé no pátio lotado de sucata e restos de carros desmanchados, ele logo sentiu que aquilo era algo mais. De dentro de um guichê de estacionamento com som de rádio ligado, saiu um homem de cabelo grisalho e cavanhaque, vestindo uma camisa floral por cima de músculos robustos. De cara fechada, ele veio exibindo uma arma na cintura com visível intenção de usá-la, mas baixou a guarda tão logo percebeu quem invadia seu espaço.

¡Mira ahí! Mac, el patrón. — A saudação veio acompanhada de um largo sorriso. Ele se aproximou, abrindo os braços. — ¿Qué pasa? ¿Qué puedo servir hoy?

Os dois trocaram um aperto de mãos, os antebraços flexionados, feito uma queda de braço, e tocaram os ombros, como parceiros. Mac indicou entre Kurt e o homem.

— Santiago, Kurt. Kurt, Santiago — Mac ditou a apresentação breve. Kurt mal teve tempo de cumprimentar de volta com um aceno, inseguro de arriscar qualquer palavra em espanhol, quando Mac continuou: — Hoje vamos querer ver os melhores que você tem. Identificação raspada e sem rastreador, daquele jeito que você já sabe.

Entendendo muito bem o inglês, Santiago esfregou uma mão na outra, satisfeito. Então os guiou para outra porção do ferro-velho, abrigada nos fundos de um barraco de madeira que servia como seu escritório. Mac jogou um braço pelos ombros de Kurt, o mantendo perto, junto a ele.

Longe do sol forte, eles desembocaram na parte escondida do lugar. Se a visão das carcaças velhas e veículos enferrujados lá fora tinha feito Kurt julgar Mackenzie por trazê-lo a um lugar caindo aos pedaços, agora ele entendia. Boquiaberto, Kurt encarou um novo pátio: coberto, limpo e organizado, com dezenas de carros esportivos novos e polidos, enfileirados em ordem. Era como um supermercado dos sonhos.

Perto de sua orelha, Kurt ouviu a voz de Mac dizer em comando:

— Vá pegar.

E, como se seguindo um graveto de ouro atirado no ar, Kurt prontamente obedeceu.

Entre rebaixados com melhor aerodinâmica, carrocerias de pura fibra de carbono, generosos aerofólios traseiros, e agressivos escapamentos duplos, ele circulou com olhos deslumbrados. Inspecionava por baixo dos capôs, espiava por dentro das janelas escurecidas e abria algumas portas; até experimentava alguns bancos e testava algumas giradas de volantes.

Colisão [2ª edição 2024]Onde histórias criam vida. Descubra agora