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Mal o dia amanheceu, e Kurt tinha uma coleção de chamadas perdidas

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Mal o dia amanheceu, e Kurt tinha uma coleção de chamadas perdidas. Todas de Nash. Parado com o Camaro em um ponto perdido da estrada, Kurt discou uma vez, mas tocou até desligar, sem resposta. A voz automática da caixa postal soou, e ele continuou na linha. Aquilo deveria servir.

— Ei. Hum... Eu não sei se você ligou porque precisa de alguma coisa. Mas... Eu estou bem. De verdade. Me desculpe por sair tão de repente. Não quero parecer ingrato.

Aquilo era para ser tudo. Kurt afastou o telefone da orelha e o polegar flutuou em cima do botão vermelho. Mas ele parou e voltou, apoiando o celular na bochecha. Seu tom era diferente quando continuou:

— Obrigado por tudo. Tudo mesmo. Pela preocupação, por se importar, pelo abrigo... e por me trazer esperança. Por me fazer sentir de novo.

Dessa vez, ele desligou mais rápido, o coração acelerado batendo na garganta. Ele pensou duas vezes se teria como apagar a mensagem, mas já estava feito. Era melhor deixar pra lá. Talvez Nash nem fosse escutar.

Kurt se levantou para se distrair daquilo. O dia estava nascendo, a cidade despertando, e ele ainda tinha lugares para ir. Apenas um, na verdade, mas o mais importante.

Sua chegada não teve aviso, nem anúncio. A decisão tinha sido de última hora, mas era um assunto que não suportava mais ser adiado. O buraco apenas se tornaria mais fundo se Kurt não fizesse nada.

Ele entrou pelo deserto sozinho, apenas a nuvem de terra e poeira atrás dele. Ele estava muito consciente de como o Camaro ainda tinha a cara de P.J., com toda aquela tinta preta, o adesivo de peão arranhado na porta, os vidros ilegalmente escuros. Ainda assim, Kurt acelerou até o prédio da antiga fábrica, premeditando como estaria a situação por lá. Não havia mais do que fugir agora que o rumor havia se espalhado.

Quando chegou à Toca, o prédio estava fechado, desde portões, janelas, até cortinas. Kurt sentiu um aperto no peito, as pontas dos dedos ficaram frias. Uma voz fraca sussurrou em sua mente, insinuando que ele já tinha sido expulso há muito tempo, que não havia ao menos motivo para estar ali.

Incerto, Kurt desligou o motor barulhento e pôs os dois pés para fora, na terra firme do deserto. Foi o tempo exato para o portão principal da Toca abrir de repente e de lá sair um tornado em forma de pessoa. Antes que Kurt fechasse a porta do motorista, Mackenzie já estava marchando até ele. Sem revólveres, sem facas, sem nada a não ser os punhos fechados, preparados para acertar. Ele próprio já bastava como uma arma.

Kurt deu um passo hesitante para trás, sem utilidade alguma, porque Mackenzie logo estava muito perto. A mão com a tatuagem de corda de forca se fechou na garganta dele, um aperto real. Mac o jogou em cima do capô, provocando um baque abafado. Kurt tossiu, sentindo a lataria quente em suas costas. Ele tateou às cegas até alcançar a mão de Mac em seu pescoço e a segurou por cima, para tentar soltar.

A luz do amanhecer desapareceu atrás da grande sombra de Mackenzie se projetando sobre ele. Bastava olhar nos olhos escuros de Mac para saber o quanto ele queria matá-lo. Naquele momento, Kurt acreditou que ele realmente iria. Até que um músculo saltou da mandíbula fina, enquanto o pomo-de-adão sob as tatuagens subiu e desceu, indicando que talvez Mac estivesse vivendo um conflito também. Aquilo deu alguma esperança a Kurt.

Colisão [2ª edição 2024]Onde histórias criam vida. Descubra agora