Talvez seja falso, Kurt pensou. Grande parte dele mantinha uma forte esperança em Nash. Era impressionante como, no desespero, sua mente confabulava as mais elaboradas histórias. Ele tentou encontrar todas as justificativas possíveis. Poderia ser uma cilada que Nash acabou se metendo e por isso precisou de uma identidade falsa. Talvez aquele policial, supostamente amigo, o estivesse forçando a alguma coisa. Deveria ser um engano.
Porém, quanto mais olhava para a identificação em suas mãos, mais se sentia perdido. Em algum momento, ele simplesmente deixou que sua mente se esvaziasse. Não queria mais pensar em nada. Largou aquelas pistas confusas sobre a cômoda ao lado da cama e se sentou na beira do colchão, ombros caídos, costas curvadas.
Com o amanhecer, estava ficando mais claro. Ele deveria abrir as cortinas para tornar as coisas mais nítidas, mas era como se não quisesse ver mais nada. Kurt quis ficar no escuro.
Desligado do próprio corpo, ele escutou o trânsito lá fora, distante, despertando. Um carro passou buzinando, a porta de um ônibus soltou o ar comprimido ao abrir, uma moto apressada provocou um "splash!" no que deveria ser uma poça de água grande.
Não demorou para que Nash acordasse. Kurt estava tão concentrado em seu objetivo de não ver, não escutar, não sentir, que só realmente percebeu quando Nash rolou sobre a cama e o tocou. O toque subiu por suas costas e terminou em um beijo depositado no espaço entre suas escápulas, insuportavelmente macio. Kurt estremeceu e fechou os olhos com força.
As mãos que circularam seu corpo alisaram por cima de sua barriga, justamente onde ele sentia um desconforto frio. Lábios úmidos beijaram de novo atrás de sua orelha, bem onde se encontrava seu ponto fraco. Seu coração bateu mais rápido.
— Ainda temos tempo? — A voz arranhada de Nash flutuou por todos os lados, parecendo sair das quatro paredes do quarto, e não da boca perto de seu ouvido.
Kurt ficou tenso. Aquelas mãos grandes, macias e quentes então fizeram o trabalho por ele. Devagar, Nash o virou, puxando um de seus ombros, torcendo seu tronco. O corpo seguiu, mas o rosto de Kurt foi a última parte a se virar. Havia medo do que ele enxergaria agora que olhasse para Nash. Ele definitivamente não queria ver.
Nash então o agarrou pela ponta do queixo e o trouxe para ele. Abrir os olhos foi doloroso, e Kurt esperou encontrar uma imagem perturbadora. Mas tudo o que ele viu foi o homem com a beleza que ele não sabia se acostumar, aquele que tinha cuidado dele quando precisou, aquele que o olhava com apreciação e desejo, aquele com quem ele tinha se deitado e jurou amar.
Quando se deu conta, Kurt também estava agarrado à pele dele, segurando em torno de sua cintura, ancorado na solidez do osso do quadril, porque ele não queria deixar aquilo ir. Kurt não podia aceitar que perderia tudo aquilo, toda a felicidade escapando quando finalmente chegou até ela.
Inclinando os rostos, os dois se encontraram no meio do caminho que ambos escolheram, e um beijo nasceu entre seus lábios pela vontade dos dois lados. Kurt continuava tenso, mas seu corpo fluiu quando Nash deitou devagar de costas e o levou junto. Deitado por cima dele, Kurt beijou como se fossem seus últimos momentos; o que bem poderia ser.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Colisão [2ª edição 2024]
Ficción GeneralVENCEDOR DO WATTY AWARDS 2018 NA CATEGORIA CRIADORES DE MUDANÇAS Para Kurt Young, a vida sempre foi dura. Mas o ruim conseguiu se tornar pior desde que ele saiu de casa com o carro que roubou do pai. Longe do subúrbio onde foi criado, ele se arrisco...