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As grandes portas douradas do salão de baile são abertas, caminho lentamente até o topo das escadas.

- Princesa Nymeria Glindha Ortíz Savoia, herdeira de Coraci- anunciam-me, observo um a um os convidados levantarem-se, a passos pequenos desço a escada. Uso um pouco de magia para me equilibrar, minha mãe sempre dissera que é um hábito infantil, mas hábitos são hábitos.

- O que estão esperando? Toquem! - digo aos músicos, quando chego ao fim das escadas, os mesmos se apressam em me atender, e os gritos alegres dos convidados validam minha ordem. Quando um novo monarca assume, a sociedade inquieta-se para ler qual o tom do reinado e como cair nas graças da nova rainha, eles vestiriam qualquer máscara para continuarem dentro da corte. Não os reis, é claro, estes observam com mais curiosidade.

- Alteza, se me permite, devo dizer que preto é realmente sua cor - Duquesa Clarice, da província de Brassard, elogia, ela e seu marido já receberam alguns avisos acerca de desviar os impostos da coroa.

- Que gentileza, duquesa talvez o luto me caia bem afinal - observo seus olhos atentamente, ela os arregala por um breve momento, mas abre um minúsculo sorriso.

- Sua alteza por certo não se deixa abalar pelas tribulações desse mundo, sempre observando a vida com os olhos do otimismo e um humor voraz.

- Claro, se me dá licença, preciso cumprimentar o restante dos convidados, mas anseio por ver seu marido, há detalhes que gostaria discutir com certa urgência, com sua licença, Clarisse - creio que isso seja o suficiente.

- Claro alteza, foi um prazer - ela baixa a cabeça e sorri friamente, suas bochechas ganhando a cor de seus cabelos e os rubis em seu pescoço.

Continuo a cumprimentar os convidados um a um, esperando terminar rapidamente, mas meu estômago começa a reclamar e tomo meu lugar à mesa. Tento não pensar que a minha cadeira é a única da mesa da família real, engulo em seco e sento depressa.

A primeira entrada é uma sopa de ervilhas com azeite e flores do campo. Está divina. Era a entrada favorita de meu pai, ele dizia que minha mãe o ganhara com esta sopa enquanto ainda estavam na escolha. Se torna cada vez mais difícil engolir a comida com as lágrimas. Aqui do alto, observando o salão, é difícil não imaginar o que os convidados pensam ao me olharem, eles precisam ver força, firmeza, resiliência...

- Perdão - Criss, meu mestre espião, aparece ao meu lado banhado por sombras - sua alteza teria um momento?

Assinto.

- Continue o jantar, eu volto logo - digo ao chefe da cozinha, parado próximo à mim, antes de atravessar as portas laterais de ouro entalhadas com leões.

Sigo Criss silenciosamente, o coração martelando, tento respirar, oxigenar o cérebro, Criss passara três semanas fora reunindo informações, ele não interromperia esse jantar a menos que descobrisse algo.

Ele me leva à estufa, onde ninguém tem livre acesso, apenas os cientistas e jardineiros, estes só vem pela manhã. Continuamos adentrando cada vez mais fundo, até chegarmos ao pomar, paramos em frente à antiga macieira, a qual está em flor.

- E então? - indago tentando me conter, foram semanas difíceis, tentando não pensar o que Criss descobriria.

A escuridão do pomar lança sombras no rosto bonito de Criss, seus ombros largos parecem mais rígidos que de costume. Ele cruza os braços fortes na frente do corpo, o traje de couro deixa seus músculos em evidência, Criss além de ser um mestre em disfarces, com um sorriso encantador que arranca respostas dos locais mais improváveis, ainda é um guerreiro letal, uma das promessas militares do reino. Ele pigarreia coçando a barba rala.

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