Laços do Passado

07

Depois de muito persistir com o pequeno dragão, do tamanho de um filhote de gato, de cerca de três meses, Naya consegue pega-lo, quando o mesmo se entretém com seu medalhão dourado. Peço para Kalya fazer o corredor de vento e nós atravessamos correndo, Kalya e Cersey me levam para a sala da coroação, enquanto que Naya leva o pequeno dragão até algum cômodo com pouca mobília e sem janelas ou sacadas.

Meu coração acelera conforme nos aproximamos e diminuo o passo. Kalya e Cersey fazem o mesmo.

Alguns reis tem a sorte de serem coroados com seus pais ainda vivos, mas são poucos, eu me pergunto qual deve ser a sensação de não precisar enterrar seu pai em um dia e, no seguinte, já tomar seu lugar. Ver seus rostos orgulhosos, e não o vazio que a falta de sua presença deixou.

Meu pai sempre dissera que estaria na minha coroação, e no dia seguinte, faria as malas e viajaria pelo mundo, e me traria muitas coisas bonitas e sem nenhuma utilidade. A forma como ele morrera... deve o ter irritado profundamente, morrer para uma tempestade... ele com certeza preferia falecer em um campo de batalha. Se as motivações de seu assassinato não houvessem sido tão egoístas, por certo ele se sentiria lisonjeado, entretanto... ele deve estar se revirando no túmulo.

Meu passo diminuí conforme absorvo a imagem das grandes portas douradas fechadas, dois soldados com armaduras douradas guardam o salão do lado de fora, não posso parar aqui, não na frente dos meus homens, ainda que sejam dois, a visão de sua futura rainha hesitando, viajaria por todos os ouvidos.

Endireito a postura e caminho firmemente, lenta e firmemente. Mesmo que atrasada, não ouso me apressar. Um passo após o outro, chego às portas mais rápido do que pretendia. 

- Majestade - os guardas saúdam abaixando a cabeça em reverência.

- Rapazes - assinto de volta. Meu pai sempre cumprimentara seus soldados dessa forma.

Eles levam as mãos às portas e a abrem, o salão decorado com pendentes tecidos vermelhos ganha vida à minha frente, as multidões de preto do ultimo dia parecem nunca haver existido, todos vestem suas cores. Roxo. Azul. Vermelho. Verde. Inúmeras cores. O salão entra em silêncio, todos me encarando.

Começo a caminhar, as mãos suando dentro das luvas, gostaria de usar um pouco de magia, mas não me atrevo. Espero apenas não tropeçar o salto alto no tapete vermelho.

Encontro os olhares orgulhosos de Caspian e Morgan, meu professor de espadas e minha professora de magia, Caspian não sorri, parrudo, como de costume, no entanto Morgan sorri nos braços do marido. Assinto para eles e prossigo a longa caminhada, levo os olhos para o trono solitário de meu pai, imponente, com estofado vermelho e a cabeça de um leão entalhada no topo, patas de leão nos braços da cadeira. Engulo em seco, mesmo sabendo que o brilho das lágrimas é comovente e agrada, odeio que as vejam.

O sacerdote mais velho vestido de uma longa bata em veludo vermelho vinho, com detalhes dourados nas extremidades e um capuz de mesmas cores me aguarda ao lado do trono.

- Princesa Nyméria Glindha Ortíz Savóia, de Coraci, tome seu lugar - o sacerdote eleva sua voz grave, me causando um leve arrepio, tomo meu lugar de pé à frente do trono, olhando para a multidão, os reis e suas famílias próximos ao trono. Kalya e Cersey dão a volta multidão e se colocam ambas atrás do trono - você jura defender seu povo acima de sua coroa, você jura defender sua coroa acima de si mesma.

- Eu juro.

Miranda entrega a espada de meu pai ao sacerdote, que vem para minha frente. O cheiro da morte emanando de suas vestes, me embrulhar o estômago.

- Então sangre - brada o sacerdote.

Tiro minhas luvas, Kalya vem pela minha direita e entrego a ela, estendo minha mão esquerda ao sacerdote. Me pergunto se ele está enxergando mesmo com o capuz escondendo seus olhos. Em um movimento rápido e preciso, ele levanta a espada pelo cabo, acima da própria cabeça e a desce lentamente até a ponta furar palma de minha mão, sinto uma pontada de dor, porém, não muitas linhagens atrás, os cortes eram no meio do tronco, portanto, não cabe a mim reclamar.