Quando volto para o salão, o jantar já terminou, o que é um alívio.
- Alteza - uma voz macia me faz parar onde estou, me viro e vejo a rainha Iara, de Monã, a ruiva de ardentes cabelos vermelhos me observa parada próxima á uma coluna nos fundos do salão.
- Rainha Iara, que honra é sua presença aqui.
Ela revira os olhos.
- Eu sei como é perder um pai, menina - ela dá um breve gole no vinho rosa - não precisa dessas... cordialidades.
Observo-a cuidadosamente, não se sabe muito sobre Monã, é um país fechado, que não faz contratos comerciais com quase ninguém, nós importamos de lá cacau, milho e café, e o que exportamos para lá são pequenas quantidades de carvão. Dizem que Monã é um paraíso, cheio de plantas e animais exóticos, no entanto, extremamente pobre e ultrapassado, por isso não são permitidas as entradas de súditos de outros reinos em suas terras, e os monarcas dificilmente dão as caras.
- Perdão, alteza, mas eu falo com sinceridade.
Ela me observa com olhos amarelos selvagens.
- Foi impressionante lá hoje, acredito que o reino esteja em boas mãos agora - Iara me observa como se procurasse alguma coisa.
- Agradeço a lisonja, majestade certamente farei o meu melhor para com meus súditos, assim como meu pai.
Iara abre rápido e minúsculo sorriso, que me faz questionar se realmente estivera lá.
- Não posso deixar de notar que sua alteza não se misturara muito durante o banquete, e nem agora, a música não está de seu agrado? - questiono sorrindo.
- A música está ótima, mas não se ofenda por eu não querer me misturar com alguns - seus olhos viajam até o rei Leone, sentado em um sofá no canto oposto do salão redondo, Leone ri alto ao lado de sua esposa, acompanhados pelo e o rei Ragnar e a rainha Ingrid. Aos pés de Leone, reparo duas onças pintadas, com uma mão ele segura um copo de bebida e com a outra ele segura uma coleira vermelha, cheia de pendentes de ouro - meu marido as deu de presente, eles já foram bem amigos, e eu nunca entendi o porque... - os olhos da ruiva faíscam, enquanto ela beberica o vinho.
Chamo um de meus guardas, disposto ao lado da porta que entrei há pouco, ele se apronta em vir em minha direção.
- Peça aos convidados para deixarem seus bichinhos nos aposentos apropriados para eles, não desejo dejetos no meio do salão.
- Sim, alteza.
Assinto para Iara, que me responde com um sorriso ávido.
- Se precisar de uma amiga, princesa Monã estará aberta á você.
- Digo o mesmo sobre Coraci, majestade.
- Descarte essa cordialidade fútil até lá.
Sorrio.
- Receio que terá de ter paciência.
Iara revira os olhos amarelos que contrastam com sua pele parda, ela e se move para sair, mas para de frente para mim com expressão séria, diferente da curiosidade mordaz que demonstrara até então.
- Eu realmente sinto por sua perda, alteza.
- Quanta cordialidade... - arqueio as sobrancelhas, Iara sorri - mas eu agradeço.
Assinto e caminho para os fundos do salão, observando o movimento, há inúmeros casais no centro do salão, Frederick dança com Mackenzie animosamente. Raiva consome meu âmago. Me viro e encontro Naya, Kalya e Cersei atrás de mim. Kalya é a única que sabe tudo o que sei, ela me observa com cuidado.
Preciso fazer algo.
Meus pés me levam primeiro, minha mente percebe depois que estou caminhando na direção de Frederick.
Antes que eu possa chegar mais perto, Koen se coloca à minha frente. Seu perfume amadeirado inunda minhas narinas, eu não reparei mais cedo, mas ele usa um traje de veludo preto que vai até o pescoço, as mangas justas deixam seus braços fortes em evidência. Paro de fazer essa checagem quando percebo que seus olhos que me devoram são apenas um reflexo dos meus.
- Sua alteza me daria a honra? - ele se curva já estendendo a mão, chingo Koen internamente, ele sabe que no meio de todo mundo eu não recusaria o convite do meu oficial.
Estendo minha mão sentindo o calor emanar da sua.
Koen passa uma de suas mãos pela minha cintura, me conduzindo com a música. Meu corpo me traí sob seu toque, não parecendo ter as lembranças dos últimos dias.
- Está melhor?
- Estava - respondo sem encarar seus olhos.
Koen inspira.
- Você estava com aquele olhar.
- Que olhar? - levanto os olhos para encarar os seus, Koen tem olhos expressivos demais, se assemelham a de um cachorro que destruiu uma cama feita de pétalas de rosa e dentes de leão.
- Aquele olhar que possivelmente queimaria alguém.
- Um que você conhece bem - balbucio.
- Eu sei que eu fui... babaca com você - a palavra parece feri-lo, visto careta que ele faz - mas...
- Mas o que, Koen? - corto-o - você deixou bem claro que nunca teve intenção alguma de casar comigo, que aquele amor todo que você disse que sentia, era só um monte de mentiras pra conseguir o que você queria e eu... quis acreditar. - encaro seus olhos com firmeza enquanto deslizamos pelo salão numa sincronia perfeita
- Você realmente acha que eu não te amo, Nymeria? - seus olhos cortam fundo meu coração.
Odeio conhece-lo bem ao ponto de saber que ele está sendo honesto. Odeio como estar em seus braços me trás uma sensação de lar. Odeio como seus olhos parecem contar todos os segredos que seus lábios não dizem. Odeio como eu quero acreditar nele. Mas de tudo, o que eu mais odeio, é não odiá-lo em nenhum lugar do meu coração.
- Eu tenho certeza... - minto - eu precisava de você, meu pai morreu e você continuou distante, abandonou até seus deveres na Guarda... você não é o homem que eu achei que você fosse... você...
- Eu queria estar do seu lado, mas precisei ir, você não entende, eu não sabia o que fazer - a voz de Koen soa embargada, quando ele me gira no ar, suas mãos tem cuidado ao me levantar, e seus olhos caminham para minha barriga, culposamente.
- E você acha que eu sabia? Que eu sei? - indago, quando ele me coloca no chão.
Koen aperta minha cintura, me trazendo para perto. Inspiro com dificuldade.
- Me deixe consertar isso - ele parece verdadeiramente honesto, mas ele também parecera antes, meu peito aperta.
- Não, você teve sua chance - tento segurar as lágrimas que insistem em brotar, as memórias me inundam, era Koen, eu o amava e desejava passar toda minha vida ao seu lado, no entanto... eu jamais confiaria nele novamente - eu preciso que você vá a Mawé.
Koen parece pronto para retrucar.
- Vá descobrir quem matou meu pai - sussurro, incapaz de olha-lo nos olhos, a música termina e fazemos uma reverência - me encontre no meu escritório assim que acabar aqui.
Não fico para ouvir sua resposta, me afasto, procurando qualquer um que não seja Koen ou Frederick.

VOCÊ ESTÁ LENDO
Laços do Passado
RomanceA princesa Nymeria, de Coraci, encontra-se em um cenário caótico, ao descobrir uma gravides inesperada e o pai de seu filho desaparecer, logo após receber a notícia; em seguida o rei, pai de Nymeria, falece, após uma viagem comercial ao reino vizinh...