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Desço da carruagem de cristal, parada na planície da Montanha Cristal. Observo as longas escadas de pedra à frente.

Começo a caminhar ignorando a fila de carruagens flutuantes e seres alados. Inicio a subida pelos antigos degraus da Montanha Cristal, a montanha mais alta dos Cinco Reinos, destinada ao rito de passagem dos membros das famílias reais ao mundo dos mortos. A montanha é um misto de cristais roxos saindo da terra, grama verde, fontes de água termal e alguns geíseres, no entanto, uma das fortes características da grande montanha, é a névoa densa ao seu redor que se estende por quilómetros, tornando apenas seu topo é acessível e visível, é absolutamente impossível subir a escalando, ninguém sabe o que há ao seu redor, em meio à névoa ou ao menos ninguém que tenha voltado.

- Sua alteza - ouço Kalya chamar-me. Faço um gesto com a cabeça para ela caminhar ao meu lado, enquanto suas irmãs mantém uma distância respeitosa - a lei permite que um campeão escolhido lance a flecha no lugar do herdeiro, peço permissão para esta tarefa.

Olho no fundo dos olhos de minha espadachim pessoal, Kalya também é a melhor arqueira de minhas terras, foi a melhor de sua turma, em todos os testes de aptidão física, mental e resistência, ela tem sido fiel a mim mesmo tendo quase a minha idade, não acredito que ela faria algo para me prejudicar.

- Isso seria visto como um gesto de fraqueza por esses abutres - falo com honestidade.

- Sua alteza está em seu direito, acabou de perder o pai e... - ela não termina, mas sei o que quer dizer, foi Kalya quem descobrira minha gravidez, depois que contei sobre Koen e eu.

- E eu vou conseguir, fui criada para isso, para governar e sou a única herdeira do trono, eles não teriam por quem me substituir ainda que eu errasse as dez flechas... só é um problema se não acender... então poderiam questionar minha legitimidade.

- Eu não duvido que ascenderá, mas tem certeza que consegue? Mesmo com ele lá.

Paro. Faltam poucos metros para chegar aos grandes portões, onde todos os reis e rainhas e seus conselheiros estarão, ao menor sinal de fraqueza e incompetência meu, nossas relações comerciais estarão em risco, eles não ousariam tentar tomar meu reino, todos sabem o que acontece com ladrões de coroas, mas cortar relações comerciais seria deixar meu povo passar fome, o que significaria o inicio de uma revolta, que poderia chegar a minha deposição ou assassinato, e o trono ficaria livre para ser manipulado por quem pagar mais. E Koen... engulo em seco.

- Eu não tenho mais opções - encaro os olhos de Kalya, seus ardentes olhos castanhos cintilam. Uma palavra, e ela tiraria Koen dali a ponta pés, uma palavra, e ela lançaria a flecha para que eu não tivesse que o fazer. Ponho a mão em seu ombro - confie fé em mim, Kalya.

Ainda que nem eu acredite.

Ela leva a mão direita ao coração, e eu faço o mesmo, é nosso gesto que diz "estou com você".

Ela toma seu lugar ao lado de Cersey e Naya, eu inspiro sem me dar tempo de pensar demais, não em Koen, em como ele estaria ao meu lado agora, me motivando também, mas ele não era o homem que achei que fosse.

Inspiro novamente.

Os portões de ouro fino abrem-se sem que hajam guardas ou sentinelas, ou minha magia. Um bom sinal. Os portões saúdam o novo rei. dizem as canções.

A visão da multidão de preto quase me tira o fôlego. Aquilo é real. Meu pai não está mais aqui, nunca mais estará. Meu peito aperta tanto, que sinto que meu coração vai explodir a qualquer instante. Inspiro e caminho pelo chão de cascalho branco, o sol se põe atrás de mim, e a vista das nuvens no céu á minha frente ganham tons de dourado, roxo, rosa e laranja, e a cama de peônias brancas sob o corpo de meu falecido pai reluzem em um contraste à parte, ele não usa coroa, apenas um traje branco de soldado, com suas inúmeras medalhas de guerra, que um dia condecorado, hoje não significam nada, por isso vão com ele, elas sobreviverão agora apenas nas canções e no livro das crônicas. Quanto mais eu me aproximo, mais minha garganta aperta.

Laços do PassadoOnde histórias criam vida. Descubra agora