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A festa adentra a noite com comida, música, risos e muita bebida, mas logo que os reis se recolhem para seus aposentos, olho Koen parado do outro lado do salão, até que ele olhe para mim. Quando seus olhos encontram os meus, saio pelas portas atrás de mim.

Caminho em silêncio até a biblioteca, sigo até meu escritório intocado nas últimas semanas. Caminho até a varanda com vista para o oceano, me recosto no umbral da porta. Cansada, apesar de não ter sido uma noite imensamente insuportável, visto que Frederick saiu muito cedo. Ele e Mackenzie. Seria ela a próxima? Ou alguma forma de se aproximar de mim?

Reflito solitária por alguns momentos, antes que Koen se materialize em meio ás sombras das estantes. Ele se recosta sobre o umbral de laje, o pouco metro que nos separa, parece infinitamente menor. Seus olhos me percorrem atentamente, e eu me permito olha-lo. Os cabelos negros estão uma bagunça, mas o traje perfeitamente alinhado. Koen bebeu mais do que dançou durante a noite. Seus olhos verdes carregam uma obscuridade, trazida provavelmente pela presença de seu pai, Koen pode pertencer à mais rica linhagem real, no entanto, nunca se sentiu de fato pertencer a ela.

Quando o silêncio entre nós se torna algo quase palpável, início, seca. Conto a Koen tudo o que Criss me contara.

- Então você acredita que Frederick tenha assassinado o rei porque ele deu fim ao noivado... - o único vislumbre de lembrança que o fim de meu noivado lhe faz, é um maxilar enrijecido - e com a ajuda da alguém de Mawé - Koen observa, sem me encarar - mas o que ele teria a ganhar com isso?

É uma pergunta que eu ainda não havia me feito. A mente de Koen parece equilibrada até mesmo após passar a noite bebendo vinho. Levo involuntariamente á mão a barriga, sua mente consegue criar um cenário estratégico, com passos a serem seguidos, mas ser pai... estar ao meu lado após a morte de meu pai, isso não.

Koen observa o gesto com olhar culposo, mas quando me pega o olhando, ele desvia os olhos para o piso de granito, suas sobrancelhas arqueiam enquanto ele coloca as mãos nos bolsos.

- Não acredito que Frederick tenha feito algo movido por uma vingança egoísta - Koen mantém o tom frio e prático, porém não me encara enquanto fala - ele não ganharia nada com o falecimento do rei, na verdade, muito pelo contrário, todos especulam sobre como é suspeito o rei falecer em um acidente no reino, cujo príncipe era prometido à princesa.

- E o que você sugere? - indago irritadiça.

Ele olha para o horizonte, para os primeiros raios de sol, que ao bater em sua pele morena, criam um espetáculo visual.

- Há uma possibilidade que ele estivesse sendo manipulado... o rei Ragnar e o rei Alucard não são vistos juntos há alguns anos.

Meu pai, Ragnar e Fredrin lutaram juntos para proteger os cinco reinos, décadas atrás, contra inimigos que ameaçavam nosso equilíbrio, no entanto, pouco antes de minha mãe falecer, eles foram em uma viagem diplómatica à Mawé, e quando voltaram, meu pai parecia transtornado, não treinou comigo por alguns dias, e sempre que eu pedia para passar algum tempo comigo, ele negava dizendo que tinha assuntos a tratar. Poucos meses depois minha mãe adoeceu.

Inspiro.

- Descubra o que aconteceu entre eles. Quem estava fazendo o que em Tupã no dia que meu pai morreu e... - paro.

- E...? - o corpo de Koen se descola da parede, e seus olhos cautelosos parecem buscar os meus.

Essa era a hora em que eu normalmente diria: "e volte para mim".

- E não seja pego. - afirmo engolindo em seco.

Ele fecha os olhos fazendo que sim com a cabeça.

- Claro, alteza - Koen passa uma mão pelo cabelo.

Laços do PassadoOnde histórias criam vida. Descubra agora