Comandando a Galé

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A Baia da Água Negra possuí uma paisagem deslumbrante, o contraste das águas escuras com a majestosa Fortaleza Vermelha é de tirar o folego perante seu poder e autoridade. As muralhas imponentes e torres maciças que se erguem no alto da Colina de Aegon foram construídas em pedra vermelha para lhe dar um aspecto intimidante e se destacar contra o céu azul com sua arquitetura imponente e ornamentada.
A paisagem faz o peito de Aegony se encher de orgulho ao vislumbrar a magnitude daquilo que seus ancestrais construíram, seu coração infla de amor por sua casa, pelo lugar em que nasceu e onde passou grande parte da infância.
Aproximando-se da proa da galé, a princesa podia sentir os olhos de seu pai observando-a, testando sua capacidade de comandar um navio. O vento batia forte a suas costas, retirando alguns fios de cabelo prateado de suas tranças e colocando a galé a toda velocidade em direção a entrada da baia.
-Içar velas! - Aegony gritou o mais alto que pode acima do vento forte que uivava ao seu redor e a tripulação correu para seguir as ordens da princesa, ao subirem as velas a velocidade da embarcação diminuiu.
Ao passar pela entrada da baia e suas torres de vigia, o dragão de três cabeças do estandarte Targaryen podia ser visto sobre cada uma das enormes torres tremulando furiosamente ao vento e a visão da fortaleza se abria em toda a sua glória, a história de sua casa escrita em cada pedra escarlate. Em cima das torres, as armaduras dos guardas reluziam ao sol.
-Aproximando-se do porto! Remadas curtas e controladas!
O porto da água negra estava lotado de comerciantes, mais do que a princesa poderia ter esperado e a galé se aproximava com velocidade significativa mesmo após a redução drástica de velocidade.
Eles colidiriam com o porto se continuassem dessa forma.
-Os ventos estão mais fortes do que o comum hoje, você deveria ter içado as velas mais cedo! - a voz de sor Laenor  soou por cima do desespero da princesa.
Com a respiração ofegante, Aegony olhou ao redor e buscou por uma solução. A baia estava cercada por navios mercantes, mas um espaço a direita estava vazio o bastante para uma manobra arriscada.
- Remadores, curva ampla a estibordo!
A galé passou próxima a uma gigantesca coca e se afastou do porto, a princesa podia sentir os olhares de seu pai queimando em sua nuca enquanto ela considerava a distância suficiente e ordenava outra curva ampla a bombordo para retornar ao porto e evitar colidir com um dracar dos homens de ferro.
Com toda a sua atenção voltada para desviar de alguns navios e barcos, a princesa quase não notou que a velocidade não era adequada para atracar tranquilamente no porto.
-Recolher remos! Descer ancora! Tripulação, preparar para a colisão!
A princesa observou enquanto alguns membros da tripulação atiravam a ancora ao mar e o barco diminuía a velocidade drasticamente, o porto se aproximava e a colisão foi a mais contida possível. A batida da galé com o caís sacudiu a embarcação e fez com que a princesa tivesse que se segurar com força para não ser atirada da proa.
Ela bateu o peito contra o corrimão com força e enquanto respirava fundo para recuperar o ar ouviu o som de palmas.
-Excelente, sobrinha! Sempre soube que mulheres eram péssimas navegantes. Seu presente deveria ter sido um belo bastidor, agulha e linha!
-Aegon! – um som alto de estalo e um grunhido de dor foi a próxima coisa que ouviu antes do seu pai aparecer ao seu lado e ajudá-la a se recuperar.
Ao levantar a cabeça a princesa observou sua família em meio ao caos dos comerciantes desembarcando mercadorias.
Os guardas se dividiam entre dois grupos, fazendo círculos entre dois grupos e acentuando a divisão do que seria sua família.
De um lado estava sua mãe acompanhada de sor Harwin, comandante da guarda real,  e seus irmãos. Do outro estava seu avô, a rainha e seu tios e tia.
Percebendo que não só toda sua família mas todas as pessoas no cais observaram sua inexperiência, a princesa sentiu seu rosto queimar e desceu do navio com a ajuda do seu pai e de cabeça baixa.
Ao se aproximar sua mãe a arrancou dos braços do seu pai com força, abraçou-a e distribuiu beijos por todo seu rosto antes de segura-la pelos ombros e lhe lançar um olhar de repreensão.
- Nunca mais faça isso comigo, ouviu bem? Quase tenho um parto prematuro imaginando você sendo jogada para fora dessa... dessa... dessa maldita coisa! -O rosto da herdeira do trono de ferro estava pálido e ela apertava seu ombro com força antes de guinchar e abraça-la novamente.
Seu pai riu atrás dela e a libertou do aperto de urso de sua mãe, tomando um pouco de ar ela pode finalmente cumprimentar sua família.
- Também senti sua falta, mamãe. Não precisa se preocupar, navegar é muito seguro, tenho certeza de que o dia em que começar a voar é o dia em que me despedirei da senhora para entrega-la aos cuidados do Estranho.
Antes que Rhaenyra pudesse responder, a princesa foi puxada para os braços grande e fortes de seu irmão Jacaerys que mesmo sendo mais novo, era bem mais alto que ela.
-Nya, quando eu disse para ir e dominar o mar não imaginei que você começaria atacando o cais dessa forma. Nunca te disseram que os portos a serem atacados são os dos inimigos, não o seu próprio? -Jace riu em seus cabelos e deu um beijo em sua testa, antes de se afastar para olhar o rosto vermelho de vergonha e fúria de Aegony.
-Engraçadinho, deveria ter te levado comigo, te jogado ao mar e torcido para que um monstro marinho o engolice, Jacaerys. – a princesa murmurou baixinho para que apenas seu irmão e seu pai pudessem ouvir sua malcriação.
Procurando não pisotear e andar com a maior graça possível, a princesa se aproximou de Lucearys. Não tão alto quanto Jace, Luke não se elevava da mesma forma sobre ela, tornando seu abraço menos esmagador.
Os olhos de Luke estavam arregalados e ele tremia quando se afastaram.
- Você está bem? A viagem foi tranquila ? Como você não vomitou? Eu teria vomitado na hora em que o navio colidisse. Não, quer saber? Eu acho que vomitaria ao entrar no navio, no mínimo 5 vezes durante a viagem, novamente na colisão e por último quando descesse. Mas quem não vomitaria? -seu irmão a atropelou com as palavras e antes que ela pudesse responder, ele recomeçou.
-Você obviamente não vomitou. Sinceramente, você não é normal, qualquer pessoa normal em sã consciência teria vomitado. – percebendo o que disse, seus olhos se arregalaram mais ainda, ameaçando saltar das órbitas -N-não que eu esteja te chamando de anormal ou questionando sua sanidade, dizendo que você é louca ou algo do tipo, eu não estou, é só que você é tão maravilhosa, irmã, que eu...
Rindo, Aegony colocou um dedo no lábio de Lucearys e o silenciou delicadamente. Poucos poderiam deixar o clima leve mas Luke tinha um dom natural para encantar.
- Mais devagar, sim? Não queremos que você engasgue com tantas palavras.
Ficando vermelho das bochechas até a ponta das orelhas, o rubor envergonhado do jovem príncipe era mais visível em sua pele branca do que o de sua irmã mais velha. Para Aegony, Luke era adorável é cativante sem fazer esforço.
- Respondendo suas perguntas, querido irmão, sim estou bem e a viagem foi deliciosa apesar dos últimos acontecimentos. É uma benção que o candidato a herdeiro de Derivamarca seja Jace e não você, criaturinha terrestre. -terminando sua falta, Aegony apertou a ponta do nariz de Lucearys e o deixou mais vermelho do que as paredes da Fortaleza Vermelha.
Antes que os irmãos continuassem a conversar, a outra parte do seu núcleo familiar se aproximou sendo liderado por seu avô.
- Não monopolizem a minha neta, como rei gostaria de pensar que tenho o poder de decretar que seja proibido manter um avô longe de sua neta por mais de um dia.
- Vovó gostaria desse decreto.
O rei riu.
- Claro que sim, querida. Sinto saudades de minha prima e seria um prazer manter toda a nossa família unida sobre o mesmo teto e em harmonia, um sonho que um dia irei realizar.
Viserys a abraçou e beijou sua testa com ternura.
- Mas me diga, minha doce criança, como foi a estadia com sua vó? Como está a minha prima preferida?
Os olhos de seu avô brilharam ao olhar para ela, todos poderiam ver o amor e o orgulho sendo exalado pelo rei. A princesa não pode evitar e sorriu para seu avô.
- Vovó está bem, foi muito divertido. Ganhei novas roupas de montaria e uma cama nova para meu dragão, assim como novo livros em alto valiriano do vovô Corlis. E também alguns tesouros que vovô encontrou, olha a minha espada!
A princesa desembainhou  uma espada de baixo de seu casaco de viagem e o ergueu para o avô. O aço valiriano reluzia no sol da tarde em um tom azulado, a espada era pequena e leve, apesar de parecer frágil não havia dúvidas de que era uma arma letal.
- Essa é uma bela espada. Tão fina quanto uma agulha, Aegon deverá segurar a língua, ele não gostará de conhecer o estrago que um objeto tão feminino é capaz de causar.
Com a fala do rei, a rainha se aproximou e chamou a atenção para os outros membros presentes.
- Perdoe meu filho, princesa. Muitas vezes os homens não sabem o que dizem e pagam por sua imprudência. Bem vinda, é sempre um prazer tê-la em nossa companhia.
A princesa se curvou para a rainha com graça apesar das roupas de couro que vestia e das tranças bagunçadas pelo vento. A dama substituindo a criança de 10 anos que conversava com os irmãos.
- Gostaria de relembra-la, minha rainha, que possuo dois irmãos e estou bem ciente do nível de imprudência que são capazes de cometer.
Voltando sua atenção para seus tios e tia, ela foi cumprimentada com uma mesura por parte de Daeron e um olhar sonhador de sua tia Helaena. Seu tio Aegon a ignorou completamente, a marca de uma mão pequena em seu rosto demonstrava o porquê de seu descontentamento. Finalmente, ela olhou quem buscava em meio aos filhos mais novos do rei e encontrou Aemond olhando para ela, os olhos violeta se encontraram e a sensação de lar se fortaleceu.
Aemond se aproximou e beijou a mão de sua pessoa favorita do mundo inteiro, sem desviar os olhos dos de Aegony. Apesar de querer abraça-la e retirar qualquer vestígio dos meninos fortes dela, o segundo filho do rei se conteve, sua mãe nunca perdoaria tal gesto em público. Então, ele apenas se contentou com o toque da pele macia de seu anjo em contato com seus lábios e esperou que isso satisfizesse a necessidade de toca-la.
- Sobrinha, é uma honra recebe-la de volta em nossa casa. Mais vinte luas longe de casa e toda a cidade se revoltaria, a fortaleza cairia e não sobraria uma única pedra para contar história, a mata de rei minguaria e os dragões morreriam congelados por dentro, de luto por não gostarem de sua presença.
- Não seja tolo, tio. Minha presença não é tão importante. – a princesa sorriu e corou, seu peito aquecendo apenas em um segundo na presença de Aemond.
- Não se subestime, ouso dizer que se fossem mais 30 luas em sua ausência os Starks estariam certos. O inverno eterno chegaria e os caminhantes brancos vagariam por todos os sete reinos, todos os povos além do mar estreito escreveriam histórias sobre a perdição de Westeros ter sido culpa de uma linda princesa imprudente que ousa abandonar seu reino quando todos sabem o quanto ele precisa dela para existir.
As palavras lhe faltaram e um sorriso orgulhoso apareceu no rosto de Aemond Targaryen por ter deixado o anjo do Reino sem ter o que dizer.
O momento foi interrompido quando sor Laenor deixou a presença de seus outros filhos para voltar até sua primogênita.
- Peixinha, vamos. Sua lição ainda não acabou, vá até o navio examinar seus danos e verifique se o casco não foi rompido. Você ainda precisa vistoriar o navio, checar a carga e ter certeza de que o navio está bem atracado e a âncora está firme.
A princesa foi arrastada em direção ao navio e grande parte de sua família estava pronta para retornar ao castelo.
- Sor Laenor, não deixe nossa princesa exausta. Ela passou por uma longa viagem e até os anjos precisam de descanso. Realizarei um jantar essa noite em comemoração ao seu retorno, infelizmente esses ossos velhos não aguentam muito ultimamente e se quiser uma dança com a minha neta preciso de descanso. Retornarei ao castelo e exijo que vocês o façam logo, sem demora! Como Aemond inteligentemente apontou, estamos a muito tempo carentes da presença de Aegony.
Com um sorriso no rosto o rei liderou o caminho de volta ao castelo, a rainha e seus filhos o seguindo enquanto a princesa Rhaenyra e seus filhos esperavam que sor Laenor tivesse piedade da jovem princesa.
...
O banho foi um alívio para os músculos cansados da viagem e estar em casa aumentou o conforto. Não que ela se sentisse desconfortável em Derivamarca mas havia algo, uma sensação de casa que não poderia ser explicada com palavras, sobre como ela se sentia na Fortaleza Vermelha.
Suas aias logo a tiraram do seu paraíso de água quente e a vestiram com algo especial para a noite, trançaram seu cabelo e a encheram de joias simples para um jantar em família.
Houve uma batida na porta e sua aia, Maggie, correu para atende-la.
- Príncipe Jacaerys, Vossa Alteza.
Um sorriso brincou em seus lábios na menção de seu irmão mais novo.
- Deixe -o entrar, Maggie querida. – Um tapinha foi dado nas mãos de uma de suas servas – Estão liberadas, obrigada por seus serviços, senhoras.
As mulheres deixaram os aposentos da princesa e pelo espelho da penteadeira Aegony pode ver Jace entrar trajado de preto e vermelho. Seu irmão andou até ela e apoiou os braços em sua cadeira, devolvendo seu olhar pelo espelho.
- Azul lhe cai bem, Nya.
- Sou uma Velaryon, Jace. As cores de minha casa obviamente me favorecem.
Seu irmão revirou os olhos.
- Você é uma Targaryen, irmã. Eu sou um Velaryon. – ele disse como quem repete isso mil vezes.
Aegony o acertou com a escova de brincadeira.
- E mesmo assim, eu visto azul e prateado enquanto você esbanja preto e vermelho. Você não sabe de nada, Jacaerys. Calado você é motivo de inveja para todos os poetas.
Ele abriu a boca para retrucar quando viu sua irmã se aproximando para pegar uma outra escova, essa era de prata e incrustada com várias pedras preciosas de aspecto bem pontudo. Jacaerys estremeceu. Isso não passou despercebido por Aegony que lançou um olhar engraçado para o irmão antes de colocar a escova na gaveta.
Mas não era do feitio dos homens serem exemplos de sabedoria.
- Ignorando a sucessão e falando em poetas, tenho certeza que mais um segundo na presença de Aemond seria suficiente para fazer todos vomitarem.
Aegony bufou, a disputa entre os dois meninos era o motivo de seu estresse diário.
- Chega disso, irmão. Logo você será um homem feito e disputas mesquinhas motivadas por ciúme não o levaram a lugar algum.
A garota se olhou uma última vez no espelho antes de se levantar e puxar Jacaerys para um abraço. O menino apoiou o queixo no topo de sua cabeça  e sentiu o seu perfume doce e acolhedor, tudo sobre ela era assim, angelical desde seu aroma até os vestidos em cores claras e cachos que adornavam  seu rosto redondo.
- Não há motivos para tais disputas, Jacaerys. Sempre te amarei, mesmo que você seja uma pulga atrás da orelha que me incomoda desde o seu primeiro dia de vida.
Jace sorriu sobre sua cabeça e depositou um leve beijo em seu cabelo. A princesa colocou as mãos em seus ombros e o empurrou levemente, interrompendo o abraço com delicadeza.
- Você sempre será meu irmão, Jace. Serei sua companheira até o fim dos meus dias e no dia em que você tomar uma esposa, espero que me honre e me permita presenciar a família linda que você terá.
Aegony lhe lançou um olhar caloroso e não percebeu a forma como o sorriso de Jace se tornou forçado a menção de seu futuro casamento com alguma outra garota, não tão bonita, inteligente ou gentil como sua irmã.
- Agora, chega desse ciúmes bobo. – a menina segurou o braço de seu irmão e o arrastou para a saída do quarto – Vamos sair antes que o vovô envie guardas para nos buscar.
...
Aemond estava ansioso em sua cadeira, toda vez que a porta abria ele praticamente saltava para apenas se decepcionar com os servos entrando com bandejas de comida ou com algum membro indesejado de sua família passando pela porta. O segundo filho do rei estava estressado, Aegon o provocava a cada pulo que Aemond dava com a abertura da grande porta. No momento em que toda a comida foi servida e Aegony e Jacaerys ainda não haviam chegado, o rei decidiu não se servir, escolhendo esperar pelos netos e impedindo que qualquer um dos presentes possa se servir.
O jovem garoto batia os dedos na perna enquanto encarava o vapor deixar a costela de cordeiro e a torta de carne de porco ainda intacta.
- Sua namoradinha não poderia vir mais rápido? Quero beber e sinto que se tocar no precioso Dourado da Árvore da princesa, nosso amado pai mandará cortar meus dedos. -Aegon murmurou quando os servos trouxeram várias garrafas do vinho favorito da princesa, mesmo que já estivesse claramente alterado pela bebida, seu irmão nunca sabia quando parar e se tornava insuportável quando tentavam impedi -lo de beber.
Aegon recebeu um tapa no ombro de sua mãe que estava em uma posição que o ouvia muito bem.
- Não se refira assim ao seu irmão e sua sobrinha, Aegon! Tenha noção de que aquilo que sai da sua boca, seja verdade ou mentira, pode macular a honra de nossa família.
Seu irmão ignorou completamente a reprimenda de sua mãe e continuou reclamando, mas não mencionou Aemond ou Aegony novamente. Durante as reclamações constantes de Aegon, as portas do Grande Salão abriram e todos ouviram os risos dos dois irmãos entrando.
Aemond olhou imediatamente para a porta e presenciou Aegony perfeitamente vestida em azul claro e prata, seu vestido de mangas compridas deixavam todo o seu colo descoberto para ser adornado por um colar de pequenos diamantes e uma grande turmalina no meio. Brincos de diamante pendiam de suas orelhas e cintilavam a luz das velas toda vez que a princesa se movia. E em sua cabeça repousava uma pequena tiara prateada que combinava com suas outras joias, possuindo pequenos diamantes e ostentando o cavalo marinho dos Velaryon esculpido em uma turmalina no centro. A tiara era abraçada por tranças enquanto cachos volumosos desciam pelas costas da princesa e emolduravam seu rosto.
Ela estava deslumbrante e toda a demora valeria a pena se não fosse pelo encosto grudado nela, Jacaerys era o mesmo bastardo Strong fantasiado de Targaryen de sempre, sua meia-irmã vestia seus filhos de preto e vermelho como uma forma de apagar os boatos sobre sua bastardia e reafirmar sua descendência Targaryen, mesmo que os meninos sejam chamados de Velaryon. Sua presença já era ofensiva por natureza, porém, ao lado da beleza Valiriana de Aegony era praticamente um insulto aos deuses, um insulto aos deuses velhos, aos novos e principalmente aos deuses perdidos da Antiga Valiria.
Ao se aproximar da mesa Jacaerys puxou a cadeira a direita do rei para a princesa e se sentou ao lado dela em seguida, em frente ao seu “pai", dor Laenor. Rhaenyra por sua vez estava sentada a esquerda do rei e ao lado do marido, enquanto seu filho Lucearys estava ao lado de sor Laenor. Por outro lado, na outra ponta da mesa estava sentada sua mãe, a sua direita estava Aegon e a sua esquerda Helaena, Aemond estava ao lado de seu irmão mais velho e Daeron estava sentado entre Helaena e Jacaerys.
A posição de Aemond permitia que ele pudesse visualizar Aegony durante todo o jantar. Como convidada de honra ela normalmente seria servida após o rei, porém, ela não era uma convidada normal. Ela era a neta favorita que retornou de viagem, o seu pequeno milagre, a joia de sua família.
Aegony é a exceção a regra. Quando a serva se aproximou para servir o rei, ele a recusou com um aceno de mão.
- Sou um homem gordo e preguiçoso, fiquei o dia inteiro sendo paparicado com pão, queijo e mel enquanto minha neta comandava uma galé. Que tipo de avô eu seria se deixasse minha neta cansada de viagem esperar para comer?
A princesa foi a primeira a ser servida com os seus favoritos, uma generosa porção de torta de carne de porco foi posta em seu prato e uma taça cheia de Dourado da Árvore foi servido a ela. Logo em seguida a serva serviu o rei e somente depois disso os outros servos serviram comida para o restante da família.
Durante todo o jantar Aegony não olhou uma única vez para Aemond, o que o deixou furioso. Sua atenção foi totalmente direcionada ao rei e a Jacaerys,  ocasionalmente conversando com sua mãe, pai e Lucearys. Mas nenhuma vez olhando para a outra ponta da mesa, ignorando Aemond.
Isso o enfureceu.
Aemond passou o resto do jantar esfaqueando sua carne e lançando olhares de ódio para Jacaerys.
Sentindo olhos o perfurando, Jacaerys virou a cabeça e viu os olhares de ódio de Aemond dirigidos a ele. Aemond manteve o olhar e encarou o sobrinho com toda a raiva contida dentro de si. O sobrinho sorriu para o tio e voltou a conversar com Aegony, deslizando seu braço pelos ombros nus da menina enquanto contava algo em voz baixa que a fez rir e se recostar contra ele.
O olhar de vitória do bastardo queimou dentro de Aemond e o fez apertar a taça de vinho. Sua vontade era joga-la na cabeça do bastardo, pegar a faca que parecia tão tentadora em sua cintura para arrancar seus olhos e retirar esse olhar mesquinho do seu olho. Socar a sua boca com tanta força que quebraria seus dentes e arrebentaria seus lábios, ensina-lo com quem ele estava mexendo. Ensina-lo a fúria de um dragão possessivo e orgulhoso que deseja mais do que tudo manter o que é seu. Um dragão de verdade.
Mais do em qualquer outro momento Aemond desejou ser um montador de dragão.

BE A DRAGON - Aemond TargaryenOnde histórias criam vida. Descubra agora