Aemond se sentia particularmente vitorioso nos dias que se seguiram aos “Vinte e oito", cada uma daquelas mortes foi justificada e extremamente merecida. O caos que rondava a fortaleza era gratificante, todos olhavam a cada esquina e temiam a própria sombra. As mulheres devotas que se encontravam para rezar não mais fofocavam enquanto acendiam suas velas no septo, agora elas realmente rezavam e pediam para não serem as próximas.
Os serviçais do castelo nunca foram tão invisíveis e nunca um lorde temeu tanto cada pessoa que cruzava seu caminho, qualquer um deles poderia ser o assassino e qualquer um poderia ser o próximo. Cada homem no castelo andava armado mas nem isso impediu que muitos deles morressem.
O caos era perfeito, exceto por uma coisa. Aegony ficou completamente inacessível, o que tornou Aemond particularmente mais violento e obstinado.
Tentado mais uma vez, o jovem príncipe se vestiu com as roupas mais escuras que pode encontrar no seu guarda roupa e colocou uma capa negra simples sobre os ombros.
Ele pegou uma vela para iluminar o caminho e se aproximou da segunda janela dos seus aposentos, ele esticou seus braços sobre o peitoril e tateou entre os tijolos até achar um sulco entre o rejunte. Com seu dedo, o príncipe empurrou uma pequena alavanca que ativou todo o sistema.
Atrás dele, escondida pelo tapete, uma das pedras no chão se moveu. Foi preciso apenas mover o tapete para ver as escadas estreitas que levavam a uma pequena câmara que desemboca em um labirinto de corredores e escadas que levam em todos os lugares possíveis na fortaleza.
Após andar entre os corredores, subir e descer escadas, Aemond se encontrou em uma câmara que dava para dentro dos quartos de dormir de sua meia irmã. Ele não poderia entrar lá, não poderia nem sequer abrir uma fresta da parede para olhar as feições de seu anjo. Os guardas estão em cada canto dos aposentos de Rhaenyra, além do pai de Aegony, Lorde Strong e seus bastardinhos. Todos eles poderiam arruinar sua vida se o vissem. Os pontos se ligariam e ele se colocaria a meio caminho das masmorras, ele dúvida que seu pai o defenda, selando seu destino com o carrasco.
Aemond deitou no chão e se imaginou ao lado dela em um colchão macio, sua mão entrelaçada com seus lindos cachos brancos. Seu perfume inebriante em toda a sua volta, o embalando em direção a um sonho tranquilo.
Ele ouviu o farfalhar de cobertas, suspiros, roncos e outros sons de pessoas adormecidas, tentando a todo custo identificar os dela. Aemond fez isso ao mesmo tempo em que afastava o pensando de Jacaerys, o verme maldito, dormindo no mesmo quarto que ela, talvez na mesma cama que ela. O menino cerrou os punhos e envolveu os braços em volta de si, como se pudesse impedir a si mesmo de entrar por aquela porta e roubar a princesa Aegony por baixo dos olhos de todos esse imbecis.
Assim, ele dormiu....
Na noite seguinte ele se recusou a ficar em frente à passagem secreta do quarto de sua meia irmã como um verme carente de atenção. Em vez disso ele saiu da fortaleza em direção ao recinto de Suryax, se ele tomou o caminho mais longo obviamente não foi para evitar deitar e torcer para ouvir a voz de Aegony durante a noite. Claro que não, isso seria patético.
Então ele foi em direção a sua tarefa auto imposta. A cada duas noites o príncipe visitava Suryax e confortava o dragão da princesa, lhe levava petiscos, limpava seu corpo e procurava feridas, passando cataplasma caso encontrasse alguma. A dragão da princesa parecia tão triste quanto Aemond, seus olhos animados logo murchavam quando ela via que não era Aegony entrando no recinto.
Ele não poderia julgar a dragão por se decepcionar ao vê-lo, toda vez que ele entrava e não via Aegony o sentimento era mútuo. Essa manhã ele passou com Jacaerys em seu encontro com a Septã, sendo o exemplo perfeito de um cavaleiro e demonstrando sua boa educação.
Ele suspirou de cansaço e resignação.
Logo ele estará livre para estar com Aegony, enquanto o verme estaria na presença da velha e enrugada Septã, pois Jacaerys era o mesmo bastardo de sempre e demoraria bastante até ser liberado. Mas isso não o deixava menos irritado.
Ele tentou ver seu anjo pelo castelo, mas o máximo que obteve foi um vislumbre através de uma janela, vários andares acima, a doce menina estava bordando no Jardim com sua Septã e Heleana, o sol batia em seus cachos e eles reluziam como uma cascata de prata líquida descendo pelas suas costas que destacava ainda mais o seu rosto belíssimo.
Depois dessa visão, ele a procurou por todo e qualquer lugar mas não viu mais nenhum resquício de pele negra e cabelos brancos em lugar algum. Ela deve ter voltado para os aposentos de Rhaenyra, aprisionada como um belo passarinho em sua gaiola apenas para que pessoas previamente selecionadas pudessem prestigia-la. Mas ele não poderia mais viver assim, a vida sem ela era muito sem sentido, mais um segundo e ele jurava que mais alguém morreria. Ele torcia para que não fosse ele mesmo.
Aemond bufou de raiva e continuou cuidando de Suryax com a determinação renovada.
-Amanhã trarei Aegony de volta, Suryax. Eu prometo.
O dragão olhou para o garoto que cuidava dele, seu olhar era bem diferente de seu corpo frágil e com um único bufo que mal soltou fumaça de suas narinas, a sentença de Suryax foi dada e interpretada por ele.
Aemond trará sua humana de volta ou se arrependerá.
...
Havia algo de estranho na manhã seguinte quando o segundo filho do rei voltava de suas orações no septo, empregadas entravam e saiam do quarto da princesa Rhaenyra com cada vez mais e mais baús. Decidido a saber o que estava acontecendo, Aemond as seguiu e observou quando elas entravam no quarto de Jacaerys e Lucerys. Observando com atenção, ele procurou alguma visão dos meninos nos quartos, ele encontrou Lucerys revirando seus baús e quase esbarrou com Jacaerys quando ele ia para seu quarto, o rosto do garoto claramente aborrecido.
Logo, Aemond se animou e correu para a entrada do quarto de Aegony, esperando uma empregada entrar lá também. Os filhos da princesa Rhaenyra estavam voltando para seus aposentos e ele mal podia esperar para que seu anjo voltasse também.
Mas a porta estava fechada e, quando ele tentou abrir, estava trancada. Ele aguardou mas nenhuma empregada apareceu, ele esperou mais e mais, até se estressar e desistir enquanto ia para suas aulas com a Septã. Ele não podia se atrasar. Então, se ele tomou o caminho mais longo para passar em frente aos aposentos de sua meia-irmã foi por pura coincidência, ele não estava preocupado. Claro que não. Aemond Targaryen não se agitaria por algo tão simples assim, seria completamente estúpido e sem motivo algum.
Agora, ouvir gritos quando passou em frente ao quarto de Rhaenyra era motivo de preocupação sim.
-EU VOU FICAR! -Aegony gritou antes de soltar um som extremamente agudo que doeu os ouvidos de Aemond e dos funcionários. Logo em seguida a Septã Morgane apareceu através da porta arrastando uma Aegony em prantos, o rosto de sapo vermelho com o esforço.
- O que pensa que está fazendo?-tomado de fúria, o príncipe gritou e se aproximou apenas para ser puxado por Sor Harwin no último segundo.
- Não se aproxime, Vossa Alteza.
-Sor Harwin, tire suas mãos de mim!
O homem, alto como uma muralha apenas o segurou com mais força.
- Receio que não, Vossa Alteza.
Enquanto Aemond sentia vontade de cravar uma faca no rosto idiota de Strong, a confusão continuou.
- Sua atitude é inadequada, Vossa Alteza. Completamente inadequada!
Com um último puxão firme, a Septã apareceu na porta tentando levar a criança que se debatia, porém, a jovem princesa pisou no pé de sua Septã com força e quando a mulher a soltou de susto, Aegony não se demorou e agarrou o batente com todas as suas forças e gritou o mais alto que podia por seu escudo juramentado. A Septã tentou o máximo que podia, puxando a princesa pelo braço e tentando soltar seus dedos infantis do batente.
- Uma princesa tão bonita e crescida, agindo como uma selvagem desmiolada, onde já se viu algo assim, Vossa Alteza? Pare já com isso!
No momento, Aemond se sentiu enfurecido. Qual o sentido de possuir um escudo juramentado se ele não seguia todos os seus passos? Onde estava Sor Harren para acabar com essa palhaçada?
Em meio aos gritos e o caos que se espalhava, Sor Laenor apareceu acompanhado de Sor Harren. Ambos ofegantes e completamente perplexos com a situação.
- Septã Morgane, explique-se! – exigiu Sor Laenor Velaryon.
Automaticamente as mãos da mulher soltaram a princesa.
-Sor Laenor! Veja bem, eu posso explicar. - A mulher pareceu subitamente pálida. – Vim acompanhar a jovem princesa para a aula, como o senhor ordenou, mas a encontrei sentada em cima de seu baú recusando -se a sair para voltar a ocupar seu quarto como era adequado. Nada do que o meistre, as Aias e Sor Harwin diziam parecia dissuadi-la. Então, o Sor Harwin estava prestes a pega-la em seus braços quando intervi, não caberia a alguém como ele educar o mau comportamento da princesa Aegony.
A cada palavra que a mulher dizia, Sor Laenor parecia querer esgana-la.
- E com a permissão de quem você ousou tocar em minha filha, Septã Morgane? Rhaenyra nunca permitiria isso e a senhora sabe bem. -a cada palavra, ele se aproximava mais dela. A boca da Septã se abriu mas ela não chegou a responder.
- Eu autorizei e se ela não tivesse feito, eu teria, como já foi deixado claro.
O pescoço de Sor Laenor virou drasticamente para Sor Harwin Strong, que havia deixado o príncipe Aemond de lado para lidar com a situação. Enquanto eles discutiam, o jovem príncipe aproveitou a oportunidade para se infiltrar na confusão de pessoas na entrada dos aposentos da princesa Rhaenyra e abraçar Aegony, que ainda se segurava firmemente ao batente da porta. Sor Harren se moveu para ficar na frente das crianças.
- Eu gostaria de saber o por quê disso ter sido feito, Strong.
O comandante da patrulha da cidade não pareceu nenhum pouco alterado pela clara demonstração de raiva de Sor Laenor e continuou forte como uma rocha.
- O meistre Gerardys insistiu que as crianças deveriam sair dos aposentos da princesa Rhaenyra, ela necessita de tranquilidade para repousar. Os jovens príncipes não objetaram mas a Vossa Alteza, princesa Aegony, se recusou a sair do quarto por todos os meios possíveis.
Sor Laenor riu.
-E você garantiu que a retirada da princesa Aegony dos quartos de sua mãe fosse muito tranquila não é mesmo? Me diga, Sor Harwin, como se sente retirando uma garotinha aos berros do conforto dos aposentos de sua própria mãe? Você não tem o poder de fazer isso.
- Pelo contrário, como espada juramentada da princesa Rhaenyra, é meu dever tomar toda e qualquer decisão que garanta a segurança da princesa. No momento, a princesa Rhaenyra está em um sono induzido pelo meistre para se fortalecer. É meu dever garantir que ela acorde em um ambiente que não a estresse.
Laenor Velaryon estava longe de um campo de batalha a muito tempo, desde que se tornou pai ele não teve motivos para se tornar novamente um homem violento. O máximo de ação em sua vida era treino com espadas de madeira que dificilmente constituiriam o significado de violência. Entretanto, Harwin Strong lhe deu muitos motivos para mata-lo de todas as formas possíveis.
- Essa é a primeira e última vez que direi isso: toda e qualquer decisão sobre os meus filhos não lhe diz respeito, a próxima vez que você ou alguém sob suas ordens encostar um dedo nos meus filhos, cortarei suas mãos e sua língua. Estamos entendidos, Sor Harwin?
Harwin Strong estava claramente furioso, não sendo conhecido como alguém tranquilo, mas sim alguém que explodiria quando minimamente provocado. A mão de Sor Harwin repousou de forma firme no punho da espada em sua cintura, o que não passou despercebido pelos outros dois cavaleiros, que espelharam seu gesto
- Laenor te fez uma pergunta, Strong. -disse Sor Harren, que gentilmente direcionava Aemond e Aegony para dentro do quarto.
- Me responda, Harwin, ou responderá ao rei. Me pergunto, o que ele achará dessa situação?
- Sim, entendo claramente. – grunhiu o homem em resposta, que diante da clara ameaça de Laenor, recuou e, sem retirar a mão da espada, se virou abruptamente e saiu com passos firmes dali.
Aemond ainda estava com os bracos em volta de Aegony quando Sor Harren deu um passo para a frente e eles saíram de dentro do quarto, foi somente então que o Velaryon se lembrou de Aemond.
- Príncipe Aemond, vossa alteza não deveria estar aqui, deveria? Não me recordo do fim de sua punição – o homem o encarou com olhos estreitos e a postura rígida, ainda atento a qualquer ameaça.
-Não, senhor. Ouvi a grande comoção quando estava passando e não pude deixar de intervir quando vi a ousadia da Septã em fazer tal coisa com minha sobrinha. -o olhar que Aemond lançou para Septã Morgane poderia derreter o aço e a mulher não pode conter a vergonha em suas feições ao ser repreendido pelo filho da rainha Alicent. – Pelo seu próprio bem, espero que não tenha machucado minha sobrinha ou Rhaenyra terá sua cabeça antes mesmo que tal situação chegue aos ouvidos de meu pai.
Com as palavras do jovem príncipe, Laenor foi verificar sua filha. Quando ele se moveu para levantar a manga de deu vestido, ela aproximou o braço do peito e virou mais o corpo para Aemond. Seus olhos vermelhos e inchados arregalados, suas feições mais pálidas substituindo o rubor do choro.
- Tenho certeza de que a Septã Morgane não me machucou.
Aemond entrelaçou seus dedos nos dela e acariciou as costas de sua mão com o polegar, seu braço que estava tenso foi relaxando aos poucos e ele depositou um beijo em seus dedos.
-Claro que você tem, querida. - Aegony relaxou visivelmente quando alguém concordou com ela.
Um bufo foi soltado por Laenor Velaryon enquanto observava esse garoto dissimulado, escorregadio como uma maldita cobra, acariciar sua filha tão naturalmente. Seus dedos coçaram para alcançar a espada, mas uma parte de si mesmo lhe disse que era apenas uma criança. Já a outra parte de si lhe disse que esse era um jovem homem de 14 dias de seu nome acariciando sua menininha, ele sabia o tipo de coisas que fazia quando tinha a mesma idade. Para um homem que não usava da violência há muito tempo, hoje foi um dia de revisitar o passado.
- Aegony, deixe-me ver seu braço, e, príncipe Aemond, fico grato por ter parado para amparar minha filha, mas não acha que já burlou as ordens do rei o suficiente?
O segundo filho do rei observou a ira de Laenor Velaryon e teve vontade rir, mas não foi o único que percebeu. Sou Harren tinha um sorriso ladino no rosto quando colocou a mão no ombro de Laenor.
- São apenas crianças, Laenor. Não precisa ter ciúmes.
- Não tenho ciúmes, Harren. Estou apenas cumprindo as ordens do rei!
-Que gracinha, Laenor com ciúmes de sua garotinha. Muito mamãe galinha de sua parte.– Sor Harren apertou as bochechas de Laenor Velaryon e riu quando seu rosto ficou vermelho, se de raiva ou constrangimento, Aemond não sabia.
Os dois continuaram, Sor Harren implicando e Sor Laenor discutindo, completamente alheios a Septã que estava extremamente confusa com a situação. Sor Harren não era do tipo que era visto brincando e muito menos rindo, Aemond podia ver no rosto da Septã que isso não ficaria apenas entre as pessoas nesse corredor.
A repentina leveza do clima trouxe um sorriso fraco ao rosto de Aegony e uma distração muito bem vinda. Antes mesmo que ela pudesse perceber, Aemond aproximou o braço dela do peito e enquanto uma de suas mãos estava entrelaçada com a dela, a outra empurrou repentinamente a manga do vestido até o bíceps.
No momento em que a princesa percebeu era tarde demais e seus gritos de alarde serviram apenas para trazer a atenção de volta para si mesma.
-O que você pensa que está fazendo?!
Aemond estava congelado de fúria, alheio aos tapas sendo dados em deu braço e a voz indignada de Aegony. Ele não pensou em nada, apenas ergueu o suas mãos entrelaçadas em direção ao pai dela, lhe mostrando seu pulso.
Laenor Velaryon não demorou a agarrar a Septã pelo seu véu, que foi pega totalmente desprevenida, e aproximou seu rosto do pulso de sua filha.
- Você fez isso, olhe o que você fez! – ele grunhiu enquanto forçava a mulher a olhar o pulso de Aegony, marcas de meia lua haviam formado um sulco em sua pele, deixando -a avermelhada e inchada ao redor da marcas, indicando uma inflamação.
- Não fui eu, meu senhor! Juro que não fiz isso com a princesa! -a mulher parecia branca de pavor.
- Pai! Ela está dizendo a verdade, solte ela por favor!
O olhar de sua filha lhe disse tudo o que precisava, ela dizia a verdade. Ele virou a Septã de frente para ele e agarrou seus ombros, sacudindo-a.
-Dessa transgressão você está livre mas não pense que ficará impune por tê-la arrastado, você chegará até o rei e indicará a Septã Eddara para continuar com a educação da minha filha ou o rei saberá do que aconteceu aqui hoje. Fui claro?
Por um segundo a velha mulher pareceu indignada.
- Septã Eddara é jovem, inexperiente e totalmente inadequada para cuidar da educação de uma jovem senhora!
Ele a apertou mais forte e ela guinchou.
- Ela nunca tocaria em minha filha e é uma mulher leal e digna de todo meu respeito. Ela é mais do que adequada e você a indicara. Além disso, se eu souber que você mencionou a situação ocorrida aqui para alguém, eu mesmo entregarei a sua cabeça para o rei. Entendido?
- Sim, meu senhor.
Assim que ela concordou, ele a atirou para longe e ela andou o mais depressa que pode.
- Pai, isso não tinha necessidade.
Aemond se intrometeu e grunhiu, não soltando-a em nenhum minuto.
- Claro que tinha, ela não deveria ter feito aquilo com você.
Ela deu -lhe um tapa no ombro.
- Não se intrometa, mentiroso! Você disse que concordava comigo!
Ele se aproximou e disse de forma arrastada:
- Eu concordei que você tinha certeza que não havia sido machucada, mas o que você considera ou não um ferimento é um grave insulto a sua segurança física. Eu nunca disse que não verificaria por conta própria e não menti para você.
Aegony estava prestes a soca-lo quando seu pai interviu e separou os dois.
- Agora, distância pessoal existe e já chega disso. Harren levará você para o quarto e nós conversaremos sobre isso mais tarde, Aegony.
-Mas li...
-Nada de “Pai" com essa sua voz chorosa, vamos fazer o que seu pai mandou, princesa.
Sor Harren levou-a para dentro e uma parte do coração de Aemond quebrou quando ela não se virou para se despedir dele. Ele se recompôs e olhou para o homem furioso a sua frente, uma besteira na opinião dele, Aegony não era dele para se sentir ciumento. Ela era de Aemond.
- E você, príncipe Aemond, ficará em silêncio sobre o que aconteceu aqui. Seu pai não gostaria que você quebrasse seu castigo, gostaria?
Homem tolo, ele achava que podia ameaça-lo. Ele não era burro, Laenor queria silêncio porque sabia que Rhaenyra ficaria com raiva mas perdoaria Strong e colocaria toda a culpa na Septã quando fosse até o rei. Porém, se a Septã fosse delatada, ela não iria sozinha para a execução e tentaria levar Strong com ela. Deixando Rhaenyra rancorosa por Laenor não ter se livrado da Septã quando teve a chance. Mas Laenor não faria isso quando teve Aemond como plateia, ameaçar relatar que Aemond furou o castigo era menos arriscado quando o menino tinha o desrespeito da Septã e de Strong sobre suas cabeças do que quando ele tivesse essa informação mais o conhecimento de quem matou a Septã. A corte ficaria em choque, Septã Morgane morta enquanto o escudo juramentado de Rhaenyra ficaria vivo. Isso reforçaria os boatos de que a princesa tinha um amante, por qual outra razão uma mãe não iria querer a cabeça do homem que praticamente ordenou que sua filha fosse arrastada por aí como uma coisa a ser jogada fora.
Além disso, havia a questão: onde estava Sor Harren? Era seu dever vigiar a princesa a cada segundo do dia e ele poderia sofrer as consequências. Sim, talvez Aemond estivesse enganado, quando pensado dessa forma seus pensamentos anteriores eram tolos e infantis. Mesmo que Rhaenyra não peça uma punição para ele, o rei o fará e Laenor Velaryon temia que Sor Harren fosse ferido, banido da corte ou pior, morto. Ele não poderia se importar com os rumores bastardos dos meninos quando isso não afetará a reivindicação de sua filha. Mas qual poderia ser a relação entre os dois guerreiros? Afinal, o marido de sua meia-irmã tinha sua fama. Aemond analisou Laenor de cima a baixo e sorriu quando notou algo peculiar em suas vestes.
- Claro que manterei isso em silêncio, Sor Laenor. Eu nunca me prejudicaria dessa forma, eu lhe garanto.
O homem acenou com a cabeça em concordância e deu a entender que entraria para o quarto de sua esposa, uma clara despensa ao garoto.
- Sor Laenor.
O homem se virou para o príncipe.
- Nunca antes vi uma amizade como a sua e de Sor Harren.
- O que está insinuando?
- Nada, apenas acho um excelente traço de camaradagem, entre você e Sor Harren, usar os cintos com seus símbolos de família invertidos. É algo tão lindo, uma amizade de se invejar, de fato.
Aemond se sentiu particularmente orgulhoso quando se virou bruscamente e foi embora, seu golpe foi arriscado mas certeiro. O herdeiro de Derivamarca parecia em choque e subitamente pálido antes que ele fosse embora. Pela sua feição atônita Aemond acertou em cheio e ele nem havia mencionado seu cabelo atrapalhado e os botões do gibão com as casas trocadas.
Sinceramente, é necessário muita coragem para ter um amante e mais ainda para ser descuidado sobre isso.
...
Mas o relacionamento de Laenor com o escudo juramentado de sua filha não ficaria por muito tempo na mente de Aemond. Ele precisava descobrir quem machucou sua Aegony, as feridas em seu pulso eram claramente marcas de unha e pela sua profundidade e aparência, não foi feito nesta manhã pela Septã. As feridas estavam claramente secas, em processo de cicatrização.
Ele cumpriu sua oração no septo e foi para seu quarto, quando uma serva foi chamá-lo para jantar com sua mãe, ele negou. Disse a ela que estava jejuando em penitência por ter chegado atrasado ao seu encontro com sua Septã nesta manhã. A serva saiu e quando não houve nenhuma ida de sua mãe ao seu quarto, ele apagou as velas, deixando apenas algumas acesas em sua mesa de estudo, com estatuetas dos sete que ele posicionou perfeitamente, afastou a cadeira e retirou o tapete do lugar. Um pequeno altar improvisado com todos os detalhes possíveis para parecer o mais crível possível, só faltava algo, uma prova de sua imensa devoção.
Aemond fez o que sua mãe sempre ordenava em seus castigos para transgressões leves, esfregando seus joelhos no chão até ficarem em carne viva para uma simulação de sangrentas horas de orações. Ela tendia a ser mirabolante em suas punições, cada filho tinha seu próprio jeito. Alicent Hightower conhecia seus filhos e sabia como afeta-los, Aemond se importava mais consigo mesmo do que com qualquer outra pessoa, por isso recebia castigos auto impostos em que ele machucava a si mesmo. Geralmente, quando ele mesmo percebia sua transgressão e se punia sem qualquer ordem direta, ele era agraciado com seu carinho materno e elogios.
Já Aegon não seria impactado por punições religiosas e feridas auto impostas, ele deixava claro seu desprezo pela fé e não se importava o suficiente com o mal que causava a seu próprio corpo, por isso sua mãe dava seu castigo ela mesma, de formas diversas. A surpresa do golpe e o óbvio desgosto de sua mãe por ele, o afetava mais do que dias de jejum e orações ajoelhado na pedra.
Sua irmã Helaena também não se importava com a fé e muito menos com a dor, nenhum tipo de golpe, seja ele imposto por sua mãe ou por ela mesma, podia afeta-la. Por isso, sua mãe sentava em frente à lareira com Helaena ao seu lado e atirava sua coleção de insetos, bordados e pinturas ao fogo. Até que não reste nada que Helaena possa aterrar sua mente dispersa. Uma vez ela queimou uma tapeçaria inteira de uma aranha que sua irmã viu no Jardim, tapeçaria essa que foi trabalhada por meses a fio.
Já Daeron, era o filho esquecido e estava acostumado com isso. Esquecido pela corte, pelo reino e até pelos seus próprios pais. Sua mãe somente se dignava a prestar atenção nele no dia do nome de Aegony, para reclamar o quanto seu filho era esquecido e que não recebia a atenção que merecia, quando ela mesma não lhe deu um presente e nem lhe dirigiu a palavra. Quando ele aprontava, sua mãe se limitava a tranca-lo em seus aposentos e tirava toda e qualquer atenção que ele pudesse receber, até mesmo dos servos, sua comida era empurrada para dentro do quarto tão rapidamente que ele não via o rosto de quem a trouxe e seus aposentos não recebiam nenhum tipo de vela, deixando -o no vasto vazio que a noite proporcionava. Mas Aemond tinha a ligeira impressão de que sua mãe não esquecia dele verdadeiramente, havia algo nele que ela não gostava e escolhia ignora-lo. No dia que o enviou para Vila Velha, sua mãe parecia estranhamente aliviada.
Sua mãe se orgulhava de conhecer seus filhos, principalmente suas fraquezas. Mas havia algo que ela não sabia, uma falha em seu sistema. Aemond não se importou quando retirou a calça e machucou seus joelhos, nem deu a devida atenção quando vestiu-as novamente e mancou pela passagem secreta e a dor irradiava toda vez que ele dava um passo ou o tecido esfrega na pele ferida.
Aemond não se importava com qualquer pessoa que não fosse ele mesmo, mas Aegony não era uma simples pessoa, ela era mais do que isso. Ela era um anjo e uma Targaryen, seres mais próximos dos deuses do que do povo comum.
...
Ele passou grande parte da noite escondido no quarto de Aegony mas ela não estava lá, então ele foi até o quarto de sua meia irmã durante a madrugada e se sentou na passagem secreta, ouvindo atentamente. No início não nada ocorreu, até que a voz cansada de Laenor Velaryon chegou aos seus ouvidos.
- Querida, sua mãe está bem. Não há com o que se preocupar, ela e o bebê estão saudáveis. Sua vigília não é necessária.
Uma voz rouca e chorosa foi ouvida e Aemond quis entrar para abraça-la:
- Pessoas saudáveis não sangram e não sentem dor! Muña não estaria dormindo para “se recuperar” se estivesse bem! – um fungado se seguiu a uma voz chorosa – Ela precisa de mim.
- O meistre cuidará de suas necessidades, querida.
- Ele é um idiota, um grande covarde! Deveria estar aqui, acordado e vigiando-a noite e dia, não dormindo quando sua futura rainha pode morrer! – seu tom acusador fez Aemond imaginar suas feições, seu belo rosto estaria distorcido de raiva, uma ruga entre as sobrancelhas, olhos vermelhos de raiva e brilhantes com o desejo de sangue, além de um lindo biquinho, que ele mataria seu próprio irmão mais velho para poder beijar, não que Aegon valesse tanto.
- Peixinha, já falamos sobre isso, o bebê a cansa muito mas ela está bem. Não há necessidade de Gerardys assisti-la, é melhor que ele descanse para poder cuidar melhor dela. Agora, por favor, vá dormir.
A raiva e a angústia na voz de Aegony eram palpáveis e a desculpa esfarrapada de Laenor não deveria estar ajudando em nada. Seu anjo era jovem e inocente, não burra. Se Aemond estivesse lá, ele a acalmaria e ela estaria tranquila na cama dormindo em seus braços, isso, é claro, depois que ele a convencesse de que era digno de seu perdão depois de ter tramado para ver o braço dela. E mesmo assim ele resolveria a questão bem mais rápido do que Sor Laenor, o homem pode pensar o que quiser de si mesmo mas não é tão competente quanto pensa. Seu único sucesso digno de nota, segundo o jovem, era ter participado na concepção de sua Aegony. Somente por isso ele merece algum respeito.
Muito tempo se passou e Aemond se perguntou quão forte deve ser o sono induzido que sua meia-irmã se encontra, afinal, a conversa deles se estendeu por horas a fio, com vozes oscilantes que iam de sussurros a gritos em questão de segundos. O homem durou mais do que Aemond imaginava, resquícios de luz solar apareciam entre algumas rochas da parede quando Laenor Velaryon desistiu desse tópico e passou para o outro grande problema.
- Se não vai dormir, pelo menos diga para o papai quem machucou sua mão, peixinha?
Houve um longo silêncio que manteve Aemond grudado na parede da passagem secreta, louco por respostas.
- Eu fiz.
- Não. Não fez. – foi o que Aemond disse para si mesmo, torcendo para que Laenor Velaryon não seja tão idiota.
- Querida, você não é de se machucar. O que houve? Não está escondendo nada de mim, não é?
- Não, papai. Eu juro. Estava preocupada com a mamãe e fiquei com raiva ontem no bordado, então eu enlouqueci e enfiei as unhas no meu braço. Me desculpa.
Outra longa pausa ocorreu antes que Laenor Velaryon soltasse um suspiro e Aemond sentiu suas esperanças nesse homem serem levadas pelo vento. As marcas eram grandes para os dedos delicados e infantis de Aegony, ela não poderia ter feito isso. Até o mais burro e cego dos homens teria percebido isso, mas Laenor Velaryon era cego de amor e preocupação paterna, além de acreditar que sua garotinha, a razão do seu viver, mentiria para ele. Então o homem tolo, contrariando os desejos secretos de Aemond para persistir no assunto, disse:
- Prometa que não fará novamente.
- Prometo, papai.
O punho de Aemond se chocou contra o chão e ele cerrou os dentes, se contendo para não gritar com aquele idiota. Aegony nunca faria algo assim, ela provavelmente descontaria no primeiro que a provocasse, provavelmente Jacaerys, ou ficaria em um surto interno que a destruiria de dentro para fora até que, movida por sua teimosia, ela voltaria sua atenção para algum projeto pessoal e seus sentimentos conflituosos se transformaria em determinação. Ela não faria isso, se não o fizesse por amor próprio, seria por amor a sua mãe, pai, irmãos e ,principalmente, seu tio favorito, Aemond. Ela não machucaria seus entes queridos dessa forma.
Um silêncio se seguiu até que a voz de seu anjo ressoou pelas paredes do castelo e uma linda canção valiriana era dedicada a sua mãe. Aemond a conhecia, conhecia o medo em sua voz, a insegurança em cada verso sofrido e assustado, alguém a deixou assim e ele descobriria quem. A punição para aquele que feriu seu anjo de tal forma seria incomensurável, que os Sete tenham piedade, pois Aemond Targaryen não teria.
…
Aemond cumpriu seus deveres e obrigações perfeitamente, seu estômago reclamava de fome por estar jejuando desde ontem e o menino estava furioso. Ele passaria fome por semanas se isso significasse que Aegony fosse feliz, entretanto, ela não estava. Ele não a viu em nenhum lugar da fortaleza, a Septã Morgane fez o que Sor Laenor ordenou e no jardim estavam apenas ela e sua querida irmã Heleana. Em seu castigo com a Septa e Jacaerys, Aemond estava tentado a perguntar ao garoto se Aegony não sairia do quarto. Mas não o fez, ele ainda tinha orgulho.
Assim que a aula com a Septa acabou, ele se esgueirou pelas passagens secretas e se infiltrou na cozinha em busca de respostas. Algo que ele aprendeu em sua vida e que os servos sabbem de tudo, eles ouvem tudo e, principalmente, contam uns aos outros sobbre tudo. Hoje nao foi diferente.
O garoto ouviu as cozinheiras e as servas conversando e sua raiva triplicou de tamanho.
A bandeja de café da manhã da princesa Aegony voltou intacta, segundo a serva, a princesa não saiu do lado de sua mãe. Quando ela entrou, a princesa não lhe dignou o olhar e não lhe disse nada, estava estática ao lado da princesa herdeira e, quando lhe foi ordenada que levasse a bandeja embora, a princesa continuava exatamente no mesmo lugar. A única diferença era a Septa Eddara sentada ao lado dela, lendo para ela e sendo totalmente ignorada.
Fúria nublou os olhos de Aemond quando ele voltou para os corredores principais do castelo e se dirigiu até o seu quarto. Ele não podia acreditar, seu anjo não comia e não saia do lado de sua mãe. Como ele poderia investigar algo e questioná-la quando ela se escondia no único lugar onde ele não poderia ser visto? O que aconteceu com ela? Primeiro foi o escândalo no corredor e agora isso? Os Sete estavam testando sua paciência ou punindo-o por algum de seus crimes, os deuses sabem que ele possui muitos.
Assim que seus passos cambaleantes o levaram para dentro de seu quarto, ele foi saudado com a visão de sua mãe sentada em um banquinho ao lado de sua cama. Aemond colocou uma máscara pacífica em seu rosto e colocou seu queixo em seu peito como um gesto de arrependimento. Ele se aproximou de sua mãe e beijou-lhe a mão.
-Bom dia, mãe.
- Bom dia, querido. - disse-lhe Alicent, a voz da rainha estava doce e estranhamente carinhosa. - Meu bom menino, você será um homem de grande caráter e temente aos Sete. Nunca na vida poderia desejar um filho melhor.
A mulher se levantou e pegou o rosto de Aemond em suas mãos e arrulhou para ele.
-Deixe que sua mãe cuide de você.
E ele deixou, ele sempre o faz.
Assim que retirou suas calças, ele se sentou na beira da cama e estendeu sua perna esquerda para a rainha, que a segurou com ternura e passou um pano úmido em seu joelho esfolado, usando a água morna de uma pequena tigela de porcelana. As poucas cascas que a ferida tinha foram levadas pela água com um pouco de sangue.
-Um homem que se arrepende perante os deuses até por suas menores transgressões, é um homem que honrará suas bênçãos e se arrependerá de seus pecados.
O momento era ritualístico, lembranças de momentos idênticos passaram pela mente de Aemond quando sua mãe pegou uma pequena quantidade de cataplasma e passou em seu joelho ferido, seus toques eram suaves e gentis, o mais próximo de uma mãe amorosa e dedicada que Aemond conseguiu em toda a sua vida. Essa mulher era o que ele pensava quando respondia afirmativamente que amava sua mãe, a mulher que cuidava de seus machucados.
Um pano limpo e de um branco puro foi usado para enfaixar o machucado e logo sua mãe passou para a outra perna, repetindo exatamente os mesmos cuidados com a perna direita.
O momento passou tão rápido, ele nunca durava o suficiente. Logo ele estava vestido e de pé, com a dor parcialmente anestesiada, uma sensação refrescante em sua pele maltratada.
-Vamos almoçar em família hoje, até ordenei que Sor Criston recuperasse seu irmão de qualquer lugar que ele tenha se perdido -Sua expressão doce foi substituída por uma rígida quando ela acrescentou com um arquear de sobrancelhas: - Espero que você tenha aprendido a lição, não se atrase.
Ela se virou e foi embora e Aemond lutou para desfazer a fantasia que tentava se agarrar em sua mente, pois, em momentos como aquele. Cheio de cuidados e carícias, ele até poderia pensar que sua mãe o amava.
…
A refeição nos aposentos de sua mãe começou agradável, diferentes tipos de carnes e acompanhamentos eram dispostos na mesa. Havia quatro cadeiras ocupadas, Heleana estava sentada ao lado dele e em frente a eles estavam sua mãe e Aegon. Diversos jarros de bebidas circulavam pela mesa e Aegon se fartava de todas elas, completamente alheio aos olhares de repreensão de sua mãe. Aemond preferiu relaxar um pouco mente, talvez ele tivesse uma ideia do que poderia ter acontecido com seu anjo. Por isso, ele se virou para Heleana e conversou com ela. As respostas dela eram entusiasmadas contando a ele sobre sua mais nova borboleta.
-Elas são extremamente raras! Foi sorte encontrar uma dessas, suas asas são brancas com bordas douradas e elas são tão grandes! São maiores que minha mão! Ela é conhecida como Anjo D’ouro e são usadas pelo povo comum como uma prova de amor e lealdade, já que consegui-las é tão raro! Seus casulos são dourados como ouro e em alguns lugares da Campina é costume que seus casulos sejam ressecados, moídos e transformados em um chá que parece ouro líquido! -Ela inclinou o rosto em sua direção e disse em um falso sussurro: -Eles servem para dar fertilidade para jovens noivas! Emocionante, não é?.
Aemond sorriu para a animação de sua irmã, era algo incomum e extremamente adorável. Seus olhos brilhavam e seu corpo praticamente tremia de animação. Querendo incentivar mais desse sentimento em Heleana, ele indagou:
-Que sortuda você é, irmã. E como você conseguiu algo tão raro?
Ela deu um pulinho de animaçao na cadeira e respondeu:
-Eu estava no jardim, na aula com a Septa ontem, quand…
-Helaena! Suas aulas com a Septa Morgane nao sao para brincadeiras e caçar essas criaturas nojentas, alem disso e inaprop…Aegon! O que pensa que esta fazendo?
A interrupção de sua mãe à fala de Heleana não adiantou de nada, pois logo a rainha interrompeu seu discurso com seu filho mais velho puxando uma de suas servas pelo braço, sentando-a em seu colo e tomando a jarra de sua mão, tomando direto do gargalo enquanto apalpava as curvas da coitada da garota.
Enquanto o caos se instalava e sua mãe tentava convencer um Aegon bêbado a soltar a garota, Heleana se inclinou para Aemond e continuou contando.
-Houve uma grande confusão, um gato tentou caça-la e acabou rasgando suas asas, mas ai, sendo um maldito demonio aproveitador, você acredita que um corvo veio e tentou roubar a borboleta do gatinho?Mas ele não conseguiu, também sofreu com as garras. -a feição alegre em seu rosto sumiu e sua expressão ficou particularmente sombria e misteriosa quando ela apertou seu braço e sussurrou, apenas para os seus ouvidos: -Mas, você sabe o que dizem, quem é capaz de machucar um anjo, também pode machucar um demônio.
Heleana pegou seu pulso e apertou as unhas no pulso de Aemond com toda a sua força, fazendo-o grunhir de surpresa com a pontada de dor.
-Cuidado, ela parece mansa mas não é! Cuidado com as garras ardilosas da gata verde!
A confusão tomou conta do príncipe Aemond.
-Mas que merda, irmã! Que coisa é essa?
A única filha da rainha soltou o braço de seu irmão, seus olhos voltaram para sua graça desatenta ocasional. Se ele não a amasse, teria sacudido sua irmã. Seus olhos azuis, quase translúcidos de tão claros, olhavam com estranhamento para Aemond.
-O que foi? Você está estranho.
-Eu? - Aemond sibilou - Voce que disse coisas estranhas.
Ela pareceu magoada com suas palavras.
-Meus insetos não são estranhos, eles são completamente normais.
Antes que Aemond pudesse esclarecer a situação com Helena, a briga entre sua mãe e seu irmão pareceu evoluir.
-Eu mandei, soltar esta criada. AGORA!
O rosto da garota estava pálido de medo e seu corpo tremia sob as mãos de Aegon.
-Não tem respeito por mim e sua irmã? Pare com essa sem-vergonhice JÁ!
Aegon perecia particularmente divertido quando disse:
-Com todo o prazer mãe.
Com um forte empurrão, a garota foi ao chão e com uma sacudida de sua mão, Aegon jogou a garrafa e o que restava de vinho sobre seu corpo.
Um tapa se chocou com o rosto de Aegon com tanta força que o fez virar o rosto.
A garota agora assistia a comoção e parecia humilhada, jogada no chão e molhada de vinho. Seus olhos estavam vermelhos, ela os olhava com medo e nojo, como se todos os presentes fossem monstros. Recolhendo rapidamente a jarra, ela se levantou, fez uma reverência e andou o mais rápido que podia. Aemond observou um rastro de gotas de vinho seguindo seus passos.
Quando a viu cruzar a porta, ele voltou sua atenção para o escândalo familiar,o que é uma bela refeição em família sem um pouco de drama? Ele levou um pedaço de carne na boca e observou atentamente.
-Você sabe que não foi isso que pedi, Aegon. Olhe para mim quando estiver repreendendo você!
Aegon estava com o rosto virado para o outro lado, uma mancha avermelhada surgia em seu rosto e cortes superficiais se transformavam em linhas vermelhas em sua bochecha. Ele estava irado, parecia não olhar para mãe como mais uma forma de se rebelar.
Alicent segurou-o pelo queixo e puxou o rosto de Aegon em sua direção.
-Eu mandei me olhar quando eu falar com você, não me ouviu, idiota?
Aegon ficou mudo e voltou seus olhos para baixo. Furiosa, sua mãe cravou as unhas em seu queixo com toda a sua força, fazendo-o olhar para ela assustado. Ele ia levar a sua mão para tirar a dela, mas com reflexos felinos, ela segurou o seu pulso antes que ele pudesse e cravou as unhas nele também. Isso despertou um alerta na mente de Aemond, mas ele não podia acreditar.
-Não me interessa o que vocẽ faz com suas putas em particular, mas você não irá constranger sua irmã ou manchar a reputação de nossa família. Ouviu bem? Não terei sua imundice desonrando tudo que lutamos para construir. Imbecil.
Sua voz era tão fria que causou arrepios em Aegon, sua rebeldia anterior completamente perdida. Ele podia lutar, Aemond sabia, mas Aegon não tinha essa percepção. Para ele sua mãe tinha o poder de arruinar sua vida, destruí-lo por completo. Como se Aegon já não estivesse destruído. Todos eles estavam, essa era a consequência do poder de sua mãe sobre eles.
Ela o soltou e com um aceno de sua mão, Sor Criston Cole o pegou pelo braço e o arrastou para seu quarto. Ele ficaria lá, com comida e água limitadas, além de completamente sem bebida. Enquanto o escudo juramentado da rainha arrastava seu irmão para fora, Aemond olhou para as feridas no pulso de seu irmão e depois olhou para sua mãe que limpava o sangue debaixo das unhas com o guardanapo e as analisava.
Aemond se sentia burro e ingenuo por não pensar nisso antes. Quem era a única pessoa com coragem o suficiente para enfrentar Rhaenyra e ferir sua filha? A própria rainha, que no momento limpava suas unhas como um gato, limpando suas patas depois de uma caçada bem sucedida.
As palavras de Helaena surgiram em sua mente.
Ela parece mansa, mas não é. Cuidado com as garras ardilosas da gata verde.
Ele olhou assustado para a irmã, que estava claramente confusa quando o fitava de volta.
-Aemond, o que foi? Você parece estranho.
A menina de olhos azuis o encarava com curiosidade depois de não receber resposta. Aemond olhou para a mãe deles e percebeu que ela os observava atentamente, fugindo de seus olhos ferozes, ele voltou sua concentração para sua irmã que não perdeu tempo ao dizer:
-Irmão, fale comigo. Ou o gato comeu sua língua?
…
Naquela noite o jantar foi especial, não por ser um dia de comemorações, por ter convidados especiais e, obviamente, não por ser uma outra refeição em família. A rainha não repetiria a dose tão cedo. Assim, devido ao desastre do almoço, Alicent Hightower não tentou outra reunião familiar. Todos comeram em seus quartos, com exceção da princesa Aegony que não tocou na refeição que levaram para ela no quarto de sua mãe.
Mas, mesmo com a ausência de motivos para ser considerado uma refeição especial, algumas pessoas teriam seus pratos premiados. Refeições requintadas e excêntricas lhe seriam servidas, mesmo que aparentemente sejam iguais a qualquer outra.
A comida servida seria uma ave suculenta acompanhada por batatas e cenouras, assim como uma deliciosa sopa com carne seca e legumes. Uma refeição comum que faria nobres, membros da família real e pessoas de alto escalão se deleitarem com a melhor comida que os cozinheiros da fortaleza vermelha podem oferecer, sem desconfiarem que, dentre eles, alguns receberam surpresas em seus pratos. Um golpe de sorte fruto de um rápido truque de troca de tigelas de sopa enquanto as refeições eram montadas em bandejas específicas, cada uma para uma pessoa diferente.
Dentre os sortudos, poucos indivíduos estavam diretamente ligados à princesa Rhaenyra, os únicos dignos de nota eram o Comandante da Patrulha da Cidade, Sor Harwin Strong, e o príncipe Jacaerys Velaryon. Fora essas exceções, a maioria dos sortudos era constituída por membros de famílias nobres ou funcionários de alta patente pertencentes à facção da rainha, como por exemplo, a Septã Morgane, as damas de companhia da rainha Alicent, suas aias, Sor Criston Cole e, é claro, a própria rainha.
As paredes da fortaleza vermelha possuem olhos e ouvidos e as fofocas começariam assim que os escolhidos reagisse. O príncipe Jacaerys vomitou todo o conteúdo do seu estômago e gritou desesperado, ele passou a noite toda tendo pesadelos. Já a reação de Sor Harwin não foi nada emocionante, ele devorou a sua sopa como um homem faminto e pediu que lhe fosse servida outra porção, com mais daquela carne dura, mas gostosa.
As damas de companhia da rainha desmaiaram em seus aposentos ou passaram mal e as aias da rainha - sendo de classe social mais baixa, elas já viram muitas coisas na vida e já comeram de tudo - apenas largaram suas tigelas e ficaram claramente enojadas.
Ninguém duvidou quando disseram que a Septã Morgane ficou verde de nojo e se dirigiu ao Septo gritando de pavor, se jogou no chão de pedra e fez suas orações chorando. Seus gritos implorando por misericórdia ao Estranho reverberaram por todo o Septo.
Sor Criston Cole gritou como uma menininha assustada, sendo motivo de riso e deboche de todos os mantos brancos e dourados. Não existia um único lugar na fortaleza em que o escudo juramentado da rainha não ouvisse cochichos e risadinhas abafadas.
No que diz respeito à rainha Alicent Hightower, ela resolveu comer o frango primeiro e somente em seguida provou sua sopa. O caldo era de um marrom escuro e extremamente denso, assim que a colher pousou em sua boca, a rainha se deliciou com os temperos e a carne seca desfiando na boca. Ela continuou comendo até provar um pedaço de carne diferente, a textura era mais macia e estranhamente viscosa, desfazendo-se em uma estranha massa amarga e com um leve azedume. Um arrepio passou por seu corpo e ela pegou mais um pouco do caldo para disfarçar o sabor, provavelmente era alguma carne seca mais antiga, ela teria que providenciar que os cozinheiros servissem apenas comidas frescas. Mas, pensando que foi apenas um golpe de má sorte, ela continuou a comer, determinada a não desperdiçar a comida que a Mãe os deu.
Aproveitando seu tempo sozinha, a rainha lia cartas enquanto terminava sua refeição. Totalmente alheia ao que estava na colher que levava o alimento até a sua boca.
Em uma colherada, ela levou um grande pedaço de carne a boca enquanto lia uma carta da Cidadela. Ela se contorceu quando outro pedaço estranho torturou seu paladar, mas era diferente do outro. Essa carne era mais firme e elástica, como um grande nervo amargo. Com uma mastigação firme, a carne cedeu sob a pressão dos dentes e outro sabor lhe veio a boca, a rainha sentiu um gosto metálico que a levou a cuspir em um guardanapo.
Um pedaço claro de carne, parecido com pele de porco a cumprimentou no guardanapo, era cheio de relevos, partes mais altas e outras pequenas com uma borda levemente arredondada. Furiosa a rainha procurou em sua sopa por mais pedaços estranhos. Definitivamente os cozinheiros ouviriam sua indignação.
Ela coletou alguns e conforme os analisava, seu rosto se contorceu de pavor conforme ideias passavam pela sua cabeça. Mas assim que encontrou pedaços praticamnete inteiros no fundo da tigela, ela gritou de horror. Os guardas invadiram seus aposentos e encontraram a rainha chorando aterrorizada no lado oposto da sala. Ao olharem a mesa, ficaram chocados ao ver o que pareciam orelhas e língua humanas.
Os olhos e ouvidos por trás das paredes se sentiram muito felizes com tanto caos.
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BE A DRAGON - Aemond Targaryen
FanfictionO anjo do reino nasceu. Muitos duvidaram que sor Laenor Velaryon cumpriria com seus deveres conjugais, até que ele cumpriu e Rhaenyra deu à luz a sua primogênita. A princesa Aegony Targaryen é uma jovem doce que possui como principal objetivo curar...