01- lista(R)

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Entrando em seu quarto, Percy fechou a porta atrás de si e respirou fundo. A sensação de estar ali, no passado, ainda parecia surreal. Caminhou até a escrivaninha, ajeitou os óculos no rosto e pegou um pedaço de papel. Com a pena na mão, escreveu a primeira coisa que veio à mente:

• Salvar Fred

Essa era sua prioridade. Mas como? Ainda faltava tanto tempo até aquele fatídico dia... Ele não precisava fazer mais do que impedir seu irmão de estar no lugar errado, na hora errada. Mas, nesse momento, Percy sentiu-se pequeno. Ele era uma criança agora, sem a força e a experiência de seu eu adulto. Ou será que ainda possuía essa força?

Com um olhar desconfiado, virou-se para a cama e viu um livro ali. Hesitante, levantou a mão e tentou algo que nunca fizera sem uma varinha. Para sua surpresa, o livro começou a flutuar, mas caiu antes de chegar até ele. A magia funcionava, mas de forma estranha, mais forte e ao mesmo tempo descontrolada. Percy voltou à escrivaninha e escreveu:

• Treinar minha magia

Ele precisava dominar aquela força antes que perdesse o controle. Seu corpo jovem parecia fraco demais para conter o poder que carregava. Olhando-se no espelho, sentiu-se desconfortável com a própria aparência. Estava magro, frágil... não era assim que se lembrava de si mesmo. Quando tinha 15 anos, ao menos havia ganhado um pouco de corpo, mas agora parecia um galho seco, pequeno e vulnerável.

Sentou-se novamente, pensativo. Estava de volta à época em que iria para Hogwarts. Será que deveria agir como o Percy tímido e reservado do passado ou mostrar a todos o quão fácil aquilo era para ele agora? Ele sabia que, se chamasse atenção, levantaria suspeitas, mas... talvez quisesse isso. Talvez fosse um pouco de carência... ou apenas uma necessidade de se sentir no controle, de provar algo.

Percy se perdeu em pensamentos sobre o futuro. Audrey... Suas filhas... Será que sentiam sua falta? Ele havia escondido tão bem seus sentimentos durante tanto tempo, mas Audrey sempre sabia o que ele estava pensando, sempre o ouvia, tentando aliviar o peso que ele carregava. Suas filhas, tão diferentes de si, ambas na Sonserina... Ele sempre se perguntara se as criara da maneira certa. Uma lágrima escorreu por sua bochecha, e ele a limpou rapidamente com a manga do pijama. Não era hora de se entregar a esses pensamentos. Não agora.

Pegou a pena e anotou outra tarefa:

• Ir à sessão proibida da biblioteca de Hogwarts

Percy nunca tivera a oportunidade de visitar aquele lugar quando era mais jovem. Agora, com todo o conhecimento que possuía, poderia descobrir muito mais. Ele imaginava como entraria sem ser notado, mas isso poderia esperar. Mais uma ideia veio à mente:

• Pegar o diário de Tom

Ele se lembrava vagamente de quando Gina havia encontrado o diário de Voldemort. Aquela memória o incomodava, mas agora, sabendo do perigo que o objeto representava, ele estava determinado a pegá-lo antes que causasse mais problemas. Ele não sabia como Gina havia conseguido o diário, mas faria de tudo para impedir que ele a controlasse.

Percy então se recostou na cadeira, refletindo sobre os eventos que viriam. A Câmara Secreta, o Basilisco, Harry... Poderia ele ajudar de alguma forma sem alterar drasticamente o curso da história? Era muita responsabilidade para uma mente que já estava sobrecarregada com tantas lembranças e arrependimentos. Escondeu suas anotações debaixo do colchão, como se tentasse esconder de si mesmo a realidade do que estava acontecendo.

Levantando-se, ele arrumou a cama, um hábito automático que nem sabia por que estava fazendo. Ninguém viria ao seu quarto, ninguém se importaria com sua organização. Mas ali estava ele, tentando manter o controle sobre algo, qualquer coisa.

Ao trocar de roupa, Percy olhou-se novamente no espelho. O cabelo cacheado estava bagunçado, e ele precisava dar um jeito nisso, mas... precisaria de dinheiro. Lembrou-se de uma loja no Beco Diagonal que vendia artefatos trouxas, incluindo produtos para cabelo. Talvez lá ele conseguisse algum creme para seus cachos.

Voltando ao presente — ou melhor, ao passado — Percy observou o calendário. Sabia que sua mãe já havia comprado seus materiais escolares, todos de segunda mão. E, por algum motivo, ela não deixara que ele ficasse com sua varinha. Talvez pelo medo de que ele se tornasse como Bill e Charlie, que haviam causado confusão quando tinham suas varinhas em mãos. Mas Percy não era como eles... era diferente. Ou, pelo menos, costumava ser.

Agora, sentia-se preso entre o garoto que fora e o homem que havia se tornado, lutando para equilibrar sua determinação com a melancolia que sempre carregou. Afinal, estar no passado era uma oportunidade de redenção... mas também um lembrete doloroso de tudo o que havia perdido.

TRAIDOR-PERCY WEASLEY Onde histórias criam vida. Descubra agora