Prólogo

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Pov Wednesday

Eu inspirei fundo, no momento em que meu par de Jimmy Choo, em preto fosco, tocou suavemente o chão acimentado do estacionamento da W&A e abandonei a minha BMW, me certificando de que o carro estava fechado.

Me obriguei a arrumar a Chanel em meus braços e segui para dentro de minha gravadora. Os meus passos eram firmes e a expressão que eu carregava era amarga, implementando em mim uma postura ainda mais ameaçadora.

Conforme eu passava pelos corredores, percebia a agitação entre toda a equipe, como se uma tensão se instalasse sobre o ambiente. Os mesmos sempre mudavam seu comportamento perante minha presença.

Apenas revirei os olhos, ignorando os demais, e rumei para a minha sala, surpreendendo-me ao encontrar meu advogado, minha melhor amiga e um fiscal da imigração americana.

- Bom dia? Eu posso ajuda-los? -perguntei, forçando-me a dar um sorriso de simpatia.

- Senhorita Addams, suponho que se lembre de sua última viagem a negócios para Londres? -Rowan, meu advogado, se pronunciou, mantendo uma pose centrada e mansa.

- Claro! Era uma oferta imperdível! Certamente um dos melhores contratos que eu consegui! -respondi a pergunta, mesmo sentindo que ela havia sido um tanto retórica, e arqueei as sobrancelhas em curiosidade.

- Então Wed, o processo do seu visto americano estava em andamento, sendo assim, você teoricamente não poderia deixar o país! -Divina explicou em um tom calmo e pleno, mas eu a conhecia bem o suficiente para notar o quão apreensiva a Watson estava.

Inconscientemente eu franzi o cenho, não apreciando o rumo da conversa, e analisei o inspetor com um olhar severo e quase crítico. O mesmo ainda não havia se pronunciado, todavia, fazia algumas anotações em sua prancheta.

- Perdão, podem ir direto ao ponto? -pedi, disfarçando minha impaciência e recebendo uma expressão preocupada da Watson, o que principiou um nervosismo irritante em meu interior.

- O governo americano negou seu visto, senhorita Addams! -o fiscal se manifestou pela primeira vez e eu perdi o fôlego, não sendo capaz de procesar suas palavras de modo veloz- ademais, você vai ser deportada em poucas semanas! -ele complementou sem se importar com o meu estado e guardou sua caneta em seu terno, pronto para deixar a minha sala.

- Espere! -pedi com certo desespero, o impedindo de sair- você não pode fazer isto! -sentenciei firme, buscando não ser rude, e ele arqueou as sobrancelhas, como quem estava quase zangado com minha atitude desafiadora.

- E por que eu não poderia? -indagou curioso, entretanto, antes que eu pudesse pensar em qualquer defesa ou sequer responder, sutis toques soaram e minha porta foi delicadamente aberta por Enid Sinclair.

- Oh! Eu sinto muito, de verdade! -a maior pediu completamente envergonhada e retraida- minha intenção não era interromper vocês! -se explicou com afobação, preparada para sair, antes me fitando de modo culposo. E por ironia do destino, quando meus castanhos se fixaram em seus azuis, uma ideia insana despertou em minha mente.

- Enid e eu estamos prestes a nos casar! -revelei indelicadamente, surprendendo a todos ali presente, mas em especial, a Sinclair- me desculpe, meu amor! Eu sei que não pretendíamos contar sobre nossa relação neste momento, mas eu fui obrigada! -expliquei de forma doce e estendi minha mão para ela, em uma ordem muda para que ela se aproximasse.

A mesma fixou seus azuis em meus castanhos e percebendo a minha ameaça velada, engoliu a seco e deu um sorriso gentil, acatando o pedido por pura e espontânea pressão, antes de entrelaçar nossos dedos.

- Senhor, deixe-me lhe apresentar minha noiva! Enid Sinclair! -aleguei, fingindo ânimo, e o fiscal não demorou a estender sua mão para cumprimentar a outra.

- Senhorita Sinclair, você possui conhecimento sobre fraude ser um crime, certo? -o homem questionou desconfiado e ela concordou de imediato, enquanto eu apertava sua mão com mais força, descontando meu nervosismo.

- Eu definitivamento sou completamente apaixonada por Wednesday, senhor! Afinal, se eu a pedi em casamento, certamente foi por a amar genuinamente! -sentenciou sua mentira e me encarou, com um sorriso ladino, que claramente era um pedido por explicações.

- Isto foi muito fofo, babe! -a elogiei, forçando um suspiro encantado, e deixei um beijo longo em sua bochecha- sendo sincera inspetor, o nosso amor foi meio acidental e repentino! E ele não deveria acontecer, mas não conseguimos evitar! -expliquei mansa, sendo precisa nas palavras que usei, e fincando minhas unhas no dorso de Enid, que concordou consecutivas vezes e me abraçou pelos ombros.

Eu agradeci em meu interior, aliviada pela americana estar colaborando com meu teatro e mantendo a personagem. Entretanto, possuía a plena convicção de que estava devendo boas respostas a Divina, mas principalmente a Enid.

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