In the void... (Itafushi)

Light up - 07

- ...eu me lembro que, quando eu estava no quinto ano de treinamento, eu consegui fazer a minha primeira possessão. Eu fiquei tão feliz... Eu confesso que não tinha certeza se eu conseguiria fazer, mas deu tudo certo. - Megumi contava, deixando seus olhos se perderem no espaço ao lembrar de cada detalhe da história. 

Sentado ao lado do moreno, Yuji ouvia cada palavra, observando o rosto de Fushiguro como se fosse a coisa mais bela que já vira em toda a vida. Já devia estar na posição de ouvinte há quase vinte minutos, mas adorava os momentos em que Megumi se permitia contar algumas vivências e compartilhar algumas coisas que geralmente guardaria apenas para si. Itadori imaginou que tivesse sido difícil para o moreno crescer tantos anos naquele domínio, escondido do mundo e praticamente privado de conhecer outras pessoas de sua idade... Mas Megumi parecia estar tão bem e tão à vontade naquele momento... 

Novamente, os dois dividiam a varanda, agora sentados no parapeito e próximos um do outro. Suas mãos estavam próximas, mas ainda não se tocavam. Os cães de Fushiguro passeavam livremente por onde bem entendessem, mas era de se esperar que nenhum dos garotos estivesse mais prestando atenção neles. Estavam ocupados demais se distraindo com aquela calmaria e aproveitando aquele momento à sós. 

- Deve ter sido tão legal... - Yuji comentou, vendo como o moreno sorria ao se lembrar. - Eu queria ter estado aqui 'pra ver. 

- Ah, você ia achar bobo, com certeza... - Fushiguro desviou o olhar, um pouco tímido e com o rosto quente. 

- Eu não acho nada do que você faz bobo. - o rosado afirmou, atraindo de volta o olhar do mais novo. - Na verdade... A cada história que você me conta, e a cada coisa que eu descubro sobre você, eu só consigo perceber o quanto você é incrível. 

Fushiguro sentiu seu coração bater forte. Aquela sensação estranha estava ameaçando se fazer presente de novo... O moreno recuou por nervosismo e suas mãos se afastaram um pouco mais. 

- Ah, para... Você só está dizendo isso 'pra eu não me sentir mal... - Megumi desviou os olhos, se perdendo um pouco nos pensamentos depreciativos: - Eu mal comecei o quinto círculo, não consigo passar um único dia sem usar magia, e, não importa o que eu faça, o Nanami sempre diz que minha magia é descuidada e intensa demais... 

- Megumi. - Yuji interrompeu, tomando a mão do moreno junto da sua. O mais novo se surpreendeu com aquilo e se voltou ao rosado novamente, dessa vez um pouco mais sem jeito e sem saber muito bem o que viria a seguir, mas o tom de voz calmo e reconfortante de Itadori o ajudaram a se acalmar. O mais velho seguiu: - Eu acho que você acaba se cobrando demais por conviver com feiticeiros mais experientes. E aí, você acaba se desvalorizando e esquecendo de todas as coisas que você e a sua magia podem fazer, mas... - ele começou a se aproximar, deixando com que as palavras saíssem de um jeito mais baixo e arrastado. - ...eu posso te garantir que tudo o que vem de você é simplesmente incrível, Megumi... A maioria das pessoas nem sonha em fazer o que você faz. 

- Yuji... - o moreno sentia um pouco de receio, mas não conseguia se impedir de se aproximar. Seus olhos agora miravam os lábios de Itadori, observando sua beleza e a forma como eles se moviam. Queria tanto beijá-lo... 

- Megumi... Eu posso? - o rosado perguntou, apenas aguardando por uma palavra e pela garantia de que seria aceito. Seus rostos estavam tão próximos que Fushiguro já se sentia tentado só por conta do cheiro de Itadori. 

Suas mãos já seguravam uma à outra, seus narizes quase se tocavam... Era extremamente tentador, e seria apenas questão de tempo até que o momento chegasse a acontecer. Megumi tinha certeza de que queria beijar o rapaz em sua frente. Mais do que qualquer coisa. 

- Pode... - foi a última palavra a ser proferida naquele diálogo. Depois daí, não demorou praticamente nada até que Yuji avançasse os poucos centímetros que separavam seus lábios e colocasse um fim naquela distância. 

Os dois fecharam os olhos, dando início a um beijo calmo do qual ambos precisavam e desejaram secretamente durante as últimas noites. A mão de Fushiguro ganhou lugar no rosto de Itadori, tocando-o com todo o carinho enquanto ansiava que aquele momento nunca chegasse ao fim. 

Itadori se entregou completamente. Não sabia descrever o que era, mas sentia como se aquele fosse o lugar do qual sempre pertencera. Já havia dado outros beijos mais intensos e talvez até mais emocionantes, mas nenhum deles nunca o deixara daquela forma. Já não tinha mais dúvidas: estava completamente apaixonado por Megumi. 

Talvez fosse loucura se sentir assim a respeito de um rapaz que havia acabado de conhecer, mas não havia dúvidas de que era aquilo que queria. A calmaria, o toque gentil e consensual tão querido por ambos... A madrugada estava linda. E repleta de beijos, sorrisos, elogios, carinhos e pequenos amores. Tudo estava bem. 

Ou pelo menos parecia estar.

[continua...]